quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

1º de Dezembro


https://www.youtube.com/watch?v=CX2roSxua3k



https://youtu.be/et7htg-wHZA?t=14



https://youtu.be/HmSh5iBW9rI?t=22



O Hino da Restauração , foi criado, em 1861, por Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida (1820-1869) para uma peça teatral – 1640 ou a Restauração de Portugal. dedicada ao rei D. Pedro V e estreada no dia de aniversário do rei-viúvo D. Fernando II. O Hino da Restauração era o tema que acompanhava a apoteose final de coroação de D. João IV. Criado em plena Monarquia, a letra deixava de poder ser cantada após a proclamação da República.  Porém, a grande popularidade do Hino, permitiu-lhe sobreviver ao repúdio que maioritariamente os símbolos monárquicos provocavam e a letra terá sido adaptada, tanto mais que foi o regime republicano que determinou que o dia 1º de Dezembro fosse feriado nacional. O hino foi amplamente utilizado pelo regime ditatorial que de Maio de 1926 a Abril de 1974 ocupou o poder. Eis algumas das alterações feitas à letra. A letra original dizia:

Lusitanos é chegado o dia da redenção. /Caem do pulso as algemas. /Ressurge livre a Nação.

Sendo substituída por:

Portugueses celebremos o dia da redenção/em que valentes guerreiros/nos deram livre a Nação.

 Onde se dizia: 

O Deus de Affonso, em Ourique/Dos livres nos deu a lei:/Nossos braços a sustentem,/Pela pátria, pelo rei

Passou a dizer-se:

A Fé dos Campos d’Ourique/Coragem deu, e Valor,/Aos famosos de quarenta,/Que lutaram com ardor.

 Foram também da letra original retiradas as referências à Casa de Bragança. Tudo isso é natural. Registe-se que o hino sobreviveu à febre antimonáqrquica e sobreviveu ao aproveitamento que o regime salazarista dele fez. Os portugueses, em geral, não conhecem a letra, mas sabem de cor a música. Veja-se com que entusiasmo o cantam em Elvas.

O governo Passos/Portas com a aprovação do Parlamento e o silêncio do Cavaco na altura Presidente da República, extingue um feriado que a I República criou, conservando feriados religiosos que só os crentes (talvez) saibam o que significam. Um feriado, que, símbologia monárquica aparte, possuem um alto significado patriótico. Mas as datas significativas para os patriotas, nada significam para quem tem outras fidelidades a respeitar. O Hino da Restauração entra na categoria das «canções de intervenção».





O FERIADO RECUPERADO

Mais do que um simples feriado o 1º de Dezembro tem uma simbologia marcante. Hoje não é contra Espanha, mas sim a memória da recuperação de uma identidade histórica, cultural e linguística que já tinha séculos de existência.

A diversidade peninsular é uma riqueza e seria ainda maior se a Catalunha, o País Basco e mesmo a Galiza tivessem  organização política num grau superior às actuais autonomias. A Ibéria que foi durante séculos objectivo de hegemonização castelhana (que ainda perdura nos nacionalistas reaccionários espanhóis), o qual causou inúmeras guerras e batalhas, deixando um lastro de destruição, violência e atraso.

Sem o 1º de Dezembro de 1640 estaria neste momento a escrever em castelhano e a nossa língua seria uma recordação histórica só estudada e conhecida por historiadores e linguistas interessados, e perdido um conjunto de sons e gestos com os quais comunicamos sem qualquer ganho para a humanidade.

Vem isto a propósito de um livro que leio nesta tarde chuvosa, de Thomas Piketty (alguns o consideram exageradamente o novo Marx), que se intitula "Podemos salvar a Europa?"

Livro para se ler devagar e pensar sobre o que se lê. A Europa e não só a UE atravessa uma crise que assusta, vemos como regressam e ganham espaço as ideias fascistas que dominaram parte da Europa no Secº XX, que provocaram guerras civis, duas guerras mundiais destruindo países, enchendo os cemitérios com dezenas de milhões de mortos e dezenas de milhões de refugiados vagueando sem futuro fora das suas zonas de origem.

- Qual a causa?

A principal do mal estar europeu é a economia ao serviço do lucro, da ganância impune, e não ao serviço das pessoas.

Durante a maior parte da minha vida, raiano como sou, ir a Espanha era um problema apesar dos regimes semelhantes dos dois lados da fronteira. Esta era mais do que um limite geográfico, era um muro muito mais forte e eficaz do que o muro do Trump. Era o muro do silêncio.

