sexta-feira, 19 de julho de 2013

AGUARELAS

                                                                                            


AGUARELA

A aguarela foi uma técnica utilizada na Idade Média nas iluminuras dos manuscritos (juntamente com o ovo),que cai em desuso com o aparecimento do óleo,reaparece na Renascença(Durer, Pisanello,Holbein e outros ), mas são os paisagistas ingleses do século XVIII que irão popularizar esta técnica – Tuner e Cotman designadamente , na forma como hoje ainda a praticamos . Conhecem-se aguarelas egípcias do II séc. AC ilustrando os livros sagrados .
O seu nome vem do italiano aquarello , que significa cor diluída em água .
Os pigmentos são aglutinados pela goma arábica à base de resina de acácia ou eucalipto,
de mel , de glicose ou de glicerina ( as de menor qualidade ) .
É uma técnica difícil de dominar , não permite o erro , exige precisão do gesto e da pincelada , rapidez de execução , paciência e conhecimentos . Ao contrário do óleo e outras técnicas  na aguarela o desenho adquire grande importância .O dissolvente é a água e a aguarela fascina pela sua transparência , frescura , intensidade das cores , o jogo de matizes e súbtis e finas graduações de cores. Não há branco , o branco do papel seu suporte ideal e quase exclusivo é o branco da aguarela . É este branco que transparece debaixo das cores que dá a luminosidade tão específica da aguarela .A evolução industrial e técnica  da química veio pouco a pouco substituindo os pigmentos de origem vegetal , animal ou mineral por pigmentos sintéticos , alargando a gama de cores , a permanência e a estabilidade das mesmas .

AS CORES
Existem várias e boas marcas no mercado . Independente da marca as aguarelas ditas artistas e as extra-finas são as de melhor qualidade , existindo também as finas e as de estudo . As aguarelas são apresentadas em godets ou em tubos . Os godets podem ser de porcelana , metal ou plástico ( os mais baratos e de menor qualidade ) . Para manter a humidade da pasta as cores em godet vêm embaladas dentro de caixas de madeira , metal ou estojos de cartão para melhor conservação . As cores em tubo têm um maior grau de humidade e o facto de se fecharem após o uso garante melhor conservação .Nas caixas metálicas as tampas servem de paleta para misturar as cores . Pode-se comprar caixas destas vazias e colocar lá a selecção de cores que mais nos convenha .
Após usar as cores em godet é bom limpar estes com papel absorvente e fechar bem a caixa e a manter afastada de fontes de calor para não detiorar as cores .
Hoje em dia existem também aguarelas em potes e tubos, como a Karat Liqua da Staedtler , de grande qualidade , usadas mais pelos ilustradores mas que são excelentes aguarelas .
Outro material são os lápis aguarela , de várias marcas e em caixas que vão de 12 a 120 cores . Os lápis aguarela podem ser utilizados como uma técnica autónoma ou servirem para técnica mista com a aguarela .
Hoje em dia existem feltros à prova de água , tintas da china especiais e feltros aguarela usados por muitos artistas .
Em relação à teoria das cores o uso destas e as misturas são no fundamental semelhantes ao óleo . Embora não seja corrente a aguarela pode ser utilizada em técnicas mistas com as ceras , pastel a óleo e mesmo com o acrílico . A aguarela também é utilisada por alguns aguarelistas em pinturas ao aerógrafo .
A aguarela é a arte da transparência , existindo naturalmente cores mais transparentes do que outras .
Transparentes – Terra de Siena Natural , Azul Ultramar , Magenta , Áureolina ;
Opacas –Terra de Sombra Queimada , Verde Óxido de Crómio , Amarelo Nápoles , Ocre , Cerúleo ,Vermelho Cádmio , Vermelhão , Amarelo Cádmio ;
Grande poder colorante  - Terra de Siena Queimada , Alizarina , Amarelo Cádmio , Azul Phtalo ;
Pouco poder colorante – Verde Esmeralda , Terra de Sombra Natural , Ocre Amarelo .
                                                                                                                                                                                          O  SUPORTE
O suporte por excelência da aguarela é o papel especial feito expressamente para a pintura a aguarela .
Existem quatro tipos de papel – acetinado , fino , rugoso e muito rugoso ou torchão . Os acetinados e os de grão fino acentuam o brilho e a transparência mas dificulta a saturação da cor , mais difícil de trabalhar , em particular na técnica a húmido para dominar o controlo da aguarela . O rugoso permite que um picel bem embebido na cor cubra grandes superfícies e um pincel com pouca tinta , seco ou semi-seco , deixe transparecer as covas das rugosidades . O torchão não absorve totalmente a tinta , esta não vai até ao interior da folha , é absorvente só na superfície . O torchão possibilita  belas aguarelas mas é igualmente difícil de trabalhar , exige grande prática da aguarela .
Aconselha-se que o papel não seja inferior a 300 gr., pois nesse caso terá de sere fixado com fita adesiva de ph neutro , para não criar bolsas ou encarquilhar .A partir de 400gr é considerado  papel cartão e com 600 gr e mais oferece uma grande estabilidade .O papel fabrica-se a partir de tecidos de linho ( o de melhor qualidade ) , de algodão ou misto de algodão e linho .
Aparece no mercado papel de fibra de madeira e sintéticos que não são bons para a aguarela , não garentem a homonegeidade necessária a esta técnica .
O papel de aguarela pode ser feito manualmente ou em máquinas , sendo o artesanal de muito melhor qualidade .
O papel aguarela tanto se pode comprar em folhas como em blocos , existem as mais variadas dimensões . Pode-se comprar folhas grandes e cortar no tamanho que mais nos convenha .
Um aspecto importante é o de que o papel de aguarela deve ter ph neutro , isto é sem acidez , para não alterar a cor da tinta e no futuro não degradar o trabalho .

