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segunda-feira, 14 de maio de 2018

O OUTRO LADO DE ISRAEL




    Forças israelitas matam 37 palestinianos na Faixa de Gaza
Mais de 900 manifestantes da Marcha do Retorno ficaram feridos. Já morreram mais de 80 pessoas desde que começaram estes protestos, há seis semanas.
14 de Maio de 2018

 Número de palestinianos mortos sobre para 41

De acordo com os serviços de saúde palestinianos, o número de manifestantes mortos nesta segunda-feira subiu já para 41.
                                                                                                                                           Setenta anos depois, os jovens não esqueceram
É em cima desta memória, que é o seu pecado original, que o Estado de Israel está construído.
14 de Maio de 2018
Carlos Almeida

No dia 7 de Fevereiro de 1948, Ben-Gurion, à época presidente da Agência Judaica, visitou Lifta, uma vila nos arredores de Jerusalém cuja população fora expulsa pela acção das milícias sionistas. No regresso, reflectindo sobre o alcance daquelas operações militares, partilhou os seus pensamentos com o Conselho Central do seu partido:

“Quando cheguei agora a Jerusalém, senti que estava numa cidade judaica [...]. É verdade que nem toda a Jerusalém é judaica, mas existe já nela uma zona judaica: quando se entra na cidade, através de Lifta e Romema (...) – não há árabes. Cem por cento de judeus [...]. Se continuarmos, é realmente possível que nos próximos seis ou oito meses existam mudanças consideráveis no país, muito consideráveis, e a nosso favor.” [1]
Ben-Gurion sabia do que falava. Nos meses seguintes, perto de 800 mil pessoas foram expulsas das suas casas e terras – o equivalente a cerca de 90% da população do território que o plano de partilha da Palestina consagrado na resolução n.º 181 da Assembleia Geral da ONU, de 29 de Novembro de 1947, atribuía a um futuro Estado judaico – 531 povoações foram destruídas, 11 áreas urbanas totalmente esvaziadas de população. Desde os finais de 1947 e durante pouco mais de um ano, a Palestina foi varrida por uma tempestade de destruição, mortes e atrocidades pontuada por massacres como os de Balad al-Shaykh, Deir Yassin, Ayn al-Zaytun, Tantura, Dawaymeh.
É em cima desta memória, que é o seu pecado original, que o Estado de Israel está construído. O sonho de um território etnicamente limpo está no coração do projecto sionista e é ele que orienta a política do Estado de Israel desde a sua constituição, seja pela expulsão da população ali residente há gerações, seja pela acção de um aparelho político, jurídico e militar que segrega e discrimina a população palestina, reduzindo-a a uma condição de sub-existência. Yosef Weitz, o homem forte do todo-poderoso Fundo Nacional Judaico, escreveu-o com cristalina clareza no seu próprio diário no dia 20 de Dezembro de 1940: “A única solução é uma Terra de Israel (...) sem os árabes. Não há espaço aqui para compromissos.” [2]
A propaganda de Israel glosa à saciedade a figura da vítima indefesa, ameaçada desde o seu nascimento, lugar de refúgio vital e derradeiro de uma história de perseguições e sofrimentos de que os crimes do nazismo foram a expressão mais radical e violenta. Mas nenhuma das declarações de dirigentes sionistas aqui reproduzidas foi proferida depois de 15 de Maio de 1948. E a maior parte dos crimes aqui evocados ocorreu bem antes dessa data.
A generalidade das potências ocidentais viu no sionismo a solução para a sua “questão judaica”. Kishinev, Auschwitz, Buchenwald não são lugares na Palestina, mas foi para lá que uma estranha e duradoura aliança entre o anti-semitismo, os interesses imperiais das potências ocidentais e o movimento sionista projectou a solução para tal problema. Foi essa aliança que inventou o mito da terra sem povo para um povo sem terra. A declaração do secretário britânico Arthur Balfour, proferida no dia 2 de Novembro de 1917, assegurando o apoio do Império Britânico à consumação do projecto sionista referia-se à população da Palestina como “colectividades não-judaicas”, e cem anos depois, na cerimónia que evocou aquela data, Theresa May voltaria a repetir aquela mesma expressão. Mas até alguns dos primeiros sionistas que visitaram a Palestina no último terço do século XIX sabiam como era falsa essa lógica que reduzia a população da Palestina à condição de negativo, sem identidade própria, nem relação com a terra que habitava e onde tinha as suas raízes.
Em 1988, no Conselho Nacional reunido em Argel, a OLP ofereceu ao mundo a possibilidade de uma solução política para a questão palestina, naquela que foi a primeira e mais dolorosa concessão feita até hoje em todo este processo. Abdicando de 78% do seu território, muito mais do que os 56% que a resolução n.º 181 da ONU atribuía ao Estado de Israel, o povo palestino reclamou o seu direito a constituir um estado livre, independente e soberano nos territórios ocupados em 1967: margem ocidental do rio Jordão, faixa de Gaza, Jerusalém Oriental.
Contudo, o processo de Oslo – tornado possível à custa exclusiva do sacrifício histórico da decisão da OLP – só trouxe a intensificação da campanha de limpeza étnica e segregação da população palestina, com a expansão imparável dos colonatos, a construção do Muro de separação, a multiplicação da malha decheckpoints e da rede de infra-estruturas que servem apenas os colonos, a repressão brutal e indiscriminada e o bloqueio criminoso a Gaza. Com a complacência, a cumplicidade ou o apoio activo das grandes potências, o território da Palestina outrora administrado pelo Mandato Britânico foi submetido, de facto, a uma ordem segregadora, um Estado policial e racista, um verdadeiro regime de apartheid. No passado dia 1 de Maio, com a aprovação no Knesset da nova lei de nacionalidade, foi colocada uma nova pedra nesse edifício. Com ela, Israel dispensa até o qualificativo de “democracia”: estado confessional, exclusivo para os seguidores de uma religião, em qualquer parte do mundo onde vivam, é tudo quanto lhe basta. 
E uma vez mais, o mundo silencia a ignomínia. Os Estados Unidos da América anunciaram o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Assim como a extrema-direita racista e xenófoba no poder em Israel dispensa até um simulacro de democracia, também Trump se isenta da observância do direito e da legalidade internacional. Convém não esquecer: Jerusalém é terra duplamente ocupada, contra a resolução n.º 181 da ONU, à sombra da qual Israel reclama a sua existência como Estado, e contra a resolução n.º 242, que considera ilegal a ocupação dos territórios tomados pela força em 1967. As potências europeias são cúmplices deste estado de coisas, caucionando o insulto norte-americano, ou legitimando a lógica segregacionista de Israel, ao ponto de, em alguns casos, criminalizar até o exercício democrático da crítica à política dos governos daquele país.
Setenta anos volvidos, entretanto, os descendentes dos que foram mortos ou expulsos das suas casas naqueles anos de 1940, ou depois durante a campanha de ocupação total da Palestina, em 1967, mostram ao mundo, da forma mais singela e dramática, que, ao contrário do que Ben-Gurion chegou a imaginar, muitos velhos terão morrido, mas os jovens não esqueceram. Na coragem e determinação com que enfrentam as patrulhas do exército israelita dispostas como verdadeiros pelotões de fuzilamento ao longo da Faixa de Gaza, na dignidade com que suportam as humilhações diárias, com que defendem cada oliveira, cada centímetro de terra, ao mesmo tempo que afirmam a sua condição de palestinos, transformam em carne viva a pergunta lancinante de Mahmoud Darwish: “Senhoras e senhores de bom coração, a terra dos homens é mesmo de todos os homens? Onde está então o meu casebre?” Nas suas vozes, o passado e a memória faz-se presente e promessa de futuro.
[1] Gershon Rivlin e Elhanan Oren, The War of Independence: Ben-Gurion’s Diary, Tel-Aviv, Ministry of Defence, 1982, pp. 210/211, citado por Ilan Pappe, The Ethnic Cleansing..., p. 68
[2] Diário de Josef Weitz, 20.12.1940, citado por Benny Morris, The Birth of Palestinian Refugee Problem Revisited, Cambridge University Press, 2004, pp. 53/54
Vice-Presidente do MPPM – Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente

domingo, 9 de outubro de 2011

LIMPAR A PORCARIA RELANÇANDO A ECONOMIA

O Jornal do Algarve desta semana traz uma reportagem intitulada “Olhão cidade dos grafíti”.
Há gostos para tudo, mas a partir das macacadas que vemos nas paredes filosofar sobre elas para considerar que Miguel Ângelo (e o seu trabalho na Capela Sistina), é um precursor dos “graffiteiros” é uma tese mais que ousada.
Estender tais filosofias aos frescos de Pompeia e, pasme-se, às gravuras das grutas de Altamira dado que “este impulso de alguns seres humanos tentarem perpetuar expressões artísticas em rocha ou em murais, vem de longa data”.
Isto é uma ofensa aos trogloditas, pois considera-se que as coisas horrorosas que borram as paredes são “expressões artísticas” que os vândalos que as fazem pretendem “perpetuar”.
Considera-se na tal reportagem que estas “obras”  “valoriza a paisagem urbana”.
Tenta-se estabelecer uma diferença entre “grafitteiros” e “pichadores”, estes sim “sujadores” de paredes, e nega-se que os estranhos arabescos omnipresentes por todo o lado sejam “um convite à violência e à arruaça”. Mais, até “conquistaram o estatuto de Pop Arte”.
O que tem a ver o que se vê por este país fora com, por exemplo, esta pintura da foto acima numa parede de Bruxelas?
Filosofia por filosofia aqui vai a minha politicamente incorrecta.
Nós os portugueses temos de reconhecer que o nosso civismo no espaço público é fraco ou inexistente, não é agradável dizer isto, mas é a verdade.
Hoje sejam “grafitteiros” ou “pichadores” nada deixam sem a sua assinatura. Ainda se fossem coisas com alguma beleza e sentido, mas o que se vê é vandalismo do mais puro e demonstrativo que dentro daquelas cabeças há um perigoso vazio cultural. O país vem sendo desfigurado de forma organizada e persistente há décadas, sem que ninguém levante a voz, seja o PR, os governos, os partidos por cobardia de perderem votos, as escolas, a imprensa etc.
As mais horríveis “pichagens” invadem paredes de casas novas e velhas, muros e muretes, vedações, tabiques, placas de toda a espécie, sinais de trânsito, pontes, viadutos, caixas de electricidade, bocas-de-incêndio, escolas e universidades, bancos de jardim, escadarias, comboios, estações ferroviárias e viárias, salas de espera, lojas e mercados, edifícios do estado e municipais, estádios, palácios e pardieiros e, mais grave ainda, não se respeita monumentos nacionais por mais significativos que sejam para a nossa memória e vida colectiva.
Não se consegue olhar para qualquer lado sem que uma dessas demonstrações de pobreza cívica nos entre pelos olhos, elas estão tanto na periferia como no centro das urbes.
Num país que ética e moralmente bateu no fundo aumenta a sensação de desconforto ver que fisicamente também está abandalhado. É triste viver em Portugal.
Quantos milhares de horas gastaram estes “artistas” a destruir a imagem do país? Quantos milhões de euros foram gastos em tintas, pincéis, “sprays”, rolos etc. ?
É agora usual dizer que uma crise também é uma oportunidade para se melhorar. Então tem o governo a possibilidade de lançar um programa nacional para a recuperação da imagem do país, limpar a cara, alindar as vilas e cidades, plantar árvores, florir ruas e praças, remover o lixo acumulado, promover a cidadania, e a par disso relançar a economia.
Utópico? Talvez! Caso ousassem seria uma iniciativa inédita, barata, criadora de trabalho, um choque cultural e social benéfico, um tónico moral para a nossa auto-estima.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CRISES E DIFERENÇAS

Desde 1986, ano em que entramos na UE, até hoje, data deste post, Portugal recebeu mais de 72 mil milhões de euros em ajudas europeias. Em 2012 estão previstos entrar mais 629 milhões. 
É dinheiro, se juntarmos mais 25 orçamentos de estado desde 86 é caso para perguntar como foi possível chegar a este montante inconcebível de dívida pública e privada, a tão desastrosa situação económica e financeira?
Temos o Estado endividado, as regiões, as câmaras, a banca, as empresas e as famílias, tudo junto ultrapassa os 300% do PIB, a riqueza produzida num ano.
A incompetência e a irresponsabilidade chegaram a tal ponto, como na Madeira com uma dívida de 8 mil milhões de euros, sem que o Banco de Portugal nada tenha feito, o PR nunca sobre essa calamidade disse uma palavra, os vários ministros da economia e das finanças coniventes com o regabofe e o PSD calado incapaz de meter na ordem o ditadorzinho.
Para pagar a dívida bruta (soma da pública e privada), era necessário que toda a riqueza produzida em Portugal nos próximos três anos fosse totalmente destinada a pagar a dívida.
Como tal é impossível vamos ter crise para muitos anos e não temos condições de a pagar se a mesma não for renegociada, os prazos alongados, os juros diminuídos e incentivado o investimento para criar riqueza e trabalho.
Claro que a direita que está no poder, a mais dura ideologicamente que tivemos, está a aproveitar a desculpa da troika para destruir os amparos sociais do Estado, privatizar tudo e criar um exército de trabalhadores sem direitos dispostos a trabalhar por salários escravos. Está a empurrar milhões de portugueses para a pobreza, para a infelicidade e a uma vida sem esperança. Pior, é notório que o faz conscientemente e com prazer.

