AGUARELA
A aguarela foi uma
técnica utilizada na Idade Média nas iluminuras dos manuscritos (juntamente com
o ovo),que cai em desuso com o aparecimento do óleo,reaparece na
Renascença(Durer, Pisanello,Holbein e outros ), mas são os paisagistas ingleses
do século XVIII que irão popularizar esta técnica – Tuner e Cotman
designadamente , na forma como hoje ainda a praticamos . Conhecem-se aguarelas
egípcias do II séc. AC ilustrando os livros sagrados .
O seu nome vem do
italiano aquarello , que significa cor diluída em água .
Os pigmentos são
aglutinados pela goma arábica à base de resina de acácia ou eucalipto,
de mel , de glicose ou de
glicerina ( as de menor qualidade ) .
É uma técnica difícil de
dominar , não permite o erro , exige precisão do gesto e da pincelada , rapidez
de execução , paciência e conhecimentos . Ao contrário do óleo e outras
técnicas na aguarela o desenho adquire
grande importância .O dissolvente é a água e a aguarela fascina pela sua
transparência , frescura , intensidade das cores , o jogo de matizes e súbtis e
finas graduações de cores. Não há branco , o branco do papel seu suporte ideal
e quase exclusivo é o branco da aguarela . É este branco que transparece
debaixo das cores que dá a luminosidade tão específica da aguarela .A evolução
industrial e técnica da química veio
pouco a pouco substituindo os pigmentos de origem vegetal , animal ou mineral
por pigmentos sintéticos , alargando a gama de cores , a permanência e a
estabilidade das mesmas .
AS CORES
Existem várias e boas
marcas no mercado . Independente da marca as aguarelas ditas artistas e
as extra-finas são as de melhor qualidade , existindo também as finas
e as de estudo . As aguarelas são apresentadas em godets ou em
tubos . Os godets podem ser de porcelana , metal ou plástico ( os mais
baratos e de menor qualidade ) . Para manter a humidade da pasta as cores em
godet vêm embaladas dentro de caixas de madeira , metal ou estojos de cartão
para melhor conservação . As cores em tubo têm um maior grau de humidade e o
facto de se fecharem após o uso garante melhor conservação .Nas caixas
metálicas as tampas servem de paleta para misturar as cores . Pode-se comprar
caixas destas vazias e colocar lá a selecção de cores que mais nos convenha .
Após usar as cores em
godet é bom limpar estes com papel absorvente e fechar bem a caixa e a manter
afastada de fontes de calor para não detiorar as cores .
Hoje em dia existem
também aguarelas em potes e tubos, como a Karat Liqua da Staedtler , de
grande qualidade , usadas mais pelos ilustradores mas que são excelentes
aguarelas .
Outro material são os
lápis aguarela , de várias marcas e em caixas que vão de 12 a 120 cores . Os
lápis aguarela podem ser utilizados como uma técnica autónoma ou servirem para
técnica mista com a aguarela .
Hoje em dia existem
feltros à prova de água , tintas da china especiais e feltros aguarela usados
por muitos artistas .
Em relação à teoria das
cores o uso destas e as misturas são no fundamental semelhantes ao óleo .
Embora não seja corrente a aguarela pode ser utilizada em técnicas mistas com
as ceras , pastel a óleo e mesmo com o acrílico . A aguarela também é utilisada
por alguns aguarelistas em pinturas ao aerógrafo .
A aguarela é a arte da
transparência , existindo naturalmente cores mais transparentes do que outras .
Transparentes – Terra de Siena Natural , Azul Ultramar , Magenta
, Áureolina ;
Opacas –Terra de Sombra Queimada , Verde Óxido de Crómio ,
Amarelo Nápoles , Ocre , Cerúleo ,Vermelho Cádmio , Vermelhão , Amarelo Cádmio
;
Grande poder
colorante - Terra de Siena Queimada , Alizarina , Amarelo
Cádmio , Azul Phtalo ;
Pouco poder colorante
– Verde Esmeralda , Terra de
Sombra Natural , Ocre Amarelo .
O SUPORTE
O suporte por excelência
da aguarela é o papel especial feito expressamente para a pintura a aguarela .
Existem quatro tipos de
papel – acetinado , fino , rugoso e muito rugoso ou torchão . Os acetinados e
os de grão fino acentuam o brilho e a transparência mas dificulta a saturação
da cor , mais difícil de trabalhar , em particular na técnica a húmido para
dominar o controlo da aguarela . O rugoso permite que um picel bem embebido na
cor cubra grandes superfícies e um pincel com pouca tinta , seco ou semi-seco ,
deixe transparecer as covas das rugosidades . O torchão não absorve totalmente
a tinta , esta não vai até ao interior da folha , é absorvente só na superfície
. O torchão possibilita belas aguarelas
mas é igualmente difícil de trabalhar , exige grande prática da aguarela .