MÉDIOS
Tal como para as outras técnicas a aguarela possui vários tipos de médios . Alguns exs. :
-       goma arábica – melhora a coesão e a aderência , aumenta a transparência e a profundidade das cores . Deitar uma a duas gotas na água limpa do recipiente que serve para tirar a água para dissolver as cores (depende do tamanho do recipiente ) . Quando se fez uma grande quantidade de cor uma gota ajuda à coesão da tinta ;
-       glicerina – uma gota na cor evita as escamas , melhora a flexibilidade e a densidade ;
-       Fiel de Boeuf – facilita a aderência , designadamente no papel Tourchon ;
-       máscaras – chama-se máscara à técnica que consiste em proteger o branco do papel com um produto que impeça a tinta de manchar essa área e que , depois de seca a tinta , se possa retirar o produto deixando a descoberto o branco do papel . Os materiais mais usados são a goma de borracha , a cera branca e o pastel a óleo branco ou a glicerina que repelem a água defendendo a área que se quer proteger ;
-       granulados – existem uns produtos no mercado que dão corpo à aguarela que depois de seca fica com aspecto rugoso .Serve para muros rústicos ,terrenos etc ;
-       máscaras transparentes – produto que dado sobre o branco do papel e depois de seco permite pintar por cima dando maior transparência , ou dado sobre a tinta seca permite que a nova camada deixe ver a inferior . Serve para dar efeitos especiais , transparência a zonas de água etc ...
-       verniz – protege a aguarela que é muito sensível à luz e tem tendência a esmaecer quando exposta a luz intensa . Os puristas condenam o uso do verniz que dizem fazer perder a frescura e a espontaneidade .
-       TÉCNICAS                                                                                                          Os puristas da aguarela só aceitam a tinta , o papel e o pincel , recusam tudo o resto.A controvérsia é grande e antiga sobre esta questão , mas a verdade é a de que a aguarela como técnica difícil que é vive de muitos expedientes e truques e nada impede de inovar no bom sentido, sem desvirtuar o espírito e a essência da aguarela.
É uma questão de escolha e método pessoal .
Na aguarela pintar sempre do claro para o escuro .Escurecer só por velaturas após as outras passagens estarem bem secas . Evitar dar mais de três passagens , a aguarela perde frescura e transparência . Não esquecer que o branco do papel é que dá luminosidade às cores .
Desenhar préviamente o tema da aguarela , de forma leve a lápis ou lápis aguarela , quer antes de molhar o papel ou aplicar a cor . O desenho é um indicativo , não se deve impor à cor . Também se pode desenhar com a própria aguarela , mas neste caso a tinta deve estar bem diluída .
As técnicas de base mais comuns são quatro : pintar a seco sobre seco , húmido sobre húmido , seco sobre húmido e pincel seco .
Evitar a húmido sobre seco pois existe o perigo de manchar e alterar as cores . Na aguarela as cores a húmido têm uma intensidade maior que se atenuam quando secas. Importante experimentar a cor num papel separado antes de a aplicar para ver se o tom é o pretendido quando seca .
A aguarela vive muito do branco do papel pelo que é fundamental reservar os brancos e os brilhos desde o princípio através de máscaras . Dominar a tinta de forma a que esta não invada a zona que queremos que fica branca , caso não se recorra à máscara , exige uma técnica muito apurada e grande experiência .
Não se devem multiplicar os brancos , em princípio recomenda-se só um branco puro central ( depende do trabalho , mas muitos brancos roubam expontâneidade à aguarela ) .
Deve-se pintar com o papel ligeiramente inclinado , ajuda a dominar e a controlar o movimento da tinta . Caso se pinte com blocos o problema está resolvido . Se a folha é solta quer seja a aguarela a seco quer a húmido ( depois de a molhar ) , deve ser fixa com fita adesiva não ácida a um suporte rijo , cartão forte ou contraplacado . Isto impede a folha de inchar e deformar .
A aguarela é água , um lavis , evitar por isso encharcar o pincel e procurar estender a pintura . Caso a superfície a cobrir seja grande a tinta no pincel deve estar de acordo com a área .
Frottis – é possível com o pincel quase seco ;
Aplat – da esquerda para a direita , de cima para baixo , com muita tinta e quando chegar ao fim da folha seguir no sentido inverso (direita para a esquerda ) , invertendo sempre o movimento até cobrir a zona que se pretende absorvendo com o pincel o excesso de tinta no final ;                                                                   Velaturas – são como filtros , pedem intensificar a cor ou ter cores diferentes da inicial , por ex. um azul sobre amarelo dará um verdoso . As cores com menos poder colorante e as mais transparentes são melhores para os glacis . A Alizarina desde que bem diluída dá boas velaturas ;
Lavis – é uma técnica que consiste em realizar uma agurela sem cor . Regra geral são feitos à base de terras .  
Certos pigmentos como o cobalto , as terras , o azul ultramar , devido à sua densidade/peso anicham-se bem às concavidades do papel e produzem um efeito granuloso que se pode explorar para dar efeitos .