domingo, 28 de agosto de 2011

OS RICOS AGORA GRITAM - TAMBÉM QUEREMOS PAGAR A CRISE! É COMOVENTE.


Ricos encenam, povo paga

Cresce no seio do povo o sentimento de que a sociedade está mais injusta e que é acelerado o empobrecimento. Os ricos e poderosos já perceberam que esta situação pode tornar-se perigosa e procuram travar o seu desenvolvimento. A este propósito transcrevo o que afirma o relatório à conferência anual (Junho) da Organização Internacional do Trabalho (OIT): "O sentimento de injustiça, que não se iniciou com a crise, mas que a crise ampliou em grande medida, agudiza-se. Os que, com toda a razão, se sentem menos responsáveis por ela estão pagando um preço muito alto. Os que, com toda a razão, são considerados responsáveis por a terem provocado não parecem estar muito afectados, nem dispostos a reverem o seu comportamento, com o objectivo de evitar que ela se repita".
É oportuno relembrar que, desde há muito, a OIT releva como causas do prolongamento da crise três factores: os accionistas dos grandes grupos financeiros e económicos estão a, em nome da crise, apoderar-se dos lucros das empresas limitando o investimento (privado e público); a retribuição do trabalho está a diminuir (em termos absolutos ou relativos); a precariedade está a aumentar aceleradamente.
Nas últimas semanas, surgiram nos EUA e na Europa alguns ricos "preocupados" com a injustiça fiscal a disponibilizarem-se para pagar mais qualquer coisa e, em vários países, inclusive em Portugal, desencadeou-se uma discussão sobre o tema. Trata-se de uma atitude que importa analisar, aproveitando para desencadear discussões e propostas com conteúdo e eficácia.
Aqueles ricos - cujas fortunas são feitas em grande parte a partir de processos especulativos, de vantagens obtidas junto dos poderes que lhes permitem saques aos orçamentos do Estado e aos bens dos povos, de uma exploração desmedida de quem trabalha nos mais diversos cantos do Mundo - querem lavar a face e lançar umas "pinceladas de justiça" sobre o edifício da exploração capitalista que deve continuar como está.
No meio deste movimento pode haver alguma alma altruísta. Há sempre excepções. Contudo, no nosso país até vimos o contrário, pois apareceram logo ricos a reclamar a sua condição de trabalhadores, numa expressão do mais profundo egoísmo e conservadorismo.
Encontre-se forma de as grandes fortunas pagarem. Mas não pode ser mais um imposto sobre o rendimento (aí já temos), tem de ser sobre a riqueza e, em particular, sobre o património mobiliário. E não esqueçamos que o corte no 13.º mês significa mais de mil milhões de euros retirados a grande parte de quem trabalha.
Passemos, entretanto, à discussão das medidas de fundo que é preciso adoptar.
O país precisa, não de esmolas pontuais dos ricos, mas sim de: i) um sistema tributário justo e progressivo que seja efectivamente aplicado; ii) utilização de parte significativa da riqueza para novos investimentos com vista à criação de emprego e à produção de bens e serviços úteis ao desenvolvimento; iii) um conjunto de medidas que garanta melhor distribuição e redistribuição da riqueza; iv) valorização do trabalho, reconstruindo o seu lugar na economia.
A forma mais segura e eficaz de evitar o aprofundamento das desigualdades, as injustiças e a riqueza desmedida de alguns é garantir dignidade ao trabalho, remunerações justas e um Estado Social universal e solidário.
É preciso executar políticas que assegurem eliminação da fraude e evasão fiscais, taxação dos movimentos bolsistas, combate aos paraísos fiscais (em Portugal desde Janeiro de 2010 já fugiram para lá 3,5 mil milhões de euros sem pagar um cêntimo de impostos), englobamento da riqueza para que cada português pague impostos de acordo com o que possui, combate à economia paralela que movimenta por ano cerca de 30 mil milhões de euros, reformas no sistema de justiça que não permitam a legalização do roubo a que assistimos todos os dias.
Reforce-se a protecção social e os rendimentos dos mais necessitados, actualize-se o SMN, melhorem-se os salários e efective-se a contratação colectiva (importante instrumento de combate às desigualdades e de justa distribuição da riqueza), impeça-se a revisão da legislação laboral que visa embaratecer e desproteger o trabalho.
Por aqui é possível construir uma sociedade mais justa.
Esta posição que divulgamos é de Carvalho da Silva, esclarecedora e oportuna face à súbita compaixão pelos pobres revelada por alguns dos maiores especuladores mundiais.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

