Nota: Podemos não concordar com o autor mas coloca algumas reflexões interessantes.
Gonçalo Quadros
A favor de
candidaturas independentes
As candidaturas independentes têm o
mérito de desafiar as feias organizações em que se tornaram muitas das
estruturas partidárias.
10 de Julho de 2017
As candidaturas independentes são muitas
vezes reduzidas à figura do candidato a presidente da câmara ou encaradas como
uma manifestação de ressabiamento de facções, ou de indivíduos, de organizações
partidárias. Mas essa análise esconde o essencial. O mérito de uma candidatura
independente não assenta numa superioridade de candidatos que nada têm a ver
com estruturas partidárias nem traduz uma desistência dos partidos. Pelo
contrário. As candidaturas independentes têm, neste momento, o mérito de
desafiar as feias organizações em que se tornaram muitas das estruturas
partidárias por esse país fora. O mérito de permitir que os cidadãos reclamem
melhores partidos. Competindo com eles? Sim, se for preciso. E, aqui e agora,
é.
Os partidos existem para nos proporem
uma visão de comunidade e sociedade e os modelos de organização para a
concretizar. O seu objectivo primeiro é alcançarem a governação, o poder. Serem
Estado. Acontece que alguns partidos são, em boa verdade, a antecâmara do
Estado, sendo por vezes vistos por muita gente como a antecâmara de acesso aos
privilégios que o Estado, com os seus imensos recursos, pode proporcionar. Esse
facto e a inexistência de estímulos para se tornarem melhores tende a tornar
essas estruturas em organizações medíocres, sem brilho nem ambição.
Na realidade, no nosso sistema político,
alguns partidos — por vezes fala-se do “arco da governação” — dão como
adquirido o acesso ao poder. Mais tarde ou mais cedo, inexoravelmente, ele
chegará, quanto mais não seja através da alternância. Nesse contexto, em que
apenas o tempo, e não o mérito, é necessário para se atingir o objectivo
principal da organização, o que se pode esperar? Não muito mais do que laxismo
e facilitismo. E com eles a falta de transparência, o oportunismo, o terreno
fértil para a troca de favores e para quem se procura servir em vez de servir.
É neste contexto que, em muitos lados no
país, e em particular em Coimbra, os cidadãos tomaram a iniciativa de chamar a
si a intervenção política e decidiram competir com os partidos. Não para que
que eles desapareçam, mas sim, pelo contrário, na expectativa de contribuir
para que eles não se tornem irrelevantes. Não para dizerem que não querem os
partidos, mas para afirmarem que querem mais, muito mais, do que aquilo que
lhes é dado — mais competência, mais ambição, mais ousadia, mais transparência,
mais honestidade.
Querem, em resumo, dizer que não vale
tudo e que não aceitam tudo. E que para eles, os cidadãos, estarem disponíveis
para confiar nos partidos, esses têm de ser muito mais exigentes com a forma
como abordam o exercício do poder. Em vários aspectos, a começar logo nessa
necessidade maior do nosso país que é a descentralização.
Dizer tudo isto, denunciar tudo isto,
exigir tudo isto, tem peso. São muitos os que o dizem. Mas, se as palavras são
poderosas, passar delas aos actos é poderosíssimo. E passar das palavras aos
actos, neste caso, é ir para o terreno, ouvir as pessoas e instituições,
identificar problemas, construir com a comunidade propostas de soluções, apresentar
um programa honesto, coerente e ambicioso.
Passar das palavras aos actos é dar esse
passo que é tudo menos fácil: apresentar candidaturas independentes. E,
fazendo-o, não só discutir, defender e lutar por uma visão para as nossas
terras, como também criar um estímulo bastante forte para a melhoria dos
partidos políticos que a devem servir.
No Porto, em Coimbra e noutros locais
isso está a ser feito. Felizmente.
CEO da CRITICAL Software
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