sábado, 23 de junho de 2018

ALERTA, OS FACHOS JÁ CHEGARAM AO PODER


Vivemos de novo tempos preocupantes. Nasci entre o final da Guerra Civil Espanhola e a II Guerra Mundial num país de regime fascista. Tenho memória e não esqueci esses tempos. Sei por experiência própria o que foi a ditadura portuguesa, vi as consequências trágicas que atingiram a Europa nos anos 40 e 50 do século passado e que em Portugal se prolongaram até ao 25 de Abril de 1974.
Assusta constatar que de novo temos fascistas no poder em vários países europeus e nos USA, e chegaram lá através do voto. Se não houver um sobressalto político, cívico e cultural contra este facto pagaremos todos mais tarde e duramente por termos facilitado pela silêncio ou indiferença o caminho. Os fascistas no poder não estão lá para fortalecer a Democracia mas para a assassinar.
Junto dois textos que tocam a sineta do alarme.
MC
Tarefas urgentes para antifascistas
Quando ainda era o tempo das crónicas a alertar para o regresso do fascismo nunca pensei que a versão atualizada do século XXI viesse a ser tão caricaturalmente parecida com o original.
20 de Junho de 2018 Rui Tavares

Acabaram-se as crónicas a alertar para a possibilidade de um regresso do fascismo: ele aí está, inconfundível e indesmentível. Quando o governo dos EUA separa crianças dos pais para as encerrar em campos de detenção. Quando o ministro do interior da Itália diz que vai fazer um censo para expulsar todos os ciganos estrangeiros e acrescenta que “infelizmente teremos de ficar com os ciganos italianos porque não os podemos expulsar”. Quando o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, faz um discurso dizendo que “nenhum compromisso europeu será possível em matéria de imigração e asilo” porque “a Hungria é contra a mistura” com povos estrangeiros. Quando tudo isto acontece, o regresso do fascismo já se deu. Sem eufemismos e sem pleonasmos.

Sim, é verdade que ainda não ocorreram as piores calamidades — mas alguém quer ficar sentado de braços cruzados a ver se é possível lá chegar? O facto é que a infra-estrutura legal, política, institucional e cultural que possibilita as piores tragédias já está montada.
Este não é o momento de esperar para ver. Este é o momento da solidariedade e da resistência. Este é o momento de os antifascistas procurarem entender quais são as suas tarefas prioritárias. Adiante estão aquelas que considero serem as minhas.
Em primeiro lugar: contra o fascismo eu tenho aliados na esquerda, no centro e na direita democráticas. Todos aqueles que forem a favor do Estado de direito e dos direitos fundamentais são meus amigos no contexto atual. Discordarei com eles sobre a austeridade, o politicamente correto, o progressismo e o conservadorismo e todas as coisas sobre as quais já discordávamos antes. Mas se eles e elas sentirem a mesma urgência em fazer, em primeiro lugar, barragem contra a barbárie, estamos juntos.
Em segundo lugar: é inadmissível justificar moralmente as atitudes que os fascistas do século XXI estão a tomar nos EUA e na Europa, nem branquear a responsabilidade moral que têm aqueles que os apoiam. Isto não impede que continuemos a discutir se as causas deste febrão estão na economia ou na cultura, na austeridade de que foram vítimas os pobres e a classe média ou no egoísmo desenfreado de muitos ricos. Estas discussões são interessantes, são até importantes, e continuaremos a tê-las. Mas é preciso traçar uma linha muito clara entre a compreensão do fenómeno e a sua justificação. Não me venham dizer para assumir como natural que uma vítima da austeridade ou um perdedor da globalização passe a ser racista e adepta de tiranetes — primeiro porque isso não é verdade, e em segundo lugar porque as tendências xenófobas e autoritárias se combatem com nada menos do que intransigência, venham de onde vierem.
Em terceiro lugar, esta é uma luta global a precisar de solidariedade global. Não me façam discursos sobre o respeito que os nacionais-populistas dizem ter pela soberania e pelo princípio da não-ingerência. Está na cara que eles estão organizados numa “Internacional Nacionalista”. Está na cara que Putin adora intrometer-se nas eleições dos outros. Esteve à vista de todos que Trump anteontem interferiu na política interna alemã para tentar ajudar à queda do governo e à ascensão dos nacionais-populistas germânicos. A resposta deve ser igualmente clara: onde houver um opositor democrático a Trump, Putin, Orbán e Salvini, eu estou com ele ou ela de todas as maneiras que encontrar.
Em quarto lugar, é preciso salvar a UE e a ONU. Alguns não concordarão comigo. Tanto pior — como eu disse, estas são as minhas prioridades e não serão as de todos. Pois para mim a ideia de que há algo de bom a ganhar com o colapso da UE ou da ONU — de que sair da UE pode servir para “fazer o socialismo” ou algo do género — é a mais perigosa das fantasias. Do colapso da UE ou da ONU só resultaria o mesmo vale de lágrimas que se seguiu ao colapso da Sociedade das Nações.
Em quinto lugar, é preciso cuidar do nosso jardim. No século XX, Portugal foi dos primeiros países a entrar na noite escura e dos últimos a sair. Se o pior vier a acontecer, há que lutar para garantir que desta vez Portugal seja, se tiver de o ser, uma ilha de democracia e progressismo. As condições que temos não são das piores. Tratemos de manter o consenso pelo estado de direito entre e a democracia pluralista que temos entre nós.
Quando ainda era o tempo das crónicas a alertar para o regresso do fascismo — escrevo sobre o que se está a passar na Hungria, por exemplo, desde o Verão de 2010 — nunca pensei que a versão atualizada do século XXI viesse a ser tão caricaturalmente parecida com o original. Se alguém então me revelasse que em 2018 estaríamos a assistir a qualquer dos eventos mencionados no primeiro parágrafo eu provavelmente responderia: calma, é possível que o fascismo volte, mas não com tanta desfaçatez e arrogância. Talvez não exatamente com campos de concentração, censos anti-ciganos e apelos à limpeza étnica. Pois bem, eis-me lamentavelmente a reconhecer: se errei, foi por defeito e não por excesso.
Historiador; fundador do Livre

José Pacheco Pereira
Do mesmo modo, o que se está a passar na Europa, em particular na Hungria, Itália e Áustria, e nalguns dos seus aliados menores, não pode ser aceitável pelo resto da Europa que ainda mantém pelo menos o lip service aos direitos humanos. A recente legislação da Hungria deveria implicar a expulsão da União e um movimento, em primeiro lugar, húngaro e, depois, europeu de desobediência cívica, indo lá ajudar os imigrantes.

Não tomem a sério o que se está a passar e, a prazo, a serpente sairá do ovo. Uma serpente moderna, que se sabe manobrar nas redes sociais, e mover-se na televisão, que encontrará primeiro numa franja de imbecis, e depois em gente que adora o poder e que será cada vez mais sofisticada no mal, uma corte de defensores, como já se percebe nos EUA Por cá ainda estamos na fase dos imbecis, mas há uma corte invisível que namora as mesmas ideias de poder e de exclusão, de frieza e de autoridade, em nome do que for preciso. Não, não há progresso na história. Ou a gente defende a fina película da civilização ou os brutos que adoram a força a partem por todo o lado.

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