CONFESSO QUE O NOSSO PRESIDENTE TEM A CAPACIDADE DE ME SURPREENDER

Ao ler o JA do dia 18 deste mês fiquei espantado com a quantidade de promessas que são feitas para o nosso concelho. Algumas já requentadas pois são apresentadas pela nona ou décima vez. Mas dá para pensar se nos recordarmos de outras não cumpridas e várias vezes anunciadas.
Vamos olhar para as referidas promessas.
A Câmara tenciona criar uma unidade hoteleira no Complexo Desportivo, e a minha pergunta é :ONDE?
Se é no complexo significa que mais área da Mata vai ser sacrificada, temos o direito de saber se é mesmo isso que se pretende.
A Câmara tenciona instalar a tão já famosa clínica de reabilitação cubana no Complexo Desportivo, e continuo a perguntar: ONDE?
Não vejo outra possibilidade senão em área da actual Mata. Ora um hotel e uma clínica naquele espaço vai exigir acessos, locais de parqueamento etc.
Passo a passo continuamos a constatar que se pretende mesmo delapidar o património ambiental de VRSA.
Mais, a Câmara vai instalar um hotel de charme(?) distribuído por vários edificíos da Praça Marquês de Pombal. Nada contra um hotel, espero é que se respeite o património pombalino e não se venha a verificar letreiros de charme cor de rosa nas fachadas do tal hotel.
Nas tais notícias do JA vem referido que a Câmara aprovou um novo plano para definir as regras de ocupação do espaço público na AVª da República, parece que a pedido de "um grupo de comerciantes".
Afinal o crime compensa. Deixaram primeiro instalar as esplanadas contrariando o estipulado no Regulamento Municipal, depois correm a fazer um novo regulamento à medida da amizade e do tipo de esplanada feita,o qual ainda não foi à Assembleia Municipal nem saiu no Diário da República, portanto sem validade mas já em execução.
Fantástico.Agora, segundo palavras do Presidente, "qualquer restaurante pode criar uma esplanada igual à que já está instalada", podendo ocupar os lugares de estacionamento. Assim é que é democracia.
Dificuldade em estacionar?, nem pensar, pois "a autarquia pretende criar um silo de estacionamento, precisamente para colocar mais lugares à disposição de quem pretende estacionar"
Isto é que é saber programar o futuro. Primeiro acabam com os estacionamentos e depois vá estacionar no pretende.
A propósito, será que já alguém emprestou à Câmara os 50 milhões de euros que necessita?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

EXTREMISMOS

Tudo anda mais ligado do que parece. Estamos a referirmos ao que se passou em Oslo e o que se está a passar em Washington.
Na Noruega um fanático que anda agora a ser analisado politicamente, e pela sociologia, a psiquiatria e a psicologia, com ódio religioso profundo aos muçulmanos e aos estrangeiros de cor, assassina não estes, mas num acto terrorista noruegueses de esquerda por serem os responsáveis, segundo ele, pela sociedade multicultural europeia actual.
Para ele o Durão Barroso é um perigoso esquerdista a abater.
O extremismo e terrorismo muçulmano que temos infelizmente conhecido baseia-se nos mesmos "valores", ódio aos cristãos e guerra santa contra a sua influência que, segundo eles, anda a destruir a sociedade islâmica.
Nos EUA encontramos o mesmo fanatismo religioso ligado ao Partido Republicano, nos estados profundos dos USA, no seu conservadorismo, nos extremistas do Tea Party, no racismo que ainda perdura.
Estamos a assistir a um ataque, diria "terrorista", ao Obama, por ser negro, democrata e com família muçulmana. O Partido Republicano quer derrotar Obama a todo o custo, mesmo que isso conduza os EUA a uma situação gravíssima com consequências pesadas para a economia mundial.
Quem diria que no SEC. XXI a religião ainda tivesse tanta influência negativa e dramática na vida dos povos, com  guerras e actos terroristas em nome dos deuses.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

RATINGS E LIXO

A agência de rating Moody´s classificou a dívida portuguesa como lixo. Até Cavaco, que dizia que não se devia criticar os mercados, veio a público criticar a Moody´s.
Logo no momento em que o novo governo se esfalfa para mostrar a sua aplicação e obediência aos interesses dos ditos mercados, mais, até para provar que a sua "determinação" vai muito para além do que a Troika exige, aproveitando a boleia para privatizar sectores estratégicos nacionais.
Isto não se faz! É assim que o capital agradece?
As 3 principais agências de rating americanas, que dominam em 90% este tipo de análise e informação especulativa sobre os países e as empresas, foram elevadas a vacas sagradas para orientação dos mercados pelo neoliberalismo do Reagan.
Regem-se pelos seus próprios critérios, e são estes que contam. A UE, o Banco Central Europeu, o FMI ou o Banco Mundial podem afirmar que este país ou aquele banco estão bem e recomendam-se, mas se os seus índices não se enquadram nos critérios das ditas agências nada feito, estas ignoram olímpicamente as outras opiniões e classificam-nos como muito bem entendem, indiferentes às tragédias que provocam.
O curioso é que estas agências não vivem do ar, impuseram-se de tal maneira que são pagas para semear desgraças. O governo português pagou o ano passado qualquer coisa como 11 milhões de euros, e vários bancos portugueses são seus clientes.
Os governos da UE são coniventes com estas agências, falam muito para esconder precisamente que tais "decretos-lei" promulgados por elas, servem às mil maravilhas os mercados para ir destruindo a sociedade de bem-estar construída após a IIGM.
Em 2008, com o rebentar da crise, surgiram as primeiras declarações de alguns governos e da Comissão Europeia de ameaças entre dentes aos mercados, aos off-shores etc. Estamos a meio de 2011 e onde estão as medidas que correspondessem a tais "bocas"? Nada, tudo como dantes.
Em Dezembro de 2009 foi denunciado pelo Gabinete para a Droga e a Criminalidade da ONU que cerca de 352 biliões de dólares provenientes do lucro da droga, tinham sido injectados e absorvidos pelo sistema económico, salvando bancos do colapso. Dito isto é mais fácil perceber que o crime compensa e os off-shores não serão encerrados, o poder político convive bem com estas actividades criminosas. Caso quisessem era tão fácil fechar os ditos...
O mesmo para as agências de rating, bastava que o Conselho de Ministros das Finanças da UE, o ECOFIN, declarasse que a partir deste momento os 27 da UE deixavam de pagar a estas agências, assim como os bancos centrais, e que as suas "análises" deixavam de ser consideradas, e as ditas ficavam em maus lençóis.
Nem a tão falada agência europeia de rating foi concretizada, se alguma vez o for, o que seria a forma soft de tentar combater as moodys.
Sim o lixo existe, e é fácil perceber onde está, no casamento despudorado entre os interesses do mercado e os poderes políticos. Algumas centenas de pessoas em sofisticados escritórios mandam no mundo, rindo-se das "democracias" e dos seus representantes eleitos democraticamente.

