RE(A)FUNDAR PORTUGAL (2)
A FARSA
Assistimos na votação do Orçamento para 2013, na AR, a uma farsa
chocante, a dos deputados da maioria governamental PSD/CDS a fingirem desgosto
e incomodidade por terem de aprovar o orçamento, resignados, coitados, não queriam
mas tem de ser, para bem do país. As declarações de voto, colectivas, quer do
PSD e do CDS são uma vómito e uma afronta aos portugueses. Mas, ao mesmo tempo,
é o reconhecimento de que este orçamento é um massacre financeiro e económico
do qual nada de bom resultará para Portugal, mas necessário para ir destruindo
o estado social e vender ao desbarato à especulação internacional tudo o que
ainda resta de propriedade pública.
No mesmo dia em que se consumava o crime surdo aos gritos da rua que
não entravam pelas janelas bem fechadas da AR, a OCDE criticava fortemente tal
orçamento negando-lhe qualquer viabilidade. O Instituto de Economia e Gestão
passava-lhe um atestado de incompetência e vários economistas reputados, como
Paul de Grauwe por exemplo, afirmam que demasiada austeridade vai impedir
qualquer possibilidade de crescimento. E, pasme-se, Bagão Félix, insuspeito de
qualquer simpatia pela esquerda, acusava os deputados do PSD/CDS de
insensibilidade social e de terem aprovado no orçamento normas feridas de
inconstitucionalidade. Mais, palavras de Bagão Félix, " ... quando se fala
de despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado
social (como tudo o resto fosse auto-sustentável ). Porque, afinal, os seus
beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os
inválidos, os deficientes... os que não têm voz nem fazem grandiosas
manifestações. E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios
de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso
com quem não se pode defender".
Quem me diria que as voltas da vida até me fariam um dia estar de
acordo no essencial com o Bagão!
A confirmar que os tais "que
não têm voz" são as vítimas atropelam-se as notícias, regressa a tosse
convulsa que faz três mortos, a taxa de mortalidade infantil aumentou, que os
gastos com a alimentação diminuem, as scuts quebram mais de 40% e já são quase
15 mil casais em que ambos perderam o emprego, e o governo coloca mais 29
edifícios em venda.
Tudo se resume afinal a obter mais dinheiro seja por impostos
assassinos ou pela venda ao desbarato de património público.