Aconselha-se que o papel
não seja inferior a 300 gr., pois nesse caso terá de sere fixado com fita
adesiva de ph neutro , para não criar bolsas ou encarquilhar .A partir de 400gr
é considerado papel cartão e com 600 gr
e mais oferece uma grande estabilidade .O papel fabrica-se a partir de tecidos
de linho ( o de melhor qualidade ) , de algodão ou misto de algodão e linho .
Aparece no mercado papel
de fibra de madeira e sintéticos que não são bons para a aguarela , não
garentem a homonegeidade necessária a esta técnica .
O papel de aguarela pode
ser feito manualmente ou em máquinas , sendo o artesanal de muito melhor
qualidade .
O papel aguarela tanto se
pode comprar em folhas como em blocos , existem as mais variadas dimensões .
Pode-se comprar folhas grandes e cortar no tamanho que mais nos convenha .
Um aspecto importante é o
de que o papel de aguarela deve ter ph neutro , isto é sem acidez , para não
alterar a cor da tinta e no futuro não degradar o trabalho .
MÉDIOS
Tal como para as outras
técnicas a aguarela possui vários tipos de médios . Alguns exs. :
-
goma
arábica – melhora a coesão e a
aderência , aumenta a transparência e a profundidade das cores . Deitar uma a
duas gotas na água limpa do recipiente que serve para tirar a água para
dissolver as cores (depende do tamanho do recipiente ) . Quando se fez uma
grande quantidade de cor uma gota ajuda à coesão da tinta ;
-
glicerina
– uma gota na cor evita as
escamas , melhora a flexibilidade e a densidade ;
-
Fiel de
Boeuf – facilita a aderência ,
designadamente no papel Tourchon ;
-
máscaras –
chama-se máscara à técnica que
consiste em proteger o branco do papel com um produto que impeça a tinta de
manchar essa área e que , depois de seca a tinta , se possa retirar o produto
deixando a descoberto o branco do papel . Os materiais mais usados são a goma
de borracha , a cera branca e o pastel a óleo branco ou a glicerina que repelem
a água defendendo a área que se quer proteger ;
-
granulados
– existem uns produtos no mercado
que dão corpo à aguarela que depois de seca fica com aspecto rugoso .Serve para
muros rústicos ,terrenos etc ;
-
máscaras
transparentes – produto que dado
sobre o branco do papel e depois de seco permite pintar por cima dando maior
transparência , ou dado sobre a tinta seca permite que a nova camada deixe ver
a inferior . Serve para dar efeitos especiais , transparência a zonas de água
etc ...
-
verniz – protege a aguarela que é muito sensível à luz e
tem tendência a esmaecer quando exposta a luz intensa . Os puristas condenam o
uso do verniz que dizem fazer perder a frescura e a espontaneidade .
- TÉCNICAS
Os puristas da aguarela só aceitam a tinta , o papel e o pincel ,
recusam tudo o resto.A controvérsia é grande e antiga sobre esta questão , mas
a verdade é a de que a aguarela como técnica difícil que é vive de muitos
expedientes e truques e nada impede de inovar no bom sentido, sem desvirtuar o
espírito e a essência da aguarela.
É uma questão de escolha e método pessoal .
Na aguarela pintar sempre do claro para o escuro .Escurecer só por velaturas
após as outras passagens estarem bem secas . Evitar dar mais de três passagens
, a aguarela perde frescura e transparência . Não esquecer que o branco do
papel é que dá luminosidade às cores .
Desenhar préviamente o tema da aguarela , de forma leve a lápis ou lápis
aguarela , quer antes de molhar o papel ou aplicar a cor . O desenho é um
indicativo , não se deve impor à cor . Também se pode desenhar com a própria
aguarela , mas neste caso a tinta deve estar bem diluída .
As técnicas de base mais comuns são quatro : pintar a seco sobre seco
, húmido sobre húmido , seco sobre húmido e pincel seco .
Evitar a húmido sobre seco pois existe o perigo de manchar e alterar
as cores . Na aguarela as cores a húmido têm uma intensidade maior que se
atenuam quando secas. Importante experimentar a cor num papel separado antes de
a aplicar para ver se o tom é o pretendido quando seca .
A aguarela vive muito do branco do papel pelo que é fundamental reservar os
brancos e os brilhos desde o princípio através de máscaras . Dominar a tinta de
forma a que esta não invada a zona que queremos que fica branca , caso não se
recorra à máscara , exige uma técnica muito apurada e grande experiência .
Não se devem multiplicar os brancos , em princípio recomenda-se só um
branco puro central ( depende do trabalho , mas muitos brancos roubam
expontâneidade à aguarela ) .
