O QUE ESTÁ EM CAUSA?
Metade das famílias portuguesas vive com menos de mil
euros por mês
Lusa
27/10/2015
Entre os cerca de 1200 inquiridos pela
Associação para a Defesa dos Direitos do Consumidor, 18% das famílias não
conseguem pagar as contas e aprestação da casa.
As famílias com mais
dificuldades em fazer face às despesas diárias são as que têm filhos pequenos
Paulo Pimenta
Metade das famílias
portuguesas com filhos menores sobrevive com menos de mil euros por mês e 18%
não consegue pagar a prestação da casa e as contas da água, luz e gás, revela
um estudo da Deco.
Sim, são as desigualdades crescentes, o modelo capitalista de destruição económica assente em baixos salários, o desemprego e a emigração, a destruição dos serviços públicos, a justiça que desprotege os pobres, a venda do país ao desbarato, o que na verdade está em causa.
Não a NATO e o Euro etc. O que une as esquerdas é o sentimento de urgência em travar este ataque destruidor da democracia e criar condições democráticas de alternativa.Daí a fúria dos "cavacos"
Coisas simples que Cavaco não percebe
27/10/2015
O princípio que afirma
“quem ganha as eleições deve governar” tem sido repetidamente enunciado,
glosado, gritado e guinchado pela direita nos últimos dias. E, dito assim, e
ouvido com o sentido crítico em ponto morto, parece fazer sentido. Mas, neste
particular como em tudo, convém distinguir a opinião dos factos e acontece que
a norma constitucional ou o princípio jurídico ou a tradição política que
afirma “quem ganha as eleições deve governar” não existe. E, quando alguém
afirma que ele existe, mente.
Se alguém quiser dizer “eu acho que quem
ganha as eleições deve governar” tem todo o direito de o fazer, mas trata-se
aqui de uma expressão de vontade pessoal, que não tem (e, verdade seja dita,
não exige) nenhuma ancoragem na realidade da lei ou da política. Da mesma
maneira, é aceitável que se diga “em princípio, quem ganha as eleições deve
governar” mas, como todas as frases que começam com esta fórmula de caução,
isso quer dizer que, em muitas circunstâncias, não acontece como “em
princípio”.
De facto, se “quem ganhasse as eleições
devesse governar” e se esse tivesse sido o entendimento dos constituintes,
teria sido fácil incluir o preceito na Constituição. Mas o que lá está escrito
é que “o Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os
partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os
resultados eleitorais” (artigo 187º) e que o novo governo, para governar, não
pode ver o seu programa rejeitado pelo Parlamento (artigo 195º). Ou seja, para
nomear um primeiro-ministro é preciso que o Presidente da República o queira
fazer, que ouça previamente os partidos políticos e que a sua nomeação “tenha
em conta os resultados eleitorais”, o que é, convenha-se, uma norma algo vaga,
que apela fundamentalmente ao bom senso. E, para que um novo governo entre
efectivamente em funções basta que o seu programa não seja rejeitado pelo
Parlamento.
Por que é que quem ganha as eleições
(entenda-se por esta expressão “o partido ou coligação que tenha obtido mais
votos”) não adquire, por esse simples facto, o direito a governar, sem mais
considerações? Porque um partido pode ter mais votos que qualquer um dos outros
e não ter, por esse facto, um apoio suficiente no Parlamento para garantir a
governabilidade e estabilidade (como acontece com a coligação PSD-CDS neste
momento). Assim, sabiamente, a Constituição impõe ao Presidente da República
que use do bom-senso (uma imposição que Cavaco Silva considera intolerável) e
faça o seu melhor para, sem violar o sentimento expresso nas urnas pela maioria
dos portugueses, encontrar uma solução governativa não só funcional mas tão
estável quanto possível.
No máximo, poderia defender-se que “quem
ganha as eleições deve ser indigitado PM” e apresentar-se depois ao Parlamento
ver se consegue um apoio maioritário ou não - mas a Constituição nem sequer
isso exige.
Uma das razões por que o princípio “quem
ganha as eleições deve governar” ou “o partido que tem mais votos deve
governar” não faz sentido é porque, a existir, ele implicaria que, no caso de
uma maioria relativa (como a que tem a coligação PSD-CDS neste momento) outros
partidos fossem obrigados a deixar passar o programa de governo, de forma a
viabilizar o governo minoritário, ainda que tivessem de ir contra a sua
consciência e trair o seu eleitorado, os seus programas, princípios e promessas.
Não faria sentido. Os fanáticos da direita que gritam que o PSD deve poder
governar porque teve mais votos que o PS estão de facto a dizer, forçosamente,
que o PS devia deixar passar o programa do PSD, por muito que aqueles o
considerem anti-patriótico, anti-democrático, socialmente injusto,
empobrecedor, irrealista e destruidor de riqueza. Não faz sentido e é evidente
que se trata de uma argumentação desonesta, que os próprios nunca aplicariam se
a situação fosse ao contrário.
Por que razão, então, houve no passado
governos minoritários? Porque não foram rejeitados pela maioria do Parlamento.
A Constituição, note-se, obriga o
Presidente da República a “ter em conta os resultados eleitorais”, globalmente,
e não apenas os votos do partido mais votado. Se Cavaco insistir, de forma
sectária, em apenas indigitar e empossar um Governo se ele for encabeçado pelo
seu próprio partido, ainda que ele seja minoritário e tenha contra si a maioria
do Parlamento, e se recusar a indigitar e empossar um Governo dirigido por
António Costa, ainda que ele tenha a suportá-lo a maioria do Parlamento, estará
a ignorar este imperativo constitucional. Será uma decisão de uma extrema
gravidade, inaceitável num regime democrático e incompatível com um regime
democrático.
Há quem vocifere, à direita que, se é
assim, então passa a ser impossível ter governos minoritários e vai ser muito
mais difícl ter governos estáveis. Não é verdade. Um governo minoritário pode
ser respeitável, o que o actual governo PSD-CDS não é e o próximo também não
será. Não é o facto de esta coligação não conseguir gerar um governo que seja
minimamente respeitável que significa que outro governo minoritário não o possa
ser.