quinta-feira, 8 de março de 2012

DEMITA-SE!

!Demita-se, senhor Primeiro-Ministro

Nicolau Santos, na sua habitual coluna do semanário Expresso,
desnudava a alma, com estes termos: Sr. primeiro-ministro, depois das
medidas que anunciou sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma
raiva a nascer-me nos dentes. Também eu, senhor primeiro-ministro. Só
me apetece rugir!...

O que o Senhor fez, foi um Roubo! Um Roubo descarado à classe média,
no alto da sua impunidade política! Por isso, um duplo roubo: pelo
crime em si e pela indecorosa impunidade de que se revestiu. E, ainda
pior: Vossa Excelência matou o País!

Invoca Sua Sumidade, que as medidas são suas, mas o déficite é do
Sócrates! Só os tolos caem na esparrela desse argumento. O déficite já
vem do tempo de Cavaco Silva, quando, como bom aluno que foi, nos anos
80, a mando dos donos da Europa, decidiu, a troco de 700 milhões de
contos anuais, acabar com as Pescas, a Agricultura e a Industria.
Farisaicamente, Bruxelas pagava então, aos pescadores para não
pescarem, e aos agricultores para não cultivarem. O resultado foi uma
total dependência alimentar, uma decadência industrial e investimentos
faraónicos no cimento e no alcatrão. Bens não transacionáveis, que
significaram o êxodo rural para o litoral, corrupção larvar e uma
classe de novos muitíssimo-ricos. Toda esta tragédia, que mergulhou um
País numa espiral deficitária, acabou, fragorosamente, com Sócrates. O
déficite é de toda esta gente, que hoje vive gozando as delícias das
suas malfeitorias. E você é o herdeiro e o filho predileto de todos
estes que você, agora, hipocritamente, quer pôr no banco dos réus?

Mas o Senhor também é responsável por esta crise. Tem as suas asas
crivadas pelo chumbo da sua própria espingarda. Porque deitou abaixo o
PEC4, de má memória, dando asas aos abutres financeiros para
inflacionarem a dívida para valores insuportáveis e porque invocou
como motivo para tal chumbo, o caráter excessivo dessas medidas.
Prometeu, entretanto, não subir os impostos. Depois, já no poder,
anunciou como excecional o corte no subsídio de Natal. Agora, isto! Ou
seja, de mentira em mentira, até a este colossal embuste, que é o
Orçamento Geral do Estado.

Diz Vossa Eminência que não tinha outra saída. Ou seja, todas as
soluções passam pelo ataque ao Trabalho e pela defesa do Capital
Financeiro. Outro embuste. Já se sabia no que resultaram estas mesmas
medidas na Grécia: no desemprego, na recessão e num déficite ainda
maior. Pois o senhor, incauto e ignorante, não se importou de importar
tão assassina cartilha. Sem Economia, não há Finanças, deveria saber o
Senhor. Com ainda menos Economia (a recessão atingirá valores perto do
5% em 2012), com muito mais falências e com o desemprego a atingir o
colossal valor de 20%, onde vai Sua Sabedoria buscar receitas para
corrigir o déficite? Com a banca descapitalizada (para onde foram os
biliões do BPN?), como traçará linhas de crédito para as pequenas e
médias empresas, responsáveis por 90% do desemprego?

O Senhor burlou-nos e espoliou-nos. Teve a admirável coragem de sacar
aos indefesos dos trabalhadores, com a esfarrapada desculpa de não ter
outra hipótese. E há tantas! Dou-lhe um exemplo: o Metro do Porto. Tem
um prejuízo de 3.500 milhões de euros, é todo à superfície e tem uma
oferta 400 vezes!!! superior à procura. Tudo alinhavado à medida de
uns tantos autarcas, embandeirados por Valentim Loureiro. Outro
exemplo: as parcerias publico-privadas, grande sugadouro das finanças
públicas. Outro exemplo: Dizem os estudos que, se V. Ex.ª cortasse, na
mesma percentagem, os rendimentos das 10 maiores fortunas de Portugal,
ficaríamos aliviadinhos de todo, desta canga deficitária. Até porque
foram elas, as grandes beneficiárias desta orgia grega que nos tramou.
Estaria horas, a desfiar exemplos e Você não gastou um minuto em
pensar em deslocar-se a Bruxelas, para dilatar no tempo, as gravosas
medidas que anunciou, para Salvar Portugal!

Diz Boaventura de Sousa Santos que o Senhor Primeiro-Ministro é um
homem sem experiência, sem ideias e sem substrato académico para tais
andanças. Concordo! Como não sabe, pretende ser um bom aluno dos
mandantes da Europa, esperando deles, compreensão e consideração.
Genuina ingenuidade! Com tudo isto, passou de bom aluno, para lacaio
da senhora Merkel e do senhor Sarkhozy, quando precisávamos, não de um
bom aluno, mas de um Mestre, de um Líder, com uma Ideia e um Projeto
para Portugal. O Senhor, ao desistir da Economia, desistiu de
Portugal! Foi o coveiro da nossa independência. Hoje, é, apenas, o
Gauleiter de Berlim.

Demita-se, senhor primeiro-ministro, antes que seja o Povo a demiti-lo.



Tenho em mim todos os sonhos do Mundo.

(Fernando Pessoa)



Sem comentários:

Enviar um comentário