sábado, 25 de abril de 2015

VIVA O 25 DE ABRIL!

 
Como o tempo passa! Na noite de 24 para 25 de Abril de 1974 tinha 33 anos, pertencia ao PCP e era membro da Comissão Executiva da CDE de Lisboa. O ano de 1973 tinha sido um ano de lutas intensas, greves, o Congresso de Aveiro, as "eleições" para a Assembleia Nacional que gerou grandes manifestações contra o fascismo e a guerra colonial. Muitas prisões e repressão. O ano de 1974 continuara a luta, tinha havido o fracasso militar das Caldas da Rainha mas sabíamos, os que estavam mais empenhados na luta, que o fim estava próximo, a coisa mexia.
Foi pelas 05h00 que o telefone tocou, a essa hora já sabíamos que era coisa grave, mais um amigo  ou camarada preso, ou alerta para tomarmos precauções que poderíamos vir a ser presos ou detidos ou a casa ser passada a pente-fino pela PIDE. Por isso foi com um arrepio pela espinha acima que ouvi a voz do amigo jornalista Armando Pereira da Silva dizer:- é desta! Liga a rádio, o Movimento das Forças Armadas está a transmitir comunicados. A partir daí passei eu a telefonar para todos os amigos e conhecidos a dar a boa-nova. Um ouvido na rádio e outro no telefone. E a rede do anuncio da Liberdade  foi crescendo pelos fios do telefone.
 
Coloco aqui um texto que hoje pus no facebook.
Estive a ler o programa do 25 de Abril em VRSA. Poderia ser outro, dados os tempos que vivemos penso que regressar a valores de solidariedade, de honra e dignidade, por exemplo, seria mais apropriado e educativo. Hoje basta olhar diariamente para as primeiras páginas dos jornais para se constatar que o país está podre.
Só uma vez fui assistir à Sessão Solene que na altura teve lugar no Centro Cultural António Aleixo,  e jurei a mim mesmo não voltar a pôr os pés em tal acontecimento. Fiquei enjoado, para não carregar na palavra.
Tenho esperança que virá um 25 de Abril que faça justiça e relembre os cidadãos deste concelho  que deram o seu contributo para que a democracia fosse possível, colocando em risco o seu ganha pão, a sua liberdade, a sua família e a própria vida. A maioria eram cidadãos modestos, não mediáticos, talvez por isso, por serem honrados, nunca foram homenageados.
Regresso a uma proposta que tenho formulado várias vezes, a de ser colocada em sua memória uma placa no edifício em que funcionou a PIDE.
Não me recordo de todos, nem dos seus nomes completos, mas deixo aqui a minha pequena homenagem a essas mulheres e homens que tiveram a coragem, em tempos difíceis, de dizer não!
LISTA DE DEMOCRATAS E PRESOS POLÍTICOS DE E EM VRSA                 
 
                                                                                                                                                                        Afonsina
Alfredo Rodrigues                                                          
Amaro
António do Carmo
António José dos Santos Varela
António Mascarenhas
António Rosa Mendes
António Samúdio                                                             
António Vicente Campinas                                            
Drº Colaço Fernandes
Drº Lancastre ou Lencastre                                           
Drº Medeiros                                                                  
Emídio da Palma Guerreiro
Epifâneo Soares Correia
Fernando Bandeira do Carmo- Preso em Angra do Heroísmo de 8/9/34 a 25/6/43- de 43 a 45 em Peniche e depois transferido para o Aljube até...
Francisco Lopes Madeira                                               
Gavino Rodrigues (14 anos no Tarrafal, 17 ao todo) 8/9/34 para Angra do Heroísmo, para o Tarrafal em 23/10/36 e regresso a Lisboa em18 de Outubro de 1945 e libertado em 1946
Ilídio
João da Quita
João Rodrigues  (da Quita)(preso no Tarrafal)     8/9/34 para Angra do Heroísmo,  para o Tarrafal em 23/10/36, regressou a Lisboa em 6/8/1950,  para Peniche e liberdade condicional em 17/3/51   
Joaquim Batista Pedro Correia (Cumbrera) 
Joaquim Martins (Unguento)
José António Mascarenhas
José dos Santos Viegas
José Manuel Pereira
José Ramalho
José Ramos Iria                                                               
Júlio Padesca
Madeira (Neto)
Manuel Cabanas
Manuel José Silva
Manuel Rosa Mendes
Maria das Dores Gutierres Dominguez Medeiros (Lolita)
Márinho
Neves
Paula Virgínia Rodrigo Lopes
Pessanha
Ronguel
Roque
Rosa Maria Filipe Martins
 Sebastião Guerreiro
 Salgueiro
 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

ANDAMOS A DISCUTIR AO CONTRÁRIO!



