domingo, 30 de outubro de 2016

POPULISMO



A lengalenga do “populismo”


29/10/2016



·        Já está! Depois de duas eleições consecutivas que o deixaram em irremediável minoria, Mariano Rajoy será confirmado hoje à tarde como primeiro-ministro de Espanha pela mão dos novos dirigentes do PSOE. Uma das elites políticas mais corruptas que se conhece no Ocidente continuará aos comandos do Estado, pode obstaculizar a justiça, controlar o Tribunal Constitucional, gerir os orçamentos por mais que a oposição lhos queira alterar. No Parlamento, os socialistas estarão sempre a meio da ponte, entre o medo de abandonar mais vítimas do sofrimento social às mãos da esquerda que não se rende e o medo de que Rajoy amue e, achando que se o não deixa governar, force novas eleições que agravem a pasokização do PSOE.

Dividido como em poucas ocasiões, o PSOE tem justificado com o perigo do “populismo de esquerda” a sua recusa em convergir com a frente Unidos Podemos, descrevendo-a como versão ibérica do chavismo, verdadeiro “inimigo da democracia”. Este recurso facilóide ao populismo como ideologia daqueles que, basicamente, se opõem a Bruxelas, ao consenso neoliberal de uma certa interpretação da globalização e à hegemonia norte-americana no mundo, reedita, afinal, a velha lengalenga de que “os extremos se tocam”, como se as extremas-direitas e as esquerdas que se não rendem defendessem as mesmas coisas.

Sempre que as crises económicas - as inesperadas ou as deliberadas - propiciam esta economia de tubarões em que vivemos, e em que a exploração e o abuso atinge no mundo do trabalho proporções insuportáveis, o stress social produz stress político e força à polarização. No campo eleitoral, são os partidos do poder (as direitas liberal-conservadoras e/ou democratas-cristãs, e a social-democracia) que pagam o preço de terem produzido (ou deixado que se instalassem) as lógicas económicas que propiciaram a crise, e que, pior ainda, a gerem dentro dos governos, em Bruxelas e nos megabancos internacionais, de forma tão injusta que lhe chamam “reformas estruturais” e outros eufemismos do estilo. Em perda rápida de representatividade, as forças políticas deste centrão queixam-se daqueles a que, para sua conveniência, chamam os “populistas”, com a mesma deliberada ligeireza com que habitualmente falam do “terrorismo” dos outros. Como se, cavaleiros impolutos da democracia, não se tivessem comprometido já com um dos lados da contestação, justamente o lado (extremo-)direito. Se hoje muita direita se diz chocada com Trump, quanto tempo demorou a chocar-se com Berlusconi, o seu alter-ego italiano? De que partido é candidato Trump? O dos dois Georges Bush. De que partido europeu faz parte Berlusconi? O de Merkel, Passos Coelho ou Rajoy.

Repassemos o mapa europeu. A extrema-direita é hoje a força política mais votada em três países da UE (Hungria, Polónia e Bélgica) e na Suíça, onde, escusado será dizer, está no governo com partidos da direita clássica. É o segundo partido mais votado na Dinamarca e na Croácia. Com mais de 10% dos votos, governa com outros partidos civilizados de direita na Finlândia, Letónia, na Bulgária e, fora da UE, na Noruega. Na Eslováquia, melhor ainda, está dentro de uma coligação dirigida por um social-democrata! Hoje com cerca de 1/6 dos votos, a extrema-direita já esteve no governo com democratas-cristãos e/ou liberais na Áustria (onde pode vir a obter a Presidência da República) e na Holanda. Fora do governo, ela é hoje a força mais votada em França, a terceira na Grã-Bretanha, na Suécia e, segundo as sondagens, na Alemanha. E vamos em 15 dos 28 países da UE! Por todo o lado, partidos da chamada direita clássica incorporaram um discurso nacionalista, xenófobo/anti-imigrantes, racista. A sua escolha está feita. Com a extrema-direita pode-se sempre falar de austeridade desde que ela afete apenas as minorias e se se negue a Bruxelas o acolhimento de um só refugiado que seja.

Só na Europa do Sul (e, talvez, na Bélgica, França, Alemanha, República Checa) a resposta social à crise reforçou alternativas políticas à esquerda, produzindo, ainda assim, todas as contradições do caso Syriza, forçando o PS português a uma solução que, apesar das suas evidentes limitações práticas, em 40 anos ele sempre recusara. A mesma que o PSOE continua a recusar. Como aconteceu nos anos 30 e, depois, na II Guerra Mundial, é deste lado que se tem repetido que a democracia se defende promovendo a igualdade, e não propriamente esperando que quem vota Trump “volte à razão”. Mas qual razão?


domingo, 23 de outubro de 2016

VIVA A VALÓNIA!


