Concordo com quase tudo o que Joaquim Jorge diz, temos diferenças políticas mas tal não me impede de me reconhecer em muito do afirmado por JJ.
Também tenho frequentemente a sensação de pregar no deserto. Há anos que ando com mais alguns amigos a denunciar com provas irregularidades, violações de leis, negociatas a quem de direito (tribunais, ministérios etc...). E nada acontece, que saibamos. Perguntas que fazemos e requerimentos para consultar documentação ou não têm resposta ou somos obrigados a recorrer à CADA e, mesmo assim, com poucos resultados.
Não admira pois que os prevaricadores sintam que podem continuar com impunidade as suas acções lesadoras dos bens públicos. O silêncio dos jornais e rádios sobre o assunto evidenciam a conivência com os caciques e a sua dependência financeira em relação aos ditos. A oposição política não conta mas despertará no período eleitoral para mostrar que ainda sobrevive.
Mas como JJ não me consigo calar.
MC
Valerá a pena criticar?
Joaquim Jorge
02/08/2016
Seria mais cómodo nada fazer e dizer, mas ser “livre” é uma opção política.
Pessoas
como eu, que gostam de criticar e chamar à atenção para o que acham que não é
correcto e está mal, têm mais inimigos do que amigos. Recentemente fui alvo de
processo-crime pelo presidente da CM Gaia, por alegada difamação. As minhas
críticas sempre tiveram por base as razões e nunca ataques pessoais.
O problema para quem escreve, opina, intervém publicamente, tem que ver
entre uma linha de se incomodar e uma linha de não ligar e tudo aceitar. A
tentação de nada fazer por vezes é mais forte e cómoda do que actuar e
intervir.
Os políticos tudo fazem para que acreditemos nas suas boas intenções,
especialmente perto de eleições. O que é que eu pretendo ao intervir das mais
variadas formas: escrita, debates, rádio, televisão? Informar, denunciar,
alertar, revelar, demonstrar e por vezes acusar quando tenho provas evidentes.
No fundo, procurar melhorar a vida pública.
Mas por vezes sinto-me cansado de estar a pregar no deserto. Nada se
modifica e ninguém faz o menor caso. Porém não posso ser pretensioso ao ponto
de pensar que o que faço consiga mudar o curso dos acontecimentos. No fundo, sinto
que não tenho nenhum papel (apesar de me dizerem que tenho), daí, achar que
caio no ridículo por não me calar e conter, não tendo a mínima influência em
nada.
Critico muitas vezes o governo e recentemente presidentes de Câmara (Gaia,
Porto, Matosinhos, Maia, etc.) e nada muda. Deste modo tenho de dar razão a
quem acha que não vale a pena insistir e que não passo de um sonhador, que caio
no ridículo, sendo acusado de querer protagonismo.
Na cabeça dos governantes, nacionais ou locais, está a sua vitória nas
eleições e têm quatro anos para fazerem o que lhes apetece. Não importa, nem
conta, não cumprir promessas eleitorais, rasgar compromissos assumidos, enganar
e trair os cidadãos e causar danos irreparáveis nos cidadãos e no futuro.
Todavia, pensando bem, não consigo conter-me e deixar de denunciar abusos
de poder, injustiças, denunciar gente sem escrúpulos e canalhadas constantes
neste país. É importante tratar de abrir os olhos a quem os tem fechados,
procurar que as pessoas reparem no que se passa à sua volta e quem detém o
poder, argumentar contra as arbitrariedades, denunciar práticas ditatoriais
exercidas em democracia, protestar contra decisões tomadas, abuso dos direitos
e liberdades e advertir como formas menos lícitas de actuar e governar.
Seria mais cómodo nada fazer e dizer, mas ser “livre” é uma opção política.
Se falamos, caímos no ridículo e julgam-nos por segundas intenções. Se nos
calamos e nada fazemos, portamo-nos como cobardes e mansos.
Acredito que a influência é mínima ou zero, mas de uma coisa estou certo:
se não incomodarmos um pouco e não estivermos atentos ao que se passa, será
ainda pior.
Os políticos e quem governa querem aplausos, vénias e reverência. Tenho a
certeza que gostariam que desaparecêssemos, mas ao não conseguirem fazê-lo, ou
tentam silenciar-nos, ou não nos querem como inimigos declarados.
Vivemos uma crise de governação democrática representativa. Com frequência
vemos claros excessos do poder executivo, invadindo outros poderes do Estado,
como o Parlamento, ou submetendo o poder judicial, ou limitando a liberdade de
imprensa, ou perseguindo a opinião de adversários políticos.
O equilíbrio de poderes e as liberdades básicas ficam em risco pelo abuso
de poder. O voto dos cidadãos é manipulado nestas circunstâncias e a democracia
deteriora-se a favor do poder estabelecido.
Eu costumo dizer que tenho uma má relação com a verdade. Dizer as verdades
traz-me problemas. Winston Churchill dizia que “ a verdade é tão preciosa que
deve ser sempre protegida por uma guarda de mentiras”. O problema é que eu não
sei mentir…
Fundador do Clube dos Pensadores
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