Deve-se pintar com o papel ligeiramente inclinado , ajuda a dominar e a
controlar o movimento da tinta . Caso se pinte com blocos o problema está
resolvido . Se a folha é solta quer seja a aguarela a seco quer a húmido (
depois de a molhar ) , deve ser fixa com fita adesiva não ácida a um suporte
rijo , cartão forte ou contraplacado . Isto impede a folha de inchar e deformar
.
A aguarela é água , um lavis , evitar por isso encharcar o pincel e
procurar estender a pintura . Caso a superfície a cobrir seja grande a tinta no
pincel deve estar de acordo com a área .
Frottis – é possível com o
pincel quase seco ;
Aplat – da esquerda para a
direita , de cima para baixo , com muita tinta e quando chegar ao fim da folha
seguir no sentido inverso (direita para a esquerda ) , invertendo sempre o
movimento até cobrir a zona que se pretende absorvendo com o pincel o excesso
de tinta no final ;
Velaturas – são
como filtros , pedem intensificar a cor ou ter cores diferentes da inicial ,
por ex. um azul sobre amarelo dará um verdoso . As cores com menos poder
colorante e as mais transparentes são melhores para os glacis . A
Alizarina desde que bem diluída dá boas velaturas ;
Lavis – é uma técnica que
consiste em realizar uma agurela sem cor . Regra geral são feitos à base de
terras .
Certos pigmentos como o cobalto , as terras , o azul ultramar , devido à
sua densidade/peso anicham-se bem às concavidades do papel e produzem um efeito
granuloso que se pode explorar para dar efeitos .
TRUQUES
Para absorver e criar
espaços mais ou menos brancos usar papel absorvente , algodão , esponja ou um
pano absorvente . Por ex. para obter efeitos de nuvens , a pressão maior ou
menor retira mais ou menos tinta .
Se deitarmos sal sobre a
tinta quando húmida produz manchas e efeitos . Retirar o sal quando a tinta
secar .
Esponja húmida de cor
sobre seco , por ex. para imitar folhagem . O secador de cabelo para acelerar a
secagem da aguarela .
Pode-se dar efeitos de
raios de luz com lápis branco ou giz . Lixívia diluída a 50% na água come a cor
e dá brancos . Cuidado para não abrir buracos no papel .
Raiando com o cabo do
pincel sobre húmido ficam traços . Por ex . para caules ,ervas , pequenos
troncos .
Uma lâmina de barba , um
canivete ou mesmo uma lixa abre brancos ,por ex. reflexos na água , velame ou
ramos .
Uma escova de dentes para
salpicar uma zona . Um vaporizador para humedecer uma zona , ou com cor para
borrifar e dar efeitos de textura .
Um papel não absorvente
para friccionar e obter texturas . A terebentina sobre húmido produz efeitos .
Fio ou etiqueta para
marcar ou preservar uma área .
Tunner , um dos maiores
aguarelistas , pintava as costas do papel em certas zonas para acentuar essas
partes .
OS PINCÉIS
Os pincéis para a
aguarela têm várias formas e tamanhos conforme o uso a que se destinam .Os de
pelos naturais são os melhores mas existem sintéticos de boa qualidade.
As características fundamentais
são a suavidade ,flexibilidade,elastecidade,a capacidade esponjosa de
absorver/reter bastante tinta .
Oa de pelos de marta
combinam todas estas qualidades e tanto servem para os largos aplats
como para finos traços . Os petits-gris , de pelos de esquilo , são
excelentes e bons para os lavis . Os de pelos de Putois
igualmente bons para os lavis , usados para molhar o papel devido à boa
absorção de água , para fundos e dégradés . Os pincéis de Oreille de
Boeuf servem para molhar o papel , fundos e céus .
Os sintéticos gastam-se
mais depressa e por isso misturam pelos naturais para melhorar a absorção de
água e a resistência . Da qualidade e quantidade dos pelos misturados depende a
qualidade do pincel .
Pincéis mais largos ,
tipo spalter , em petits-gris ou sintéticos , são usados para
cobrir grandes zonas de cor .
As sedas de porco servem
para misturar cores e , devido à sua rigidez , para os frottis .
Quando se pinta a
aguarela devemos ter dois recipientes com água , um para ir lavando os pincéis
e outro com água limpa para dissolver as cores . Alguns aguarelistas só usam um
para tudo pois afirmam que a água dos pincéis ao dissolver as cores harmonizam
estas enriquecendo o trabalho . Necessário lavar regularmente os pincéis com
água morna e sabão , apertar e sacudir para que não percam a forma e a ponta ,
guardar com os pelos voltados para cima
.
Para as máscaras usar
pincéis velhos ou baratos , proteger mesmo assim os pelos com sabão e lavá-los
de seguida .
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