VIVA A VALÓNIA!



Após sete anos de negociações entre a UE e o Canadá estava tudo a postos para ser assinado o CEPA, tratado semelhante ao TTIP tantas vezes publicamente denunciado como um retrocesso civilizacional.

Assinado o CEPA o caminho ficava aberto para o TTIP, aceite um qual a razão para justificar não assinar o TTIP?

Na linguagem comunitária de pau habitual o CEPA trará mais 12 mil milhões de euros para a economia aumentado em 12% as trocas comerciais. Estamos fartos destes estudos e promessas que, pouco a pouco, ao contrário do prometido, em lugar do mel trazem o fel da austeridade. Quem se lembra hoje, por exemplo, do famoso relatório Cecchini de 1998 que contabilizava o "custo da não Europa" para pressionar o avanço para a situação em que hoje nos encontramos.

Nestas coisas os principais interessados, as pessoas que habitam a UE, pouco ou nada conhecem destes sete anos de negociações, nem imaginam o que está nesse CEPA que se preparavam para assinar. Nem neste nem no TTIP.

Dada a importância destes "tratados?" é espantoso o silêncio da imprensa sobre os mesmos, assim como o dos governos e da oposição política, ou dos sindicatos. Não há debate sobre eles, nem manifs, protestos, abaixo-assinados etc.

Mas como disse o poeta, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não. No caso presente foram os valões, uma espécie de aldeia gaulesa no meio do império de "césares" mais servos das multinacionais e do poder económico do que governantes, que vieram afirmar pelos seu Presidente Paul Magnette, chefe do governo regional valão, "que apesar das modificações introduzidas, o CETA continua a abrir brechas que prejudicarão a agricultura, o modelo social europeu e a autonomia política dos Estados".
E as modificações introduzidas, é bom que se saiba foram-no graças aos valentes valões


O Srº Junker, o tal que transformou o Luxemburgo num paraíso fiscal, pesaroso veio a terreno lamentar que os valões estão a " descredibilizar" a UE.

É devido precisamente ao comportamento de burocratas armados em reis absolutos que decidem a vida dos europeus sem lhes passar cavaco (salvo seja!), que a UE está descredibilizada perante os seus povos.

Vão tentar vergar os valões, mas o que eles já fizeram por todos nós merece o nosso respeito e agradecimento.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

E AGORA?


Aqueles que põem o seu dinheiro a bom recato


04/10/2016

Transferir a fortuna é muitas vezes um crime e quase sempre uma imoralidade que penaliza os cumpridores.

1. Há quem defenda que, em Portugal, não vale a pena tentar taxar os ricos porque há muito que os ricos portugueses tiraram toda a sua fortuna do país.

A expressão usada costuma ser “os que têm dinheiro já o puseram a bom recato” e é dita em geral não só em tom compreensivo mas com uma indisfarçável admiração pela habilidade demonstrada. Quanto ao “bom recato” é, evidentemente, um sítio onde o fisco não consiga chegar, um paraíso fiscal. A expressão revela uma ideia do fisco como uma entidade usurpadora, a par de um total alheamento do que seja a noção de bem público e um quadro conceptual onde os ricos possuem, talvez por direito divino, o privilégio de beneficiar do trabalho dos outros e dos serviços públicos pagos exclusivamente pelo dinheiro dos trabalhadores. É a posição dos que, no fundo, pensam, como Donald Trump, que os impostos são para os parvos e que fugir ao fisco é sinal de esperteza.

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O mais espantoso é que, quem ouve, assente muitas vezes com compreensão, esquecendo que essa colocação do dinheiro a “bom recato” é muitas vezes um crime e quase sempre uma imoralidade, que obriga os que não fogem ao fisco a suportar um esforço fiscal desproporcionado, pagando as estradas onde circulam os ricos.

O pensamento desses críticos da taxação dos ricos é que, se se taxarem os ricos eles fogem com os seus capitais e, sendo assim, é melhor deixá-los em paz sem os incomodar com o fisco, já que o resultado será o mesmo. Mas, mesmo que fosse assim (e não é) haveria a considerar a pequena questão da justiça fiscal. De facto, a política fiscal não serve apenas para financiar o Estado e deve ter uma função redistributiva, de forma a contrariar a acumulação crescente de toda a riqueza num número cada vez mais reduzido de mãos e a permitir que os mais desfavorecidos à partida possam ter a possibilidade de melhorar as suas condições de vida, nomeadamente através do sistema público de educação.