domingo, 3 de julho de 2011

GOSTEI DESTE ARTIGO DA SÃO JOSÉ ALMEIDA, POR ISSO O DIVULGO

Passos Coelho levou ao Parlamento tem uma clara orientação neoliberal e propõe-se ir mais longe nesse caminho do que aquilo que a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional impuseram como condição para libertarem o empréstimo de 78 mil milhões de euros que concederam a Portugal e que será pago com juros. O primeiro-ministro anunciou, aliás, um imposto extraordinário – de que não falara na campanha eleitoral –, o qual vai diminuir o rendimento dos portugueses e ultrapassa as medidas exigidas pela Comissão Europeia.
A expectativa é grande, a confiança parece ser imensa e há uma espécie de ingenuidade desassombrada em relação à forma como o novo Governo vai conduzir os portugueses a uma espécie de terra de leite e mel. As intenções de transformar o país em algo que o identifique e torne aceite pelos considerados melhores proclamam-se e há uma espécie de fé cega e de crença inebriante entre os apoiantes do novo poder de que agora o paraíso na terra será revelado.
Num acrítico e quase absoluto clima de fé, toma-se como viável o regresso a soluções de organização social que representam uma regressão civilizacional no que contém de entrega do domínio sobre a sociedade à economia privada e do abandono do papel neutro do Estado como regulador da vida social. E que surgem como uma regressão ao que, na construção de Estados reguladores desde o século XVIII, na Europa, é defendido por várias correntes quer da esquerda quer da direita.
Assim, embarca-se cada vez mais na lógica da privatização de sectores económicos centrais e até garantes de soberania como os transportes e a água. E retorna-se ao Estado assistencialista que começou a ser abandonado ainda dentro do Estado Novo pelos governos de Marcello Caetano e que foi erradicado pelo 25 de Abril. A lógica da esmola e do pobre como indivíduo diferente e menor que precisa de ajuda substitui a lógica do Estado-providência que redistribui riqueza, colectada através dos impostos, de forma igualitária e garantindo o igual tratamento de todos os cidadãos.
O clima de fervor e convicção, que se vive no poder e nos seus apoiantes e clientelas, contrasta com a ausência de expectativas de melhoria em grande parte da população que está na iminência de ver a sua qualidade de vida e o seu poder de compra baixar ainda mais e descer de forma drástica a patamares de difícil sobrevivência. E parece certo o destino a que leva o programa de acção política e ideológica feita pela troika para obrigar Portugal a aderir e a cumprir as directivas neoliberais que orientam a União Europeia.A obsessão seguidista que domina o PSD, o CDS e o PS não dá sequer espaço para que ninguém se questione sobre a utilidade e o futuro que está implícito no caminho apontado pela Comissão Europeia e pelo Governo português. Não só à luz de conceitos tidos como centrais em democracia, como é o caso da justiça social. Mas também naquilo a que esta receita e estas soluções têm conduzido a Europa e o mundo ocidental em geral. E há até uma espécie de censura sobre quem ousa questionar. Como se isso pusesse em risco a soberania nacional – conceito que precisa urgentemente de redefinição. Será que Portugal acaba se não cumprir as imposições de Bruxelas? Será que alguém acredita mesmo que não há outro caminho, que não há alternativas, como propagandeiam os neoliberais? Será que o país se extingue se for expulso do euro? Será que o euro, tal como existe, tem futuro? Será que alguém acredita que o futuro é o presente imutável e que o curso da história acabou?
Estas dúvidas assolam-me não só perante a convicção de fé que transparece da opinião dominante em Portugal, mas também ao observar que, na mesma semana em que o Governo português proclamava a sua vontade de ser um bom aluno da Comissão Europeia, no Parlamento grego o Governo da Grécia aprovava medidas propostas pela Comissão Europeia. Só que na Grécia a história vai mais adiantada, leva já um ano de medidas draconianas de redução de qualidade de vida e de poder de compra. Impressiona-me que, em Portugal, se fale dos gregos como relapsos e como uma espécie de maus europeus, enquanto ninguém se questiona sobre a falta de solidariedade para com a Grécia e os outros países em crise por parte dos Estados-membros. A verdade é que os gregos sofrem há um ano na sua vida quotidiana o efeito das medidas impostas pela Comissão Europeia, as quais, pelos vistos, não levaram a grande resultado, pelo que se impõem agora mais sacrifícios à população grega, que se manifestou nas ruas e fez mais uma greve geral.
Os gregos – tal como os portugueses – continuam absolutamente dependentes dos empréstimos dados pelas empresas financeiras e bancárias que estão transformadas no novo “Senhor da Mundo” e que ditam regras aos governos. Mas que ninguém elegeu. Por mais que as populações da Grécia se manifestem na rua exigindo aos políticos – que elegeram para o Parlamento e que era suposto representá-los – que defendam os seus interesses, a verdade é que o poder governamental na Grécia obedece ao poder da Comissão Europeia. Tal como o Governo agora eleito em Portugal.
Mas a Comissão Europeia, não haja ilusões, age de acordo com as directivas imbuídas da nova lógica política da direita dominante na Europa, que leva à sagração do lucro como princípio máximo. E esquece o interesse das pessoas que, em democracia, é suposto os governos representarem. Ou seja, esquece que, em democracia, o soberano é o povo e que este é o sistema de governo do povo (demo+kracia). Foi por isso que a resposta que os cidadãos gregos receberam foi balas de gás.
Olhando para a Grécia, e para o que se passa na Europa, há uma questão que não deixa de me preocupar. Há mesmo um novo conceito de política e de governação na Europa? O que é hoje a democracia? Será que a história regressou à lei do mais forte e à lei da bala? Jornalista

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AINDA AS AGÊNCIAS DE RATING

Há dias, no "comentários e opiniões 42", nos referimos a esta questão. Hoje, no Público (26,Domingo), vem um extenso trabalho que informa e esclarece o que são estas agências e o que as move, cujo editorial que transcrevemos é uma síntese desse trabalho.
No início da crise, em 2009 principalmente, ouvimos vários governos ameaçar estas agências com maior controlo e nova regulementação, acabar com os off-shores etc.
Tudo ficou na mesma ou pior e os mercados continuam a rir-se dos governos e a economia a ditar a política. No final do ano passado os gestores da Moody´s foram aumentados escandalosamente sobre as ruínas que causaram em cerca de 70%, um deles chegou aos 157% de aumento. Os mercados pagam bem a quem bem os serve sem escrúpulos dessa coisa chamada ética e moral.
Até agora só um grupo de corajosos advogados espanhóis meteu um processo contra as três principais agências americanas, acusadas de manipularem os mercados ao serviço dos seus interesses.
Em Portugal quatro economistas e professores universitários pediram um inquérito às mesmas agências e o Departamento Central de Investigação e Acção Penal abriu uma investigação.
Nos próprios EUA foi denunciado por deputados de uma comissão que investigaram as referidas agências que elas "foram influenciadas por empresas de Wall Street para dar boas avaliações a créditos hipotecários e fizeram isso por dinheiro"
O cúmulo da ironia é que o Estado português e vários bancos pagaram nove milhões de euros às ditas agências para que estas os classificassem como lixo.
A Grécia afunda-se e empobrece, Portugal está na calha etc., mas não se vê da parte da UE, do BCE ou dos governos um assomo de coragem e dignidade na defesa dos seus cidadãos contra estes abutres.
Qual a razão?



