segunda-feira, 26 de novembro de 2018

PACHECO PEREIRA E VRSA


ORA DIGAM LÁ SE NÃO SE APLICA A VRSA A MAIOR PARTE DESTE TEXTO?



A entrada dos drones na vida política nacional
A excepção é as coisas funcionarem bem – ou seja, dito à bruta e sem rodriguinhos, Portugal é um dos países mais atrasados da Europa.
JPPereira
24 de Novembro de 2018
Está toda a gente indignada com o “falhanço do Estado” no caso da estrada que ruiu matando pelo menos cinco pessoas. E devem estar não tanto pelo “falhanço do Estado”, porque, para além de ser um falhanço, o falhanço é a regra. A excepção é as coisas funcionarem bem — ou seja, dito à bruta e sem rodriguinhos, Portugal é um dos países mais atrasados da Europa.
Repito: Portugal é um dos países mais atrasados da Europa, em que as infra-estruturas estão envelhecidas ou nunca foram modernizadas, não existem onde deviam existir, em que faltam serviços essenciais por todo o país, com mão-de-obra muito pouco qualificada, com patrões muito mal preparados, com baixa produtividade, com uma administração burocrática que não promove o mérito, e é corrupta e clientelar, com instituições de regulação que não regulam nada, com inspectores que não inspeccionam nada, com um território que não tem qualquer policiamento fora das cidades, com escassez de meios para tudo e abundância de desperdício por todo o lado. Podia encher o jornal todo e ainda dava para muita edição.
Comparem estatística a estatística e, de novo, salvo raras excepções, Portugal fica num mau lugar. Um país com tanto atraso estrutural gera inevitavelmente má governação a nível local e nacional, porque falta massa crítica para fazer melhor. E falta pressão para que tal aconteça. Por isso temos o Estado que temos e somos, por regra, tão mal governados. As desigualdades são talvez a melhor marca desse atraso.
Mudou muita coisa nos últimos 40 anos? Mudou, claro, e muita para melhor, mas o atraso era enorme e hoje continua grande. Como dizem os saudosistas do salazarismo, havia muito ouro no Banco de Portugal, mas o preço desse ouro entesourado era uma elevada mortalidade infantil e analfabetismo, a exploração dos mais pobres, uma guerra e uma ditadura. O 25 de Abril fez muito para retirar o país do seu atraso, através desse valor intangível da democracia, mas está longe de ter conseguido dar a volta a muito do atraso atávico do país. É como com as chuvas de 1967, que mataram em Loures, mas apenas molharam em Cascais. 
Mas não se iludam: a maioria dos portugueses pode protestar muito, nos cafés antigos, e nos cafés modernos que são as redes sociais, mas, com excepção dos seus imediatos interesses, não quer saber muito disto é até colabora participando na pequena corrupção, na fuga aos impostos, nos pequenos truques quotidianos com o ambiente, a qualidade dos alimentos, as obras na casa, etc., etc. Só se preocupa com a pátria pelo futebol e de resto manifesta uma indiferença cívica total.
Porque os portugueses são maus ou um caso perdido? Não, nada disso, são como todos os povos, só que pagam o preço do atraso do seu país, tornando-se, pelas suas atitudes, parte desse atraso. O que é que se espera de pessoas pobres, sem grande educação formal, vivendo uma vida dura, acantonadas num diálogo cívico miserável, que é o que se passa nas redes sociais, sem poder e com muitas dependências para exercer o pouco poder que tem, sem conhecer os seus direitos, numa sociedade e com uma política que faz tudo para os embrutecer?
Mas foram eles que permitiram a negligência criminosa daquela estrada? Não, não foram. É sempre em primeiro lugar o governo. Mas, a sua quota-parte de responsabilidades está na sistemática falta de protesto cívico, de punição pelo voto de autarcas e governantes que tão mal gerem os dinheiros públicos, e por muitas vezes fecharem os olhos ao facto de a gestão ser tão má que deixa cair pontes e estradas, como é má gestão fazer um pavilhão gimnodesportivo que custou milhões e depois deixam estar fechado a degradar-se, mas que queriam muito para a sua terra. Ou quando nem querem ouvir falar do encerramento de pedreiras ilegais ou fábricas pirotécnicas, porque dão emprego onde não existem alternativas. Por todo o país fora, até um dia em que as coisas correm mal.
E também não tenham ilusões: este caso só teve a cobertura mediática que teve porque os cenários eram espectaculares para a televisão, e os drones tornaram muito barata a filmagem aérea. Se as mesmas cinco pessoas morressem numa curva de uma estrada contra uma árvore, mesmo que a curva devesse estar há muito sinalizada e houvesse quem tivesse chamado a atenção para a incúria face ao perigo, as notícias não duravam um dia, nem havia debates, nem ia lá o Presidente, nada. Era um não-caso. Só que, aqui, aqueles gigantescos buracos eram magnífica e dramática televisão, e é por isso que temos um “caso”. Os drones entraram definitivamente na vida política portuguesa.
Colunista

