OS PROPRIETÁRIOS
A denúncia da Almargem ilustra bem a
situação que vivemos no Algarve e não só. Mais uma vez é uma organização
ambientalista que vem denunciar publicamente uma nova negociata em curso à
custa do nosso património ambiental, com o consentimento de quem deveria zelar
pela defesa dos nossos bens e património, como por exemplo a Região
Hidrográfica. Em terrenos da Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Rede Natura
2000, 70 hectares estão nas mãos de uma empresa turística finlandesa que aqui
pretende plantar um olival “biológico”, mas não satisfeitos com isto ainda
ocuparam ilegalmente dezenas de hectares de 80 agricultores.
Estamos em campanha eleitoral, mas não
se ouviram os partidos levantar a voz contra isto, nem as autarquias ou a AMAL?
Hoje encontramo-nos numa situação
estranha. O Reino do Algarve desde o Tratado de Badajoz de 1267, há 746 anos,
ficou definitivamente incorporado no Reino de Portugal e, desde então, a serra,
o barrocal e o litoral foram nossos, e se os administramos mal foi e é um
problema também nosso. Mas começamos a ter de viver num local deixado pelos
nossos antepassados mas propriedade de outros, já não podemos andar por onde
queremos. Aqui nascemos, agora trabalhando muitas vezes para estrangeiros, tendo
de emigrar em grande número para sobreviver, pagando o que consumimos a
chineses, angolanos, alemães, ingleses etc. Somos hóspedes na nossa própria
casa. Ainda há dias um presidente (como diria o Octávio Machado, sabem de quem
estou a falar! não sabem?), em mais uma das suas “promessas” acenava com um
investimento americano na Ponta da Areia. É o mercado, dizem. Precisamos de
investimentos estrangeiros para desenvolver o país. Mas para investir exigem
que nos paguem menos pelo mesmo trabalho, que a educação já não possa ser
universal assim como a saúde, que cortem no orçamento do Estado as verbas
destinadas às funções sociais para que o excedente vá parar às suas mãos
transformado em lucro que, por sua vez, sairá do país.
Contam com os cúmplices portugueses
desta vilania, desde os postos mais importantes a nível governativo e do
aparelho do estado até a sabujos presidentes de junta. É um facto. No dia 29 de
Setembro vamos eleger certamente muitos desses cúmplices que mal se apanharem
no poleiro se transformam em proprietários
do concelho, não para trabalhar em favor dos cidadãos que os elegeram, mas para
se apoderarem do património concelhio para o venderem a retalho a interesses
especulativos nacionais ou estrangeiros, desviando as verbas dos nossos impostos
para bolsos de amigalhaços políticos e partidários, endividando as câmaras sem
qualquer pejo, ameaçando e perseguindo quem se lhes opuser, ignorando as mais
elementares regras democráticas, usando meios camarários em seu benefício
pessoal, comprando o silêncio da imprensa com os “subsídios e publicidade da
traição”, corrompendo através de esmolas disfarçadas de apoios sociais. A regra
é tudo a favor do privado e destruição de tudo o que é público.