sexta-feira, 5 de setembro de 2014

NOTÍCIAS À ESQUERDA (7)

NOTÍCIAS À ESQUERDA



                                                                                 O PS vai acabar?
JOÃO CARDOSO ROSAS
Ontem 00:05
Tal como está formulada, a questão em epígrafe é com certeza excessiva. Mas pode e deve ser colocada face à actual situação do Partido Socialista. Ao longo dos últimos anos, o PS experimentou o mesmo tipo de dificuldades de outros partidos socialistas democráticos europeus.
Essas dificuldades pouco ou nada tiveram a ver com a liderança - o líder do PS sempre teve níveis de popularidade acima do seu partido - mas antes com o contexto nacional e europeu. Ao contrário do que alguns pensavam, a política de austeridade não teve como efeito a transferência do eleitorado para os partidos da esquerda. A Europa continua a ser maioritariamente governada pelos partidos da direita e as transferências de voto para a esquerda contemplaram partidos mais radicais ou inovadores e não os partidos tradicionais do centro-esquerda, como é o caso do PS.
Neste contexto, o PS português até resistiu melhor do que os seus congéneres europeus. Obteve uma vitória expressiva nas eleições autárquicas e voltou a ganhar as europeias, onde teve de enfrentar a concorrência de partidos como o MPT de Marinho Pinto ou o Livre. Para se ter uma ideia da relevância destes factos basta comparar com aquilo que se passou e continua a passar em Espanha, apesar da mudança de líder do PSOE. Este está reduzido a cerca de 22% das intenções de voto, em competição directa com um partido novo, o "Podemos". O Partido Popular, a direita responsável pela austeridade, continua a liderar destacado.
Apesar desta situação, a dinâmica interna de luta pelo poder no PS e de revanchismo por parte da ala socrática do partido impulsionaram o desafio à liderança por parte de António Costa. Quando o partido necessitava de se unir face à velha e nova concorrência política, desuniu-se como nunca e iniciou um processo de fractura que irá prolongar-se no tempo. O responsável directo por este facto é o próprio António Costa. A sua acção dividiu o partido internamente, mas também a opinião dos portugueses sobre o PS - que é cada vez de maior desconfiança e distanciamento.
A narrativa dos apoiantes de António Costa é de natureza salvífica. Ou seja, eles consideram que, uma vez afastado o líder desprezado e substituído pelo endeusado Costa, a maioria absoluta vai sorrir ao PS. Ora, eu creio que isso não acontecerá, precisamente porque a crise do PS não era essencialmente uma crise de liderança mas antes de contexto face às forças em presença em Portugal e na Europa.
Assim, talvez o PS não acabe de todo, mas não é de excluir que acabe enquanto principal ou única alternativa de governo à esquerda, face ao surgimento de outros partidos que contestem a sua supremacia ou pelo menos dificultem a sua liderança dessa parte do espectro político.
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 É um risco real, com consequências positivas para a direita e difíceis de prever para a esquerda no campo das alianças e convergências, sem excluir o aparecimento de novas forças.
MC

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