O PRESÉPIO
E A ÁRVORE DE NATAL
Tal como em relação ao Pai Natal a Árvore de Natal tem origens
remotas, anteriores ao cristianismo.
O solstício de inverno com os seus dias curtos e noites longas causava
uma enorme impressão nas sociedades primitivas. Os egípcios colocavam galhos de
palmeira nas suas casas, símbolo da vida triunfando sobre a morte. Os romanos
enfeitavam as casas com pinheiros, símbolo da vida, em homenagem a Saturno, o
deus da agricultura. Outros penduravam maçãs no pinheiro etc.
A adaptação destes costumes a árvore de natal, a tradição moderna do
pinheiro de natal, parece ter surgido no séc. XVI em Estrasburgo. O pinheiro
era decorado com doces, fruta e papéis coloridos. Rapidamente este exemplo se
espalhou pela Europa e América.
O pinheiro e a sua forma triangular acomodou-se bem com a simbologia
cristã da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
A popularidade da árvore de natal é cada vez maior e suplanta hoje o
presépio na maioria dos lares.
O presépio é a forma mais antiga dos cristãos comemorarem o nascimento
de Jesus. Segundo a tradição teria nascido numa gruta em Belém, numa
manjedoura. O nome de presépio significa isso mesmo: curral, estábulo, local
onde se recolhe o gado.
Desde o séc. III que se conhece a celebração do nascimento de Jesus,
trazida pelos peregrinos que visitavam a gruta do nascimento.
O presépio actual parece ter origem em 1233, quando São Francisco de
Assis mudou o local habitual da celebração, a Igreja, para uma gruta na
floresta de Greccio, na qual colocou uma manjedoura com feno, um boi e um
burro. A intenção foi a de exemplificar aos crentes a forma como nascera Jesus.
Foi uma representação teatral da natividade.
Pouco a pouco foi passando das Catedrais, dos Mosteiros e das Igrejas
para os palácios, as casas particulares e os locais públicos.
Consta que o primeiro presépio montado foi no séc. IV por Santa
Helena, mãe do Imperador Constantino. Conhecem-se pinturas, frescos e até
mosaicos com a representação da Natividade a partir do séc. IV.
Parece que o primeiro presépio numa casa particular surgiu em 1567, na
casa da Duquesa de Amafalfi. Rapidamente este costume se espalhou por toda a
Itália, e no séc. XVIII já ganhara toda a Ibéria.
Por essa altura eram muito apreciados os presépios napolitanos,
ricamente trajados, incluíam cenas do quotidiano e as diversas figuras
proporcionavam arranjos originais, ao gosto de cada um ou de acordo com os
costumes e tradições das regiões onde eram montados.
O presépio em Portugal é uma tradição popular, antiga e enraizada nos
nossos costumes. É junto ao presépio que se colocam as prendas e é desmontado a
seguir aos Reis. Para além do Menino, de Sº José e da Virgem Maria, do Anjo, do
boi, do burro e dos Reis Magos, o presépio foi aportuguesado com as mais
diversas figuras: pastores, lavadeiras, os animais domésticos, bonecos com os
trajos folclóricos, bandas de música, soldados, o prior, os Santos Padroeiros
locais etc. O musgo, as searas, as frutas e flores servem de para ornamentar,
desligadas já do seu significado original, o agradecimento pelas colheitas do
ano e a esperança de boas colheitas para o próximo.
Na Madeira e no Nordeste brasileiro o presépio chama-se lapa ou
lapinha. A lapa é uma espécie de gruta ou caverna. Na Madeira o tempo do
Natal é dividido em “oitavas”; no Nordeste em “jornadas” e à sétima
representa-se o Auto da Lapinha.
Na Madeira também existe a “rochinha”, um presépio feito de papel
pintado, em escadinha, e no cimo ou rochinha, é colocado o Menino, de
pé, com um vestidinho branco. Esta tradição parece ter origem em costumes
pagãos herdados dos gregos e romanos, que prestavam culto aos seus deuses
domésticos – Penates e Lares-, montados em altares feitos em escadinhas.
Ainda na Madeira é hábito armar o presépio sobre uma cómoda ou mesa
com uma talha branca, de bordado madeira.
Desde o séc. XVI existem referências a presépios públicos no país. No
séc. XVII, no reinado de D. João V, surgem grandes criadores de presépios que
fizeram escola: Machado de Castro, Barros Laborão, Manuel Teixeira e António
Ferreira.
Um dos presépios da autoria de Machado de Castro, inicialmente
destinado ao Convento das Carmelitas, construído em 1782, com cerca de 500
figuras, ainda hoje pode ser visto na Basílica da Estrela, em Lisboa. Merece
uma visita.
Para quem se interesse pelas origens religiosas e a simbiose que se
foi concretizando entre o sagrado e o profano recomendamos, passe a
publicidade, o livro do Prof. Moisés Espírito Santo (um nome bem apropriado),
“Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa”. Terão muitas surpresas.