quarta-feira, 22 de junho de 2011

EMPRÉSTIMOS A SUFOCAR E DÍVIDAS POR COBRAR

O escândalo dos pretendentes a juízes serem apanhados no copianço num exame e passarem todos com nota 10, com o incrível argumento de que era complicado arranjar outra data para novo exame, só veio a ser corrigido por ter sido publicamente denunciado.
Moral da estória, caso não se soubesse estava tudo bem.
Não parece mas isto anda tudo ligado. Portugal tem neste momento uma dívida de 158 mil milhões de euros, causa vertigem este número. Experimentem dividir 150 mil milhões por 10 milhões de portugueses e ficam a saber quanto cada um de nós deve.
Pois, mas temos 128.000 acções de cobrança nos tribunais paradas há mais de 18 meses.
Caso fossem recuperadas teríamos 20,8 mil milhões de euros, que davam bastante jeito e eram suficientes para relançar a economia sem precisar de ajuda externa para esse fim.
A chamada troika exige uma auditoria a esta situação escandalosa de atrasos e quer ver tudo resolvido durante o primeiro semestre de 2013.
Com juízes de copianço não vamos lá.

domingo, 19 de junho de 2011

GRÉCIA E EUA

A SEC, uma autoridade americana que fiscaliza e regula os mercados de capitais, está a investigar as tristemente famosas agências de rating Standard & Poor´s e a Moody´s, para apurar até que ponto elas estão na base do subprime e da crise.
Segundo a SEC estas agências ao atribuírem notas inadequadas aos chamados produtos tóxicos cometeram fraude e "potenciaram a crise financeira mundial".
Recordamos que um dos bancos que veio a falir na sequência destas vigarices, o  Goldman Sachs, foi consultor do governo de direita grego que aldrabou as contas com a sua ajuda.
São estas mesmas agências que dão notas a Portugal, à Grécia etc., e que fazem subir ou descer os juros da dívida, num jogo especulativo que dão lucros fabulosos aos "mercados", e ao mesmo tempo colocam países e milhões de pessoas em dificuldades quando não na pobreza.
Mas o jogo começa a ser arriscado, a situação na Grécia resvala para sair de controlo e explodir, metendo em perigo a existência da Zona Euro e o FMI veio a público avisar que as previsões para a economia dos EUA têm de ser revistas em baixa, e a Grécia está a ameaçar o sector financeiro mundial devido à exposição dos bancos europeus que irão afectar todo o sistema para além da Europa, empurrando os EUA para uma forte recessão.
Foi neste quadro que assusta que se compreende o recuo da Srª Merkel na reunião com Sarkozy, o que certamente será confirmado na Cimeira da UE dia 23.
Talvez o medo consiga dos "mercados" o que o bom senso não obteve, pois caso a Grécia colapse totalmente arrasta Portugal, a Irlanda e outros para a falência e os credores nada receberão.
A Grécia está a ser a cobaia que decidirá o que nos vai acontecer ou não.

domingo, 12 de junho de 2011

EXEMPLO EXEMPLAR

A Islândia, pequeno país, com menos população do que o Algarve, tem demonstrado nesta crise imposta pela gula capitalista uma grande dignidade e corajem. Quem nos dera que isto fosse contagioso, os políticos têm de ser responsabilizados pelos seus actos, não só políticamente mas também criminalmente quando favorecem interesses que prejudicam gravemente a sociedade.


sexta-feira, 10 de junho de 2011

DIVULGAMOS UM TEXTO DO BLOGUE PELA DEMOCRACIA QUE ACHAMOS OPORTUNO

Surpreendido pelo súbito activismo do presidente da República, que começou bem cedo na manhã de segunda-feira, o Comité Central do Partido Comunista Português, pela voz de Jerónimo de Sousa, veio denunciar, logo na terça, o atropelo das normas constitucionais que regulam o processo de nomeação do novo Governo, anunciando que não hesitará em recorrer ao Tribunal Constitucional para garantir o respeito da Lei Fundamental. A vigorosa advertência do PCP, desta vez endereçada ao próprio presidente, o que não é vulgar, merece ponderação pese embora o seu manifesto exagero, porque não há democracia fora da Constituição, salvo como prenúncio de rupturas que nos convém evitar.
Seria natural que o PSD e o CDS reunissem logo a seguir à noite eleitoral para preparar a formação de um novo Governo, sem ficar à espera de qualquer iniciativa do presidente que, conforme dispõe a Constituição, só pode nomear o primeiro-ministro após a publicação oficial dos resultados eleitorais, depois de os ponderar livremente e após audição prévia dos partidos. Diligências para tornar o processo mais expedito são, no actual contexto, bem-vindas, mas o presidente perdeu uma boa ocasião para valorizar a independência da sua função soberana e para mostrar alguma deferência pela Assembleia da República, dispensando-se de ouvir, ainda que informalmente, todos os partidos que, além do mais votado, nela também obtiveram assento. O Governo é politicamente responsável perante a Assembleia e a esta cabe o encargo constitucional da fiscalização da actividade governativa. Por isso mesmo, o novo Governo continuará a ser um mero governo de gestão até que os deputados tomem posse e a Assembleia aprove o seu programa, o que não acontecerá seguramente antes dos finais de Junho. Não seria pois uma perda de tempo que o chefe de Estado, depois de uma campanha eleitoral obscura e truculenta, curasse com mais desvelo as instituições da República e convocasse, com adequada solenidade, o regresso à normalidade democrática, fazendo jus ao seu próprio estatuto de eleito por sufrágio universal e directo.
Desde que Albert Einstein formulou a teoria da relatividade, sabemos que o tempo se tornou uma mera variável da velocidade da luz. Cada coisa tem o seu tempo. O tempo do recordista dos 100 metros é diferente do tempo do jogador de golfe. Licitar na Bolsa é mais rápido do que formar um governo. O tempo televisivo é diferente do tempo constitucional. A pressa do presidente será compreensível, mas adensou uma atmosfera de atribulada precipitação que se apoderou de um país que se move agora por controlo remoto para atender instruções da Comissão Europeia, para cumprir os prazos acordados com a troika, para prometer a multiplicação de entidades de controlo orçamental, para conseguir, enfim, chegar a horas à próxima cimeira de Bruxelas. Não é com pressas nem subserviência que vamos esconjurar a crise. É tempo de reconhecer que a rábula que fez sucesso nos anos oitenta, do "bom aluno da Europa" que afincadamente fazia todos os trabalhos de casa apenas na expectativa de um elogio ou de um biscoito do professor, não resulta.
Os anónimos mercados financeiros e as agências de "rating" não são instituições de caridade que se comovam ou deixem seduzir pelas nossas manifestações de gratidão. Os empréstimos que os nossos parceiros europeus nos concederam não são dádivas generosas, O "Fundo Europeu de Equilíbrio Financeiro" é o instrumento precário de uma governação económica incipiente que a União terá de reformar drasticamente se quiser sobreviver. Foi o comissário Europeu para os Assuntos Económicos, Olli Rehn, que admitiu há dias que os juros das dívidas soberanas da Grécia, Irlanda e Portugal, fixados em função do risco do empréstimo, deviam ser revistos em função das condições de desenvolvimento económico dos países em crise. Nem há outra maneira, como já se vê na Grécia, de assegurar o pagamento das dívidas e dos juros. Por isso o memorando de entendimento tem de ser encarado como um guião incontornável que nos comprometemos a cumprir e que poderá ser melhorado. Não é, certamente, uma profissão de fé nem uma questão de honra!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O VOTO NO LOBO