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A EUROPA ESTÁ SURDA E MUDA


Uma Europa Sustentável – o grande desafio das próximas eleições europeias
É hora de os líderes políticos europeus perceberem que um futuro sustentável para todos só é possível num planeta onde a natureza prospera.
22 de Novembro de 2018 Ângela Morgado
 Os resultados das próximas eleições para a União Europeia (UE) irão afetar o modo de vida dos cidadãos europeus, e de todos os portugueses, nos próximos anos.
Os candidatos e futuros líderes da UE devem colocar o bem-estar das pessoas no centro das suas reflexões e das suas ações. Um pacto político assente num conjunto de objetivos e ações sobre alterações climáticas, proteção da natureza e desenvolvimento sustentável, a ser levado a cabo nos próximos cinco anos, é o que se impõe para preservar o bem-estar das pessoas na Europa.
Tais objetivos e ações representariam um reforço da segurança, melhorias na saúde e mais empregos para os europeus e aumentariam a competitividade económica, contribuindo para uma Europa globalmente forte e respeitada.
Amplos setores da comunidade europeia estão preocupados com a segurança e o desemprego, mas não podem esquecer que os cidadãos estão apreensivos com o impacto crescente das alterações climáticas e da degradação ambiental – desafios que estão intimamente relacionados com a estabilidade e segurança futura das nossas sociedades.
Os últimos dados disponíveis sobre o estado de saúde do Planeta (edição 2018 do Relatório Planeta Vivo da WWF) revelam que a vida selvagem diminuiu drasticamente desde 1970. As estatísticas são assustadoras e mostram que as populações globais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram em média 60% entre 1970 e 2014. As principais ameaças às espécies estão diretamente ligadas às atividades humanas, incluindo perda e degradação de habitats e sobreexploração da vida selvagem. A humanidade, em geral, continua a exercer uma pressão sem precedentes sobre a natureza contribuindo para a sua perda acelerada.
É hora de os líderes políticos europeus perceberem que um futuro saudável e sustentável para todos só é possível num planeta onde a natureza prospera e florestas, oceanos e rios estão cheios de biodiversidade e vida.
Combater as alterações climáticas e conter a degradação ambiental são requisitos base para se construir uma Europa verdadeiramente estável, mais segura, mais competitiva e com mais influência no panorama global. Só protegendo a natureza, que é a base da vida humana, poderemos ter uma Europa criadora de empregos a longo prazo e economicamente próspera e que defende o bem-estar dos seus cidadãos.
Para conduzir esta transição sustentável da Europa, os cidadãos precisam de líderes políticos com visão e determinação, capazes de romper com o pensamento, a forma de agir e com as respostas políticas habituais. Caso contrário, a Europa arrisca-se a perder a sua relevância num mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo que se debate com as ameaças impostas pelas alterações climáticas, pela degradação ambiental e pelas perdas naturais.
de lançar o seu Manifesto para a Sustentabilidade na Europa, propondo aos políticos que se empenhem numa transição sustentável que deve ser feita agora, sem hesitações, para salvaguardar rios livres e água de qualidade, florestas e ecossistemas saudáveis e paisagens naturais inspiradoras. Precisamos de criar um novo caminho que nos permita coexistir de forma sustentável com a natureza, da qual dependemos, e esse deve ser o grande desafio e a grande responsabilidade dos líderes políticos nacionais e europeus.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
Directora executiva da Associação Natureza Portugal, em associação com a WWF