Não quero regressar a esses tempos, de nacionalismos excluindo os outros, de fronteiras físicas, políticas e culturais fechadas a cadeado. Quero a diversidade europeia que enriquece e na qual posso viajar com a mesma moeda, passando fronteiras respeitando quem lá está.

Temos é de combater as ideias do retorno às fronteiras, ensimesmadas em si mesmo, de nacionalismos violentos sem futuro no mundo que se globaliza ao toque dos interesses da exploração do trabalho. Sim, acredito que Podemos salvar a Europa.

MCoelho











Para terminar junto um artigo esclarecedor sobre o folhetim da Caixa Geral de Depósitos.



Ricardo Cabral



O pânico é mau conselheiro

1 de Dezembro de 2016

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Em matéria financeira e de banca a percepção importa mais do que os factos, para o bem e para o mal. Por essa razão, sobretudo após a apresentação, imperfeita e “às pinguinhas” do plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD) proposto por António Domingues, passou a ser facto assente que a CGD necessita de um muito significativo aumento de capital, que o Ministério das Finanças informa será de cerca de 5,2 mil milhões de euros.

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A CGD, de acordo com a informação disponível, cumpre os requisitos legais exigíveis mas, segundo a imprensa, terá falhado o teste de stress no cenário adverso em 2 mil milhões de euros. Mas vejamos.

Os rácios de capital da CGD estão confortavelmente acima dos rácios mínimos obrigatórios. O rácio de capital que se afigura mais importante, o rácio de alavancagem financeira, era de 5,7% no final de 2015, quase o dobro do valor mínimo recentemente proposto pela Autoridade Bancária Europeia (3%).

Em contraste, o Deutsche Bank e o Santander declaram possuir rácios de alavancagem financeira de 3,4% e 4,9% respectivamente. Acresce que a CGD, é um dos bancos nacionais que menos depende do financiamento do Eurosistema e possui uma posição de liquidez robusta.

O anterior Governo e o Banco de Portugal negociaram com a Comissão Europeia um acordo de recapitalização da CGD desastroso para a Caixa e para o País. Entre outras coisas obrigou à venda da posição na Caixa Seguros (que incluía a Fidelidade) e de participações consideradas não estratégicas pelo anterior Governo, como a Cimpor e a PT, com as consequências que são hoje conhecidas (desmantelamento da Cimpor e da PT, venda da Fidelidade à Fosun).

Além disso a “recapitalização” da banca, em 2012, foi insatisfatória porque realizada em larga medida através de empréstimos subordinados (os chamados “CoCos”). Em resultado, a CGD está obrigada a devolver 960 milhões de euros de CoCos ao Estado e essa é, no presente, uma das principais dificuldades enfrentadas pela CGD.

Finalmente, o principal desafio é o crédito em risco (12,3% do total) e o crédito vencido (7,2% do total). Mas, o primeiro está coberto por imparidades ou provisões a 63% e o segundo a 103%. Insuficiente, argumentarão alguns.

Mas, considere-se, por exemplo, o caso do Nord/LB, que é um dos maiores bancos públicos e um dos maiores bancos comerciais da Alemanha. É certo que o crédito vencido desse banco representa apenas 4,8% do crédito total (em comparação com os 7,2% da CGD), mas o crédito em risco representa 11,2% do crédito total (CGD 12,3%). E além disso as provisões do banco relativas à carteira de crédito são diminutas, se compararmos com a CGD: representam 17% do crédito em risco e 40% do crédito vencido.  O rácio de alavancagem financeira desse banco era de 4,3% no final de 2015. Muito abaixo, por conseguinte, do rácio de alavancagem da CGD.

Sendo assim, porque é que se está em pânico acerca da CGD e não acerca do Nord/LB? O medo é mau conselheiro. E as autoridades portuguesas competentes fariam bem em proceder com muita cautela e de modo muito seguro, à semelhança do que fazem a Alemanha e a Itália com os seus maiores bancos.

António Domingues e a sua equipa demitiram-se. O Governo pretende agarrar-se ao plano de António Domingues para a CGD e obrigar a futura administração a segui-lo à risca. Compreende-se que não queira pôr em causa o “pré-acordo” com Bruxelas. Mas faria bem em recomeçar de novo, não só em relação à administração da CGD, como também em relação ao plano de recapitalização e de reestruturação da CGD.