Às 00H11 do dia 6 constato que, infelizmente, tinha razão. A direita ganhou e tem possibilidades de governar com maioria absoluta e a esquerda sai esfrangalhada desta contenda.
A direita realizou o seu sonho de sempre, vem desde o tempo do Sá Carneiro :
Um PR, o Governo e maioria na AR.
Até as facadas no PS começaram mais cedo do que previra, com o António José Seguro a candidatar-se sôfrego à sucessão sobre o ainda quente cadáver do Sócrates. Não foi bonito de ver.
O BE sofreu uma derrocada mas reconheceu o facto, coisa pouco habitual à esquerda. Os próximos tempos vão ser agitados dentro do PS e do BE.
O PCP aguentou-se e, como sempre, veio autovangloriar-se como se tivesse tido uma vitória.
Se a esquerda não entender que tem de convergir na acção para galvanizar e dar esperança iremos ter muitos anos de direita, e dessa tragédia pode vir a não sobreviver.
O CDS obteve o seu objectivo, ser indispensável para uma maioria de direita, e pode agradecer ao PSD a ajuda que lhe deu, pois o PSD ao guinar tanto para a direita até fez parecer o CDS de esquerda com bandeiras sociais, o desenvolvimento da agricultura etc.
A nova situação política faz adivinhar para breve uma luta renhida para rever a Constituição, não só "necessária" para cumprir os objectivos da troika, mas também para liquidar de vez com o SNS, o ensino público e por aí fora. Como a direita não tem os dois terços necessários para tal fim tudo irá depender do PS, que ainda não sabemos o que irá ser no pós-Sócrates.
Resumido, as ovelhas em lugar de escolher um bom pastor para cuidar bem do rebanho votaram no lobo. Agora vão ser todas comidas.
Tempos maus estão a caminho.

sábado, 4 de junho de 2011

UF!, CHEGOU AO FIM,AMANHÃ É PARA PENSAR

Terminou a campanha eleitoral e, mesmo antes de começar, já todos sabíamos os resultados que teriam de ser se acordo com a vontade dos "mercados",pois os credores não brincam com o dinheiro que emprestaram, e o governo a sair das eleições teria de ser de direita para garantir os pagamentos nos prazos que estipularam e com os juros estabelecidos.
O que parece mais que provável é um governo PPD/CDS, não só por serem mais fiáveis para cumprir as ordens vindas de fora mas também por estarem de acordo com as medidas impostas, quer no plano político/ideológico, quer no plano económico. Até, para mostrar serviço, irão mais longe do que as ordens dos patrões e aproveitarão a embalagem para destruir tudo o que puderem nos apoios sociais, na educação e saúde públicas, e avançarem na privatização do Estado.
O PS perde por ter ficado refém do Sócrates, muitos irão votar na direita só para o verem pelas costas. Perdidas as eleições e se afastados do poder iremos assistir às facadas nas costas do Sócrates por aqueles que ainda hoje lhe davam palmadinhas nas ditas. O Almeida Santos já começou.
O CDS é, na minha opinião, o grande vencedor, pois sem ele não haverá maioria parlamentar e terá ministérios importantes. Mais, as sondagens apontam para que a sua votação seja igual ou ande lá perto da soma do PCP e BE.
Se assim for é uma grande derrota para a esquerda e, desta vez num período de grande descontentamento e crise que, em princípio, seria o ideal para captarem os votos de protesto e descontentamento.
Desta vez não podem meter a cabeça na areia como a avestruz e cantarem pateticamente vitória, ou analisam a sério o que lhes aconteceu ou correm o risco de se tornarem dispensáveis.
Gostaria de me enganar totalmente, ficaria feliz com o meu erro.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Artigo de António Pina

Os 20 magníficos
01h24m
Com 689 000 desempregados e 204 000 "inactivos" (pessoas que desistiram já de procurar emprego), isto é, 15,5% de gente sem trabalho que os critérios estatísticos transformaram em 12,4%, o país já há muito teria soçobrado não fosse o patriótico esforço daqueles que, para compensar a calaceirice nacional, se desdobram por sucessivos postos de trabalho, correndo incansavelmente de um para outro, indiferentes à tensão arterial, ao colesterol, aos triglicerídeos e à harmonia familiar.
O Relatório Anual sobre o Governo das Sociedades Cotadas em Portugal - 2009, da CMVM, agora tornado público, refere "cerca de 20" desses magníficos, todos membros de conselhos de administração de empresas cotadas, muitas delas públicas, que "acumulavam funções em 30 ou mais empresas distintas, ocupando, em conjunto, mais de 1000 lugares de administração".
Revela a CMVM que, por cada um destes lugares, os laboriosos turbo-administradores recebem, em média, 297 mil euros/ ano, ou, no caso dos administradores-executivos, 513 mil, havendo um recordista que, em 2009, meteu ao bolso 2,5 milhões de euros.
Surpreendente é que, no meio de tanta entrega ao interesse nacional, estes heróis do trabalho ainda encontrem nas prolixas agendas tempo para ir às TV exigir salários mais baixos e acusar desempregados, pensionistas e beneficiários dos "até" (como nos saldos) 189,52 euros de RSI de viverem "acima das suas possibilidades".

