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A crise económica do capitalismo e a crise do “coronavírus”
01.02.21
Partido
Comunista Alemão (DKP)
No
país rico que é a Alemanha, o sistema de saúde não estava preparado para a
situação, embora cenários de uma epidemia de longo alcance fossem considerados
prováveis. A privatização desenfreada e a orientação para o lucro têm custado
tanto aos empregados como aos doentes. Mesmo o dinheiro que inundou o sistema
de saúde em face da epidemia de coronavírus não foi usado para melhorar as
infraestruturas, mas para garantir lucros.
O que muitas vezes é referido pelos média dominantes como a “crise do coronavírus” é, na verdade, independentemente da pandemia, a crise económica mais profunda do mundo em pelo menos cem anos. É uma crise cíclica de sobreprodução combinada com crises estruturais em vários setores económicos, com a pandemia do coronavírus e a ação governamental relacionada com ela e juntando uma característica especial a essa crise.
Essa particularidade pode ser o facto de
a pandemia ter levado a que os processos de crise em todo o mundo se tornassem
mais intimamente ligados no tempo do que teriam sido sem ela e, portanto, terem
tido um efeito mais rápido. Neste contexto, a ação governamental ou as ações
das corporações e bancos visam utilizar a pandemia do coronavírus para
justificar medidas que beneficiem os interesses económicos e políticos da
classe dominante.
Isto também se reflete nas medidas de
restrição na Alemanha. Restrições coerentes de todos as atividades não
essenciais teriam sido bastante apropriadas. Mas não foram implementadas na
Alemanha. Com exceção de algumas empresas com influência direta e importante do
Estado, como a Deutsche Bahn [empresa de transporte ferroviário e de
infraestruturas – NT] e a Lufthansa [Companhia aérea de bandeira – NT], a
influência direta do governo na direção das restrições foi evitada. As ordens
para o encerramento de empresas só foram emitidas quando já não se podia
esconder um escândalo como no setor de carnes. Mesmo lá, contudo, as operações
não foram completamente encerradas. E a epidemia espalhou-se ali de forma
particularmente violenta porque as condições de trabalho insuportáveis,
especialmente para os migrantes, já existiam há décadas. Apesar de tudo, também
não vão mudar muito no futuro e já há escapes na nova legislação, pois ela só
se aplica às grandes empresas, que agora podem ser divididas em empresas mais
pequenas para escapar às novas regulamentações, o que já está a acontecer.
Outros setores, como a indústria automóvel, usaram e continuam a usar os
contratos a tempo parcial prolongados com o financiamento estatal da reposição
do salário para mitigar as consequências da crise e garantir os seus lucros. Na
Alemanha, o trabalho a tempo parcial é entendido como uma regulamentação ao
abrigo do qual os empresários podem, sob certas condições, reduzir as horas de
trabalho – e, portanto, os salários – dos seus trabalhadores, total ou
parcialmente se, por exemplo, faltarem encomendas, para evitar os
despedimentos. Os trabalhadores recebem então um benefício estatal, o subsídio
de trabalho a tempo parcial. Como isso equivale a apenas 60% (67% para
trabalhadores com filhos) dos salários líquidos, os trabalhadores sofrem uma
perda salarial considerável, embora existam acordos coletivos de trabalho em algumas
áreas para pagamentos complementares parciais. Embora o subsídio para trabalho
a tempo parcial tenha sido temporariamente aumentado durante a pandemia, isso
não compensa de forma alguma a perda de rendimento.
Os pacotes de estímulo económico do governo
alemão, por ocasião da “crise
do coronavírus”, que chegam a centenas de milhões de
euros, são medidas para garantir os lucros de grandes corporações, incluindo as
da indústria de armamento. A propósito, apenas uma minoria dos assalariados
trabalha nessas empresas. Os trabalhadores recebem apenas uma pequena parte
desses recursos e pagam com perda de rendimentos, perda de emprego ou trabalho
a tempo parcial. Ao mesmo tempo, as associações patronais exigem a redução do
salário mínimo, cortes nos gastos sociais, cortes de impostos para as empresas.
A luta de classes vinda de cima é travada com toda a sua violência: milhões de
pessoas têm trabalho a tempo parcial, mas o número de pessoas oficialmente
registadas como desempregadas aumentou mais de 6%. Isto significa que na
Alemanha, atualmente, cerca de um quarto dos assalariados têm trabalho a tempo
parcial, cerca de 20% estão em empregos precários e 6% estão desempregados,
segundo as estatísticas oficiais; o número real de desempregados é muito maior.
No entanto, a política de apoio
financeiro às grandes empresas mostra que, na República Federal da Alemanha, o
dinheiro está realmente disponível, mas trata-se também de saber para quem o
está e para quem não o está. É tarefa dos comunistas consciencializar disso a
classe operária e todos os trabalhadores. Devem opor-se à ideologia de uma
suposta parceria social – todos supostamente a lutar juntos contra o vírus – e
deixar claro que “Não
há NÓS no Estado de classe!”
No país rico que é a Alemanha, o sistema
de saúde não estava preparado para a situação, embora cenários de uma epidemia
de longo alcance fossem considerados prováveis. A privatização desenfreada e a
orientação para o lucro têm custado tanto aos empregados como aos doentes.
