quinta-feira, 21 de julho de 2016

TURQUIA - ISLÃO RADICALIZA-SE


A História da Turquia moderna é desconhecida da maioria das pessoas. Resumir não é fácil. Kemal Ataturk, um militar prestigiado, no rescaldo da I Guerra Mundial conseguiu tomar o poder e proceder a profundas reformas políticas, económicas, culturais que liquidaram o que restava do Império Otomano.                                                                                                              Estabeleceu um Estado separado da religião muçulmana, democrático e secular, republicano, revolucionando o ensino que era basicamente religioso, incluso promulgou em 1934 uma "Lei das Roupas Proibidas" , o funcionalismo passou a vestir à ocidental, o chapéu substituiu o fez, o lenço desapareceu das repartições e escolas.

Este regime que passou a ser conhecido por "kemalismo" teve como garante os militares que, até agora, sempre se opuseram ao regresso do islão ao poder condicionando a vida da sociedade.

Nos últimos anos o fenómeno da crescente influência do islamismo nos países da região impulsionou o partido de Erdogan a ir, gradualmente, criando situações de facto confrontando a Constituição e as leis. Eliminação e ilegalização de opositores, mordaça à imprensa,, intimidações e prisões de jornalistas, autoritarismo crescente, permissão do regresso do véu ao funcionalismo e escolas, endurecimento da repressão aos curdos e, sobretudo declarações públicas e apelos a modificação da Constituição e regresso do Islão como política do Estado.

O "golpe" fracassado foi provocado intencionalmente por este afrontamento de Erdogan com os militares e a democracia, daí a sua frase que foi uma ajuda da "mão de Deus", aproveitada

para Erdogan  decapitar todo o aparelho estatal turco para o converter no braço político do seu sultanato islamista. Os números dos presos e detidos impressionam, tal extensão comprova que as listas estavam feitas há muito. Quem são os presos e detidos? Não é o Manuel pedreiro, ou o José operário, o Luís empregado de escritório etc. São militares, polícias, Juízes, funcionários públicos, reitores e professores, membros de serviços de saúde, jornalistas. O Manuel, o José, o Luís podem esperar, chegará a sua vez, dado ser impossível que contra a política autoritária de islamização de Erdogan os opositores só se encontrassem no sector estatal e público. A pena de morte visa instalar o terror e fazer entrar em pânico a oposição, para tal alguns mártires são necessários. Os curdos que se cuidem. O chamado "daesh" exulta. O islamismo radical está na fronteira europeia. O Kadafi bem alertou, caso a Turquia entre na UE entra o cavalo de Tróia que a irá islamizar.

Junto um artigo que nos ajuda nesta embrulhada.

 MC


De Erdogan a Marine Le Pen
Por José Manuel Oliveira Antunes
20/07/2016
No Ocidente estamos cheios de cinismo, coisa que não se deve confundir com diplomacia.
É uma irreprimível tentação associar as imagens de Erdogan na sua chegada triunfal a Istambul, depois do golpe militar falhado, com as imagens de Hitler a voltar a Berlim, em 1944, após o também gorado golpe militar liderado pelo coronel Von Staufenberg.
Erdogan é um ditador islamita, com especial rancor pelo Ocidente e pelos valores laicos que nos regem. É um autocrata, inspirador do ISIS, algo mais próximo do sultão de um califado do que de um Presidente eleito de uma república. Não será exagerado designá-lo como um fascistóide, cujo extremismo mal disfarça.
É um facto que não há nenhuma simpatia na Europa e nos EUA por Erdogan. Por isso, passámos do sincero desejo de sucesso do golpe — admitindo, por ora, que não foi uma encenação — para, de um modo algo constrangido, aceitar que, afinal, o mau tinha ganho. Por razões tácticas (o acordo de troca de refugiados, por dinheiro) e estratégicas (a importância da Turquia na NATO), alguns políticos e até comentadores lembravam que afinal Erdogan havia sido democraticamente eleito e que um golpe militar não é meio legítimo para derrubar um Presidente eleito.
E aqui chegamos ao primeiro erro grave. Hitler, que aqui referimos como exemplo, não tomou o poder através de um golpe de Estado. De facto foi eleito, por voto secreto e universal. Em 1933, o partido nazi obteve mais de 34% dos votos e constituiu um governo legítimo, apoiado por partidos conservadores alemães. Julgava a direita alemã que poderia usar Hitler para acabar com os comunistas e, depois do trabalho feito, mandavam discretamente o cabo Hitler de volta a casa. Viu-se.
Uma vez legitimado democraticamente no poder, a principal tarefa de Hitler foi destruir, imediatamente, o sistema que usou para se fazer eleger. Se o golpe militar de Von Staufenberg tivesse ocorrido em 1933, também seria uma acção ilegítima? Afinal, o Sr. Hitler tinha sido democraticamente eleito. Convém, por isso, termos cuidado com certos simplismos.
Mais recentemente, na Argélia, em 1992, um golpe militar impediu os islamitas da FIS de tomar o poder, para o qual tinham sido democraticamente eleitos. Isto, claro, antes que tais fanáticos fizessem um banho de sangue no país. No Egipto, em 2012, Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, também democraticamente eleito, foi deposto pelos militares, depois de uma curta experiência governativa que, a continuar, levaria o Egipto ao caos.
Mas no Ocidente estamos cheios de cinismo, coisa que não se deve confundir com diplomacia. Propusemos e negociámos com Erdogan um acordo sobre refugiados, que contraria todas as convenções de protecção em que os europeus e os norte-americanos foram pioneiros e que assinaram desde 1951.
O segundo erro são as classificações que convenientemente adoptámos no Ocidente sobre islamitas. Há os moderados, os que "não se sabe bem" e os radicais. Se assim continuamos, temos de rever a História, e também teremos fascistas moderados, nazis civilizados e racistas tolerantes.
Sejamos claros: islamitas são as pessoas, (elites políticas, clérigos ou povo) que professando a religião de Maomé não aceitam a separação entre a Igreja e o Estado. Entendem que todos os cidadãos, quer professem ou não tal religião, têm de sujeitar a sua vida e os seus comportamentos às leis e aos costumes inscritos no Corão. Quem assim pensa, seja radical ou moderado, é inimigo (não se tenha medo das palavras) da nossa liberdade. Sejam estes inimigos da nossa liberdade uma minoria ou a maioria de um povo, o ódio à liberdade não deixa de ser ódio, só por ser professado por uma maioria.
O terceiro erro é a complacência com gente como Erdogan. Em 1941, Churchill foi profundamente pressionado, (com excepção de Anthony Eden) pela direita inglesa e antes por Eduardo VIII, para pactuar com Hitler e deixar o resto da Europa sob o jugo da tirania nazi. Para não ceder à submissão, para a qual os seus próprios pares da direita o queriam empurrar, não hesitou em recorrer ao apoio dos ministros da esquerda trabalhista, para rejeitar qualquer pacto ou complacência com o regime nazi.
Os actuais líderes das democracias ocidentais (EUA, França, Alemanha e Reino Unido, especialmente) estão dispostos a combater realmente os islamitas? Para o que não basta certamente fazer obituários pomposos, funerais de Estado, missas e lamentos. Ou preferem que isso seja feito por "amigos da liberdade" como Marine Le Pen ou Donald Trump?
Jurista