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sábado, 28 de janeiro de 2012

VERDADES DE SEMPRE!

Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.
António Aleixo

 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

COISAS DO PASSADO PARA NÃO ESQUECER






LIBERDADE!

Nos meus cadernos de escola
Nesta carteira nas árvores
Nas areias e na neve
Escrevo teu nome

... Em toda página lida
Em toda página branca
Pedra sangue papel cinza
Escrevo teu nome

Nas imagens redouradas
Na armadura dos guerreiros
E na coroa dos reis
Escrevo teu nome

Nas jungles e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No céu da minha infância
Escrevo teu nome

Nas maravilhas das noites
No pão branco da alvorada
Nas estações enlaçadas
Escrevo teu nome

Nos meus farrapos de azul
No tanque sol que mofou
No lago lua vivendo
Escrevo teu nome

Nas campinas do horizonte
Nas asas dos passarinhos
E no moinho das sombras
Escrevo teu nome

Em cada sopro de aurora
Na água do mar nos navios
Na serrania demente
Escrevo teu nome

Até na espuma das nuvens
No suor das tempestades
Na chuva insípida e espessa
Escrevo teu nome

Nas formas resplandecentes
Nos sinos das sete cores
E na física verdade
Escrevo teu nome

Nas veredas acordadas
E nos caminhos abertos
Nas praças que regurgitam
Escrevo teu nome

Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Em minhas casas reunidas
Escrevo teu nome

No fruto partido em dois
de meu espelho e meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo teu nome

Em meu cão guloso e meigo
Em suas orelhas fitas
Em sua pata canhestra
Escrevo teu nome

No trampolim desta porta
Nos objetos familiares
Na língua do fogo puro
Escrevo teu nome

Em toda carne possuída
Na fronte de meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo teu nome

Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Bem acima do silêncio
Escrevo teu nome

Em meus refúgios destruídos
Em meus faróis desabados
Nas paredes do meu tédio
Escrevo teu nome

Na ausência sem mais desejos
Na solidão despojada
E nas escadas da morte
Escrevo teu nome

Na saúde recobrada
No perigo dissipado
Na esperança sem memórias
Escrevo teu nome

E ao poder de uma palavra
Recomeço minha vida
Nasci pra te conhecer
E te chamar

Liberdade!

[Tradução de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira do poema Liberté de Paul Éluard, In R. Magalhães Jr., Antologia de Poetas Franceses]

sábado, 8 de outubro de 2011

OUTRO POEMA DE TRANSTROMER

LISBOA

No bairro de Alfama os eléctricos
      amarelos cantavam nas calçadas íngremes,
Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.
Acenavam através das grades.
Gritavam que lhes tirassem o retrato.

"Mas aqui", disse o condutor e riu à
       sucapa como se cortado ao meio,
"aqui estão políticos". Vi a fachada, a
       fachada, a fachada
e lá no cimo um homem à janela,
tinha um óculo e olhava o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde perguntei a uma
        senhora de Lisboa:
"será verdade ou só um sonho meu?"

FUNCHAL - POESIA DE TRANSTROMER, PRÉMIO NOBEL 2011

Tomas Tranströmer: Prémio Nobel da literatura 2011
FUNCHAL

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca,
construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim
as rajadas de vento do mar.
Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa
dois peixes, segundo uma antiga
receita da Atlântida. Pequenas explosões de alho.
O óleo flui nas rodelas do tomate. Cada dentada diz-nos que
o oceano nos quer bem,
um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos
as agrestes colinas floridas,
sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais,
bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas
coisas juntos, lembramo-nos disso, momentos em que
de pouco ou nada servíamos (por exemplo, quando esperávamos
na bicha para doarmos sangue ao saudável gigante –
ele tinha prescrito uma transfusão).
Acontecimentos, que nos poderiam ter separado, se não nos tivessem
unido, e acontecimentos
que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras. Pedras claras e escuras. Pedras de
um mosaico desordenado.
E agora mesmo acontece: os cacos voam todos na mesma direcção,
o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ilumina o quarto de hotel,
um design, violento e doce,
talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.

Ao entardecer, saímos.
A poderosa pata azul escura da meia ilha jaz expelida sobre o mar.
Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados, amigavelmente,
suaves controlos,
todos falam, fervorosos, na língua estranha.
“ Um homem não é uma ilha “

Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de
nós mesmos. Por meio daquilo que
existe em nós e que o outro não consegue ver. Aquela coisa
que só se consegue encontrar
a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula
contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante
que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce.
Um livro que só no escuro se consegue ler.

Tomas Tranströmer
tradução de Luís Costa

quarta-feira, 6 de julho de 2011

RECORDAÇÕES DE TEMPOS SEM SAUDADES

BAMUTIM TANGO

espalhados nas camas de lona, duras,
os soldados dormem ou pensam.
lembram humanas caricaturas.
na tosca mesa, debruçados
sobre sebentas cartas,
jogam quatro com gestos cansados.
os que dormem - em poses abandonadas,
rostos macerados, olheiras profundas
por nocturnas vigílias prolongadas,
acordarão partidos, alquebrados.
a noite é mais doída, mais profunda,
e como é amarga a saudade
dos soldados de Bamutim ou Varacunda!
a sentinela vacila, errando passos ao luar,
olhar atento, pensamento longe, perdido!
para ele esta paisagem não é bela
e o que faz não tem sentido!
no escuro, isolados,
os outros dormem desassossegados,
ou voltam-se inquietos, mordidos
por percevejos, mosquitos e sentimentos.
de manhã, vão, de pé,
numa viatura,
aos solavancos,
beber um esquálido café!

Remexendo em velhos papéis encontro, 50 anos depois, este esquecido poema, feito em Damão, Estado Português da Índia, 1961,quando comandava o posto fronteiriço de Bamutim, pouco antes da "invasão" indiana.

domingo, 22 de maio de 2011

POEMA ADEQUADO AO MOMENTO

Poema de agradecimento à corja
Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade
de vivermos felizes e em paz.
Obrigado
pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem
dignidade.
Obrigado por nos roubarem. Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar
as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono. E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
quem temos de rejeitar.
Joaquim Pessoa
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

QUADRA DE ANTÓNIO GEDEÃO

FECHO OS OLHOS POR INSTANTES
ABRO OS OLHOS NOVAMENTE
NESTE ABRIR E FECHAR DE OLHOS
JÁ TODO O MUNDO É DIFERENTE



O que é permanente no mundo é a mudança, coisa que o nosso Camões bem retratou com o mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, todo o mundo é composto de mudança, e que Gedeão bem sintetizou nesta quadra.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

POEMA DE ARMINDO RODRIGUES

QUEM PENSE E NÃO AJA
CONFORME AO QUE PENSA
FAZ AOS MAIS OFENSA
E A SI PRÓPRIO ULTRAJE
BEM HAJA, BEM HAJA
QUEM O MEDO VENÇA

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

ACTUAL ESTA POESIA

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

domingo, 2 de janeiro de 2011