Mesmo o dinheiro que inundou o sistema de saúde em face da epidemia de
coronavírus não foi usado para melhorar as infraestruturas, mas para garantir
lucros.
Os comunistas alemães dizem portanto: a
saúde não deve ser uma mercadoria; todas estruturas de saúde devem ser
propriedade de todos. A saúde é um direito fundamental.
O sistema de ensino da Alemanha também
não estava preparado para a situação de pandemia. As consequências foram
endossadas aos pais, às crianças e aos professores. A pandemia agrava a
exclusão social e as consequências são particularmente dramáticas para crianças
de famílias pobres, que não têm o seu próprio equipamento informático e que
podem não receber assistência com o ensino à distância. Não há nenhum apoio
especial para essas famílias, as escolas têm poucos funcionários e tudo isso se
está a tornar particularmente evidente mais uma vez.
Exigimos mais dinheiro para educação,
mais auxiliares de ação educativa, turmas mais pequenas, uma escola para todos,
sem privatizações.
Mas a crescente exploração económica é
apenas uma parte da luta de classes. A classe dominante também está preocupada
em desmantelar os direitos democráticos e sociais. As disposições da Lei do
Horário de Trabalho já foram alteradas para pior. As associações patronais
estão a exigir a diminuição da proteção contra os despedimentos, mais contratos
a termo, o desmantelamento dos direitos das comissões de trabalhadores. O
direito de manifestação foi restringido com a justificação da proteção da
saúde. No entanto, a sua reposição após a pandemia certamente não será uma
coisa pacífica, e serão necessárias duras lutas.
A situação pandémica também demonstrou
mais uma vez que a UE é um instrumento de exploração imperialista,
especialmente o imperialismo alemão. Países como Itália e Espanha não receberam
nenhum apoio. Ao contrário, quando o material médico era urgentemente
necessário na Itália, a Alemanha proibiu a sua exportação. Este país, o mais
afetado pela epidemia de coronavírus, recebeu apoio da China, de Cuba e da
Rússia, mas não da UE. As medidas entretanto adotadas pela UE visam também
principalmente estabilizar o sistema financeiro em benefício dos países mais
fortes da UE.
O aumento do armamento e da
militarização também estão a ser impulsionados à sombra da pandemia. Novos
programas de armamento e o apoio a empresas de armamento tornam-se condição de
atribuição dos pacotes de estímulo económico, mas também faz parte do esquema a
criação de um ambiente que leva à aceitação como normal da intervenção das Forças
Armadas em matéria de segurança interna sob o pretexto de combater a pandemia.
Mesmo que a manobra americana de grande escala, Defender 2020, apoiada por
outros Estados da OTAN, incluindo a República Federal da Alemanha, tenha sido
reduzida por causa da pandemia de coronavírus, isso de modo nenhum afeta a
política em curso de cercar a Federação Russa e a República Popular da China.
Pelo contrário, a propaganda antirrussa e antichinesa continua a crescer. Todas
as oportunidades são aproveitadas para endurecer as sanções.
Este ano, o DKP iniciou uma recolha de
assinaturas para o levantamento de todas as sanções, incluindo aquelas contra a
Rússia, a China, a Venezuela, Cuba e a Síria. Exigimos paz com a China e a
Rússia – vamos sair da NATO!
Internacionalmente, o imperialismo
alemão está a contar com a integração da NATO por um lado, abraçando
conscientemente o papel de parceiro menor do imperialismo dos EUA, enquanto
apoia a estratégia agressiva da NATO de cerco militar à República Popular da
China e da Federação Russa. Por outro lado, aposta na UE sob a sua liderança,
competindo neste aspeto com o imperialismo francês. A UE serve como uma região
interior para o seu próprio fortalecimento e como uma concorrente económica do
imperialismo dos EUA.
A integração na NATO, a liderança da UE
e o seu próprio fortalecimento também levam a contradições, incluindo aquelas
entre diferentes secções do capital na Alemanha. Quanto à política
economicamente agressiva do imperialismo norte-americano em relação à República
Popular da China, partes do capital e o seu governo estão divididos porque
precisam de manter relações económicas com a República Popular da China na sua
concorrência com o imperialismo norte-americano para o seu próprio
fortalecimento. Questão idêntica se coloca quando se trata de lidar com a
Federação Russa, como pode ser observado no tratamento do projeto do
gasoduto North
Stream 2.
A gestão da pandemia e a crise económica
global mostram mais do que claramente: o capitalismo não é capaz de resolver os
problemas dos trabalhadores, nem mesmo os mais pequenos. Torna-se óbvio que é
necessário uma economia planificada e a socialização dos meios básicos de
produção, em suma: um desenvolvimento socialista. Os sucessos dos povos da
República da China, Vietname e Cuba no combate à pandemia mais uma vez
demonstram a superioridade do desenvolvimento socialista. Para tornar possível
tal desenvolvimento, ou seja, mudanças revolucionárias em direção ao
socialismo, é necessária uma ampla aliança contra o capital monopolista. Isso
não é possível sem um forte partido comunista. Nesse sentido, ainda temos muito
trabalho a fazer.
Fonte: https://drive.google.com/file/d/1oivXo-NegL88uPdVbmibm1VHc5re1wf3/view, pp. 51-53, acedido em 2021/01/15.
Tradução do inglês de TAM
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