Como diz um dos homens mais ricos do mundo, o americano Warren Buffett, não suspeito de bolchevismo, o mercado pode ser “o melhor mecanismo para garantir que os recursos são usados da forma mais eficiente e produtiva (...) mas não é muito bom a garantir que a riqueza produzida é distribuída de forma justa ou sensata”. Porquê? Porque a riqueza passa de pais para filhos e acaba nas mãos de pessoas que não contribuíram de forma alguma para a produzir nem mostraram possuir, mesmo segundo o pensamento neoliberal, qualquer mérito que deva ser premiado. Para regressar às palavras de Warren Buffett, o que fazemos quando deixamos de taxar o património dos mais ricos de forma mais pesada, é como se “seleccionássemos para os Jogos Olímpicos de 2020 os filhos dos atletas que foram seleccionados nos Jogos Olímpicos de 2000”.

2. A propósito da taxação dos patrimónios imóveis mais valiosos, anunciada para o orçamento de 2017, ouvimos muitas das críticas referidas acima e, de uma forma geral, propagandear a ideia de que “a esquerda está contra os ricos”. De facto, haveria muitas boas razões para estar contra “os ricos”. A História não é avara em exemplos. Mas, pessoalmente, situado como estou na grande área política das esquerdas, onde confluem muitas ideias e muitas tradições diferentes, não me sinto especialmente contra os ricos. Se há uma coisa que acho admirável é correr o risco de investir, de criar uma empresa, criar emprego e produzir coisas úteis. E acho da mais elementar justiça que uma pessoa dessas enriqueça, desde que pague os seus impostos, respeite as leis e trate os trabalhadores de forma digna. O que acontece e é lamentável é que os ricos que merecem o nosso respeito são escassos. O que merece o meu antagonismo declarado são aquelas pessoas que enriquecem de forma incompreensível e que, para mais, se recusam a fazer a sua quota-parte na sociedade. Ou aquelas que, em vez de pagar impostos em Portugal, registam as suas empresas na Holanda ou no Luxemburgo para pagar menos e decidem pôr o seu dinheiro ”a bom recato” para que sejam apenas os que têm menos dinheiro a pagar as escolas e os hospitais.

JVM



Trump justifica-se: apenas usou “brilhantemente” as leis fiscais para pagar menos

Por PÚBLICO

04/10/2016

Fundação do candidato presidencial republicano foi proibida de angariar mais fundos. Trump usou expediente fiscal para escapar aos impostos durante 18 anos.



O actual presidenta da Comissão Europeia ajudou o Luxemburgo a transformar-se num paraíso fiscal. O Durão Barroso sai da Comissão e vai para dirigente do banco mais odiado do planeta.

O Belmiro do Continente e o Soares do Pingo Doce usam também "brilhantemente" as leis holandesas para não pagarem os impostos em Portugal devidos aos lucros com o nosso dinheiro.




"Não sei se ria ou se chore", diz vice de Merkel sobre o CEO do Deutsche Bank


03/10/2016

O ministro da Economia não gostou das declarações do responsável pela instituição bancária, que atribui os recentes problemas que o banco enfrenta à especulação bancária.

O vice-chanceler alemão e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, não gostou dos mais recentes comentários do presidente executivo do Deutsche Bank, John Cryan, sobre a actual situação do banco alemão. O vice-chanceler acusa o CEO de má gestão.

O ministro da Economia respondeu este domingo às declarações de John Cryan de sexta-feira, que em nota interna lembrava que a “confiança é a base do sector financeiro”. “Algumas forças do mercado estão a tentar prejudicar esta confiança”, escreveu o CEO do banco alemão, citado pela Bloomberg. John Cryan insistiu que “o Deutsche Bank tem muitos problemas, mas a liquidez não é um deles”.

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A resposta de Berlim chegou dois dias depois. "Não sei se ria ou se chore com o facto de o banco que teve um modelo de negócio baseado na especulação diga, agora, que é vítima de especulação", afirmou o vice-chanceler de Merkel, durante uma viagem de avião para o Iraque.

Citado pela Reuters e pelo Financial Times, o ministro da Economia sublinhou ainda a sua preocupação com os 100 mil trabalhadores do banco alemão. "O cenário são milhares de pessoas que vão perder o seu trabalho. Vão pagar o preço da loucura dos dirigentes irresponsáveis", disse Sigmar Gabriel.



NOTA : E eu sei que milhões choram e outros milhões estão a caminho de chorar pelo sofrimento das suas vidas fora os que se suicidaram. E os responsáveis "brilhantes" pela especulação insensível e desumana o que sofreram?

MC