A nível olímpico somos os mais fracos na Europa, como para tudo há uma explicação este artigo é uma achega.
A legislatura da redenção do Desporto
Fernando Tenreiro
19/08/2016 -
Esta é a legislatura e
o ciclo olímpico em que Portugal poderia redimir o seu desporto.
Há milhões de anos desde que surgiram os seres vivos estes brincam, jogam e
competem lutando pela sua vida e pela sobrevivência da sua espécie. As lutas
são escrutinadas, os vencedores lideram o seu grupo, a sua espécie, acasalam e
sobrevivem.
Os Jogos Olímpicos são
o megaevento onde a humanidade elege os campeões olímpicos imitando a natureza.
Os países de todo o mundo são racionais e assumem um sentido vital ao
investirem recursos públicos que são avultados na participação desportiva de
toda a sua população e na celebração dos seus campeões.
Nenhum povo do mundo
olha para os Jogos Olímpicos que não seja para verem os seus campeões nacionais
serem os campeões olímpicos que vencem todos os outros e sem chorarem o
investimento feito. Está em causa a sustentação geracional da sua nação e do
amor-próprio dos cidadãos na sua pertença que não teme competir e vencer entre
as melhores. Desde a recriação dos Jogos Olímpicos por Pierre de Coubertin, há
mais de 100 anos, Portugal tem dificuldade em conquistar medalhas olímpicas
sendo o país de menor sucesso europeu, o que ex-secretários de Estado do
desporto reconheceram há muitos anos.
La Fontaine conta a
fábula sobre a raposa e as uvas onde a raposa tenta alcançar umas uvas
apetitosas e, não conseguindo, desiste dizendo que as uvas estavam verdes. Pode
sugerir-se que fugir intelectualmente à competição olímpica é uma esperteza
como a da raposa que a política desportiva nacional veicula.
Porém, os problemas da
produção nacional de desporto surgem da ideologia de apagamento do Estado, da
ausência de ambição nacional, do esmagamento do financiamento público, do
fracasso das instituições e das políticas desportivas, da desvalorização das
federações e dos clubes, etc. Criar boas políticas desportivas visando o
sucesso olímpico dos atletas e das federações nacionais é responder ao querer
olímpico da população portuguesa e que nem sempre se tem feito em Portugal.
Esta é a legislatura e
o ciclo olímpico em que Portugal poderia redimir o seu desporto. Ao desporto
português falta, em primeiro lugar, a liderança para o consenso nacional sobre
a sua ambição desportiva. Em segundo lugar, definidos e quantificados os
princípios haverá que promover a concretização dessa ambição nacional aplicada
ao presente ciclo legislativo e olímpico. O primeiro desafio do consenso
nacional da ambição desportiva e olímpica caberá à Presidência da República e o
segundo desafio da concretização da ambição no presente ciclo legislativo e
olímpico caberá ao XXI Governo.
Nestes dois níveis
vários aspectos deveriam ser compreendidos. A criação de uma população ciente
da sua ambição desportiva e olímpica faz-se com direitos desportivos bem
definidos. Nomeadamente os direitos dos jovens relacionam-se com o seu
desabrochar físico e psíquico e a oferta de carreiras que facultem a sua
integridade física, psíquica, moral e política, assentes em condições
desportivas, económicas e sociais de sustentabilidade ao longo da vida.
No domínio da política
económica muito se fala da austeridade, acena-se com a sua agressividade e não
se referem as medidas de política desportiva para a combater, como as medidas
de eficiência económica que torneariam as condicionantes nacionais que afectam
a actividade das federações e dos clubes desportivos. A Conta Satélite do
Desporto decidida em 2014 é o exemplo de uma decisão de política desportiva que
gerou conhecimento capaz de melhorar a política económica em benefício dos
parceiros desportivos.
A análise dos dados da
performance olímpica demonstra a carência crónica de qualidade com que Portugal
se apresenta nos Jogos Olímpicos há vários ciclos legislativos e olímpicos. A
performance dos atletas portugueses no Rio de Janeiro sugere não só a ausência
de grandeza e competência da política desportiva nacional como também a falta
de suporte público à sua dedicação inquebrantável no investimento pessoal e na
excelência desportiva.
O fracasso relativo do
desporto português no passado deveu-se às políticas públicas que envolveram os
mais altos responsáveis da Nação. Em 2016, Marcelo Rebelo de Sousa, António
Costa, Pedro Passos Coelho, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Assunção
Cristas têm a responsabilidade nacional de definirem, nas instituições que
lideram e participam, o consenso da Visão do desporto nacional no século XXI,
assim como, a concepção e a operacionalização dos princípios, metas, programas
que as instituições nacionais deverão assumir para a concretizarem. Era bom que
não considerassem as vitórias conseguidas pelos atletas e equipas nacionais
como almoços grátis e pagassem essas vitórias com melhores políticas
desportivas nacionais.
Economista (fjstenreiro@gmail.com)
Com as condições em que os nossos atletas treinam, deram o tudo por tudo e...gostei.Que se lixem as medalhas!
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