TRUQUES
Para absorver e criar espaços mais ou menos brancos usar papel absorvente , algodão , esponja ou um pano absorvente . Por ex. para obter efeitos de nuvens , a pressão maior ou menor retira mais ou menos tinta .
Se deitarmos sal sobre a tinta quando húmida produz manchas e efeitos . Retirar o sal quando a tinta secar .
Esponja húmida de cor sobre seco , por ex. para imitar folhagem . O secador de cabelo para acelerar a secagem da aguarela .
Pode-se dar efeitos de raios de luz com lápis branco ou giz . Lixívia diluída a 50% na água come a cor e dá brancos . Cuidado para não abrir buracos no papel .
Raiando com o cabo do pincel sobre húmido ficam traços . Por ex . para caules ,ervas , pequenos troncos .
Uma lâmina de barba , um canivete ou mesmo uma lixa abre brancos ,por ex. reflexos na água , velame ou ramos .
Uma escova de dentes para salpicar uma zona . Um vaporizador para humedecer uma zona , ou com cor para borrifar e dar efeitos de textura .
Um papel não absorvente para friccionar e obter texturas . A terebentina sobre húmido produz efeitos .
Fio ou etiqueta para marcar ou preservar uma área .
Tunner , um dos maiores aguarelistas , pintava as costas do papel em certas zonas para acentuar essas partes .

OS PINCÉIS
Os pincéis para a aguarela têm várias formas e tamanhos conforme o uso a que se destinam .Os de pelos naturais são os melhores mas existem sintéticos de boa qualidade.
As características fundamentais são a suavidade ,flexibilidade,elastecidade,a capacidade esponjosa de absorver/reter bastante tinta .
Oa de pelos de marta combinam todas estas qualidades e tanto servem para os largos aplats como para finos traços . Os petits-gris , de pelos de esquilo , são excelentes e bons para os lavis . Os de pelos de Putois igualmente bons para os lavis , usados para molhar o papel devido à boa absorção de água , para fundos e dégradés . Os pincéis de Oreille de Boeuf servem para molhar o papel , fundos e céus .
Os sintéticos gastam-se mais depressa e por isso misturam pelos naturais para melhorar a absorção de água e a resistência . Da qualidade e quantidade dos pelos misturados depende a qualidade do pincel .
Pincéis mais largos , tipo spalter , em petits-gris ou sintéticos , são usados para cobrir grandes zonas de cor .
As sedas de porco servem para misturar cores e , devido à sua rigidez , para os frottis .
Quando se pinta a aguarela devemos ter dois recipientes com água , um para ir lavando os pincéis e outro com água limpa para dissolver as cores . Alguns aguarelistas só usam um para tudo pois afirmam que a água dos pincéis ao dissolver as cores harmonizam estas enriquecendo o trabalho . Necessário lavar regularmente os pincéis com água morna e sabão , apertar e sacudir para que não percam a forma e a ponta , guardar com os pelos  voltados para cima .

Para as máscaras usar pincéis velhos ou baratos , proteger mesmo assim os pelos com sabão e lavá-los de seguida . 

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