Consta que o Pai Natal vive na Lapónia, rodeado de neve, usa um trenó
puxado por renas e tem como profissão distribuir brinquedos às crianças na
noite de 24 de Dezembro.
Isto é conhecido, mas como apareceu esta simpática figura?
Desde os tempos mais remotos, à aproximação do solstício de inverno,
celebravam-se festas com rituais muito particulares. Entre elas, no centro da
Europa, era comum usar uma máscara de um velho, que representava a sabedoria.
Na Inglaterra, até ao séc. XVII, permaneceu este costume, uma máscara de velho
chamado Natal, com uma longa barba, conduzia um cortejo.
Em França há notícias deste Natal em textos do séc. XIII até ao séc.
XVII.
Nos países nórdicos conta uma lenda que o Rei Hellequin, símbolo das
festas que se realizavam em Dezembro,
quando a luz desaparecia durante o inverno frio e rude que se instalava por
vários meses, alimentando as superstições, fazia uma grande barulheira para
afugentar os maus espíritos. Essas festas chamavam-se “charivari”.
No país dos Vikings, por essa altura do ano, alguém se disfarçava com
uma grande capa e fazia uma ronda por todas as casas para saber se tudo ia bem
e distribuía guloseimas às crianças, em representação do Rei Odin.
Em 270 DC vivia no deserto um eremita de nome Nicolau, tendo por
regras a obediência e a renúncia à sua própria vontade. O Imperador Constantino
nomeou São Nicolau bispo para combater as crenças e heresias pagãs, expandindo
a ideia que nos salvamos da morte graças à nossa alma. Contam-se inúmeros
milagres e histórias deste santo que veio a ser o patrono dos marinheiros, dos
pescadores e do Império Russo. Morre em Dezembro de 326. O culto deste santo
espalhou-se por todo o Império Bizantino e foi progressivamente substituindo as
festas do solstício. Os cruzados trouxeram o conhecimento desta figura para a
Europa.
Na Idade Média o cristianismo expandia-se rapidamente e a Igreja
passou a condenar as mascaradas pagãs. Muitas populações, designadamente na
Europa Central, continuaram fiéis às suas tradições e a Igreja, para não perder
o pé, integrou estas manifestações no seu próprio calendário dando-lhes nomes
cristãos como o São Martinho em Novembro ou Santa Lúcia e São Nicolau para os
cortejos de Dezembro.
Ainda hoje em vários países europeus o dia de São Nicolau (6 de
Dezembro), é o mais festejado, as festas dedicadas às crianças são feitas no
seu dia. A coabitação entre os dois nem sempre foi pacífica, por exemplo um
Arcebispo de Toulouse lançou um anátema ao Pai Natal; um alcaide de S.
Sebastião expulsou-o do território, e até o Secretário-Geral da ONU, Dag
Hammarskjöld, o criticou. Foi queimado com a acusação de paganizar a quadra
etc.
No
sul da Alemanha uma lenda conta que o velho Weihnachtsmann passa todo o
ano numa gruta da montanha. Todas as noites um simpático anãozinho monta a
guarda à entrada da gruta e ao fim de 360 vigílias o último anão grita “ o
Natal está a chegar!”. Então o velho desperta da sua hibernação e começa
a preparar os presentes para as crianças que se portaram bem.
Os anões representam os espíritos dos antepassados que vivem debaixo
da terra, estão nesta mitologia para além do império da morte. Quem percorre
estas regiões encontra os anões na maioria dos espaços ajardinados em frente
das casas, ou à janela, guardam as casas e dão sorte e felicidade.
Os europeus levaram Weihnachtsmann, o Bonhomme Noël, o Father
Christmas, o Sint-Niklaas etc., para o continente americano. Em 1822, Clément
Clark Moore, professor de teologia, escreve uma poesia na qual elogia as duas
figuras (Pai Natal e São Nicolau), e refere que não vivem numa floresta da
Europa central mas sim junto ao Pólo Norte, na companhia da sua corte de
anõezinhos e viajavam num trenó puxado por renas.
A imagem do actual Pai Natal surge em 1862 pela mão do ilustrador
alemão Thomas Nast, inspirado no poema de Clark Moore, tendo como referência o
Knecht Ruprecht da sua infância bávara. Foi a Coca-Cola que em 1931 popularizou
o Pai Natal na sua publicidade. Após a II Guerra Mundial a personagem mítica
das velhas tradições europeias com a sua túnica vermelha, o barrete e a barba,
conquistou pacificamente o Mundo. Ainda não se falava em globalização.
Na Rússia existe uma lenda na qual o Pai Natal seria o 4º Rei Mago.
Perdida a esperança de encontrar o menino Jesus, anda pela estepe com o seu
trenó distribuindo os presentes a todas as crianças que encontra no seu
caminho.
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