O VOTO INÚTIL
Desde 1976 até hoje os partidos
políticos que estiveram no poder, sós ou em coligação, foram o PS, o PSD e o CDS. A única excepção
foi no tempo da AD a participação do partido do Gonçalo Ribeiro Teles com o
Ministério do Ambiente.
Ao longo de 39 anos o essencial das
políticas praticadas por estes partidos caracterizaram-se por sucessivas
alterações da Constituição de Abril, já somam oito revisões, empobrecendo a
Democracia, retirando direitos, eliminando formas de participação popular,
facilitando as privatizações, o regresso da economia de casino e fomentando a
corrupção.
Se todas as promessas feitas nas sete
eleições anteriores para a AR tivessem sido cumpridas estaríamos por um lado
pior, felizmente não conseguiram materializar todas as piores; por outro lado a
quase totalidade das menos más igualmente não foram realizadas pois essas não
eram para cumprir, era mesmo publicidade enganosa que se irá repetir em doses
maciças nesta oitava campanha eleitoral para a AR.
A situação desastrosa a nível político,
social, financeiro e económico em que nos encontramos são o resultado de
décadas de poder dos partidos referidos, os tais do "arco do poder" ,
tudo gente "responsável", que se foram sucedendo em alternância com
promessas mentirosas, como actualmente, uns gabando-se de ter empobrecido o
país e que é necessário continuar pois se perderem volta o despesismo e tudo
será pior. Os outros prometendo austeridade mais leve e mais curta, uma pequena
devolução da TSU contra mais tarde serem punidos com menos reforma. Até o FMI
já propõe coisas melhores. Votar neste "arco da irresponsabilidade" é
um voto inútil, dado estes partidos não constituírem qualquer alternativa uns
aos outros, são a velha bolorenta e estafada alternância partidária das políticas
neoliberais. A escolha é entre o Purgatório e o Inferno. É um voto inútil e
perdido.
O PCP e o Bloco são partidos diferentes,
nunca governaram nem fizeram parte de qualquer coligação com o PS e a direita
(PSD/CDS). Com a direita foi e será sempre impossível a estes partidos
coligarem-se num governo, só num caso de calamidade extrema que esperamos não
aconteça será possível tal governo de salvação nacional.
Mas já aconteceu votarem em conjunto
para derrotarem o PS e o PEC IV na AR, o que provocou a situação actual. A
nível autárquico tem havido algumas situações de entendimento entre o PCP e os outros.
O PCP e o Bloco transformaram-se em
partidos de denúncia e protesto, acções que também são importantes na sociedade
mas isto só não chega, é curto. Verificamos que ao longo dos 39 anos a soma da
esquerda radical anda na casa dos 15% a 20%, com pequenas alterações.
Constatamos que este tecto não consegue ser furado por estas forças, por falta
de credibilidade pois de antemão é sabido e está já assumido pela maioria do
eleitorado que não irão ser poder, não se entenderão entre si nem com o partido
mais próximo deles, o PS.
Assim, eleitorado que tem simpatia por
eles vota muitas vezes no PS por considerar que será mais útil para derrotar a
direita. É um voto táctico, não de convicção, que não evita antes perpetua o
que se teme, desperdiçado, pois a
utilidade só tem sentido se for para mudar, criar uma alternativa democrática.
Este é o bloqueio no qual nos
encontramos, constante ao longo destes 39 anos, o qual tem sido prejudicial à
Democracia e não conseguiu impedir o avanço das políticas de direita e das suas
duras consequências. As maiorias absolutas, como está demonstrado, são um
perigo, é como passar um cheque em branco ao conto do vigário.
Nestas eleições teremos um problema
acrescido, os cadernos eleitorais. Com a austeridade a emigração de centenas de
milhares de portugueses vai contribuir para a abstenção. São vítimas que não
farão ouvir a sua voz, aqui e nos países para onde foram procurar alguma
dignidade para as suas vidas.
É nesta difícil situação que o
Livre/Tempo de Avançar tem de explicar que a pluralidade partidária é um bem,
só ela poderá contribuir para fazer sair a esquerda política dos seus castelos,
convergir para ter poder pois só com poder se pode promover o bem comum e só
assim o voto será útil e devolver a esperança e a confiança na democracia.
O voto no Livre/Tempo de Avançar será
por isso um voto novo para se concretizar esta necessária aspiração. O
Livre/Tempo de Avançar é a diferença necessária na AR para a existência de
alternativa democrática, condicionando arranjos com a direita e abrindo portas
para entendimentos à esquerda.
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