quinta-feira, 19 de maio de 2011

PESOS E CONTRAPESOS

Quando vamos às compras ao mercado ou ao super, procuramos distribuir o peso das compras pelas duas mãos para equilibrar o corpo, e a coluna serve de fiel da balança, fica direita e impede que tenhamos problemas nas "cruzes", como popularmente se diz.
A crise e não só, é o resultado do país andar descompensado há mais de 30 anos. Votamos maioritariamente nos mesmos sacos e o peso eleitoral é mal distribuído e cai fortemente para a direita.
O PS que em teoria devia ser uma espécie de fiel da balança avariou há muito e tem ferrugem do lado esquerdo, pelo que pende sempre para a direita obrigando a caminhar enviesado com grandes dores nas nossas pobres cruzes.
Enquanto não equilibrarmos mais a distribuição do peso eleitoral pela esquerda e direita vamos continuar a não ser saudáveis e teremos grandes e graves problemas de saúde política, financeira e económica.
No próximo dia 5 de Junho caso não se puxe um pouco mais o fiel da balança política para o centro e o contrapeso da esquerda não subir um bocado vamos passar por um período de tragédias. Não é exagero, ou não ouviram hoje o patronato reclamar o fim do despedimento com justa causa na Constituição?
Na canção dos Deolinda é preciso estudar para ser escravo, agora querem que se trabalhe para ser escravo. Depois não digam como na canção, "mas que parvo que eu sou".




PUBLICADA HOJE,19 DE MAIO,NO JORNAL DO ALGARVE

NOTA CHARINGADA
A TROIKA E A REGIONALIZAÇÃO
A Rádio Universitária do Algarve entrevistou recentemente os responsáveis actuais do PS e do PSD do Algarve, Miguel Freitas e Luís Gomes.
A conversa foi sobre a regionalização e, como sempre, em palavras consideraram que a regionalização é fundamental para o desenvolvimento do país, “projecto essencial para o país” afirma Miguel Freitas, “a regionalização deve ser a mãe de todas as reformas administrativas do país”, na frase um pouco chinesa de Luís Gomes.
Mas em política os actos é que contam, as palavras são quase sempre biombos atrás das quais se mascaram as intenções e o certo, constatamos, é que 35 anos após a Constituição ter consagrado a criação de regiões as mesmas não existem.
Igualmente se constata que os dois partidos referidos foram os que governaram Portugal quase em exclusividade depois do 25 de Abril, e se as regiões não foram criadas é porque não quiseram, ponto final.
Não quiseram até agora e continuam a não querer e só a Troika os vai obrigar a mexer no problema, se calhar mal e no momento errado.
Talvez seja coincidência mas o facto é que os três países mais atrapalhados com a crise, Portugal, Irlanda e a Grécia, são aqueles em que a regionalização não foi feita ou foi realizada há meses forçada pelos da Troika.
No caso da Grécia o número de municípios passou de 1030 para 325, e as regiões que existiam que não eram bem regiões, pois os responsáveis não eram eleitos, passaram de 57 para 13, suprimindo quatro mil empresas municipais e 54 prefeituras, uma espécie de governos civis. A poupança está calculada em 1.500 milhões de euros, e os municípios e as empresas municipais ficam impedidas de gastar sem aprovação prévia.
Foram abolidos cerca de 25.000 cargos de topo.
A mãozinha da troika é visível, a mesma que exige agora a nós a redução anual de 2% do pessoal das autarquias, cerca de 3.000 trabalhadores no total, e a redução de empresas municipais.
Existe a Europa das Regiões, organismo onde participam a Madeira e os Açores mas não o resto do país, andamos sempre atrasados e com um peso enorme sobre os ombros de conformismo e resignação. O Alexandre Herculano, perante a situação de concelhos sem dinheiro e sem iniciativa, sufocados pelo centralismo e dele dependente, dizia que era preciso “criar no país os hábitos da vida pública, desterrar a indiferença política do povo, resultado de uma tutela absurda”. São infelizmente ainda actuais estas palavras.
O país tende para uma desertificação humana acelerada, de acordo com estudos recentemente feitos a zona da Grande Lisboa terá em breve 45% do total da população do país, o Grande Porto e o litoral cerca de 33% e o resto do país (interior), 22%.
O centralismo é inimigo do desenvolvimento democrático, sustentado e harmonioso de todo o Portugal. Será que ainda teremos de agradecer à Troika ter dado o impulso para efectivar a regionalização?
Martins Coelho


segunda-feira, 16 de maio de 2011

DEMOCRACIA E JUSTIÇA

Sem justiça a democracia não funciona. Sem justiça social é um desastre e sem justiça económica uma catástrofe.
A chamada troika impôs a Portugal medidas e datas apertadas para alterações na justiça. É lamentável que após décadas e toneladas de palavras sobre o não funcionamento da justiça, a nossa passividade e deixa-andar, seja, mais uma vez, a pressão exterior que nos obriga a fazer o que já devia ter sido feito há dezenas de anos.
Não foi feito por que não quizeram, uma justiça a sério é contrária ao caciquismo e interesses reinantes.
Agora vem a troika e manda executar e depressa alterações na justiça, não por causa da injustiça social que é a maior da UE, mas para que funcione melhor a nível económico para garantir que os empréstimos sejam pagos.
Encontram-se por resolver nos tribunais 1,1 milhões de processos pendentes de cobranças de dívidas. Estudos feitos calculam que o não funcionamento da justiça causa um prejuízo económico anual na cas dos 7 mil milhões de euros.
Agora temos por imposição de reduzir as actais 232 comarcas para 39 até fins de 2012; todos os processos de cobraça de dívida têm de estar resolvidos até Junho de 2013 e a simplificação do Código do Processo Civil tem de ser realizada.
Não se brinca com o dinheiro da troika, pois no final dos sete anos e meio previstos para pagamento do empréstimo, pagaremos cerca de 30 mil milhões de euros de juros.
Grande parte do empréstimo de 78 mil milhões de euros nem passarão por Portugal, irão directamente para os credores, isto é bancos alemães, franceses etc.
Resta saber se mesmo a toque de caixa a incompetência política nacional consegue cumprir os prazos.