Opinião

Os cidadãos à procura da política


14/04/2015

Estamos a discutir as presidenciais porque isso, pelo menos, parece ser um acto político e parece ter um cheirinho de oposição

Porque é que estamos a discutir as eleições presidenciais de 2016 em vez de discutir as eleições legislativas de 2015? Mais precisamente: porque é que estamos a discutir as presidenciais do ano que vem em vez de discutir a política que o Governo está a levar a cabo hoje e as alternativas que deviam ser postas em prática?

Porque é que contamos votos para 2016 e não juntamos as vozes em 2015? Porque é que discutimos uma coisa que ainda não aconteceu e que não temos razão para recear que seja uma catástrofe, em vez de discutirmos as catástrofes reais que estão a acontecer diariamente debaixo do nosso nariz, das privatizações de empresas públicas à destruição da escola e da investigação, da privatização da saúde à destruição da segurança social? Porque é que deixamos passar alegremente as declarações assassinas de Passos Coelho e de Paulo Portas sobre a necessidade de “reduzir o custo do trabalho” para as empresas portuguesas – maneira encapotada de dizer que os salários devem ser ainda mais baixos – para nos prendermos com as tontices menores de Sérgio Sousa Pinto sobre um candidato presidencial? As razões estão longe de ser boas, mas a verdade é que existem.

A primeira razão para o interesse prematuro que as eleições presidenciais despertam consiste no facto de essa ser, neste momento, a única coisa política que existe para discutir. Não que não haja temas nem razões diárias para discutir política. O que escasseia são os litigantes nessa discussão, as propostas em cima da mesa e, mais ainda, a defesa firme de uma posição. Faltam ideias e faltam campeões dessas ideias. As arenas onde tudo isto devia acontecer estão quase vazias. O que falta é o PS a fazer oposição e a dizer claramente o que quer e a mostrar que quer algo muito diferente do que o Governo faz. O que falta é o resto da esquerda a mostrar que quer pôr em prática outra política e não apenas enunciá-la. A política tem horror ao vazio e os cidadãos também e, na falta das grandes batalhas exaltantes que devíamos estar a travar, escolhem as batalhas menores, qualquer coisa que lhes dê a sensação de estarem vivos. António Costa não percebe isto e decidiu fazer seu lema a triste boutade de Seguro: “Qual é a pressa?”. Costa não percebeu que o tempo de fazer oposição é já, como não tinha percebido que tinha de sair da Câmara de Lisboa para ser líder do PS, como não tinha percebido que devia desafiar Seguro antes que ele transformasse o PS numa reunião Tupperware. Estamos a discutir as presidenciais porque isso, pelo menos, parece ser um acto político e porque parece ter um cheirinho de oposição e até pode estimular a oposição. Costa tem toda a razão do mundo quando diz que as presidenciais podem esperar, mas só tem sentido dizer isso se fizer oposição entretanto, se em cada momento denunciar os malefícios da governação e apresentar as alternativas necessárias que defende. Se as presidenciais entram na agenda do PS só depois das legislativas, se o programa de Governo do PS vai ser apresentado em Junho e se entretanto o PS vai para banhos deixando o campo aberto à propaganda do Governo, temos boas razões para nos interrogar se existe realmente um pensamento político alternativo no PS ou apenas um leve enfado por estar na oposição.

Outra boa razão para darmos esta atenção às presidenciais são os pobres media. Os pobres media que vivem aterrorizados perante a ideia de referir nem que seja de fugida uma ideia que não saia dos partidos do “arco da governação”, com medo de serem acusados de fazer política (o que significa que só raramente referem uma ideia de esquerda). As televisões percebem que é escandaloso ter três peças onde aparece Pedro Passos Coelho, mais um especial com Pedro Passos Coelho em directo durante vinte minutos, mais dois comentadores do PSD a falar de Pedro Passos Coelho, mas não têm coragem ou capacidade para fazer outra coisa. As presidenciais são um maná. Pode falar-se de pessoas evitando cuidadosamente qualquer substância política e explorando apenas sound bites e insinuações de ciúmes. Faz-se presidenciais para não fazer outra coisa, porque não há outra coisa para fazer e porque não se quer fazer outra coisa.

Outra razão ainda é o facto de terem surgido vários independentes na pré-corrida e, no actual estado de degradação dos maiores partidos, este será, com razão ou sem ela, um factor de esperança para uma parte considerável do eleitorado. O interesse pela presidenciais é também um sinal da desgraçada reputação dos políticos do costume. O facto não é preocupante em si, mas é preocupante que os partidos (com o PS à cabeça) tenham dado mais uma vez um sinal da sua graça, tentando projectar lama em todas as direcções.

Finalmente, há outra boa razão para falar de presidenciais. É que as presidenciais vão ser o momento onde nos veremos livres daquele espectro que assola a política e que nos envergonha tanto ou mais do que PPC. E isso, só por si, é uma boa notícia. E estamos precisados de boas notícias. Nem que seja só daqui a um ano.

 

jvmalheiros@gmail.com