terça-feira, 30 de novembro de 2010

NOTA CHARINGADA

Vivemos no domínio do absurdo, por um lado o sistema capitalista obcecado pelo lucro inferniza a vida de centenas de milhões de pessoas e, por outro lado, está a destruir de forma brutal a biodiversidade do planeta.
O lucro tudo comanda e subordina ao seu insaciável apetite: homem e natureza.
O clima anda cada vez mais instável e perigoso, quarenta por cento das florestas já desapareceram, o mesmo sucedeu a cinquenta por cento das zonas húmidas; nos últimos trinta anos diminuíram em trinta por cento as espécies vertebradas e estão em perigo de extinção um quarto das espécies vegetais.
Degrada-se a qualidade da água, contamina-se os solos e o ar, mas persiste-se no caminho, e qualquer dia não há PEC que valha a um planeta moribundo.
Em breve vai realizar-se mais uma cimeira sobre a biodiversidade, desta vez em Nagóia, no Japão. Esperemos que não seja mais uma frustração como foi a de Copenhaga.
Todos, a todos os níveis, somos responsáveis.
A propósito disto, embora possa não parecer evidente a relação, a recente aprovação pela Assembleia Municipal de vários projectos que até terão o apoio do PM Sócrates (o que não abona os projectos) é, no mínimo, preocupante.
A CM fica autorizada a integrar uma empresa de capitais privados na qual o privado terá 51% do capital. Fica claro quem manda e que interesses poderão vir prevalecer. É de derreter o coração a preocupação que os projectos serão concretizados “de forma a não privatizar toda a frente marítima”. Agradecemos.
Sabendo nós que o PDM já devia ter sido revisto há muitos anos e ainda não foi, em que estratégia democrática para o desenvolvimento do Concelho de VRSA se inserem estes projectos ad hoc? em que se prometem investimentos de centenas de milhões de euros e mais de um milhar de postos de trabalho directos e indirectos. Onde irá financiar-se uma câmara que consta endividada para participar nesta megalómana operação, ou os investimentos serão totalmente privados e a CM “oferece” o solo público?
E aqui voltamos à biodiversidade. Será que a Mata Nacional, o sapal e a zona húmida da Ponta da Areia levarão mais uma facada dos tais gulosos dos lucros, facada à altura da estranha torre que querem espetar à entrada da barra, com 25 (?) andares ou coisa parecida.
Não existindo em VRSA trabalho para garantir a permanência de pessoas, designadamente de jovens, que venham a ocupar as inúmeras habitações a construir previstas (e certamente nada baratas), será futuramente uma cidade cada vez mais de segunda habitação, isto se a crise que se prevê por longos anos o permitir.
(publicada recentemente no Jornal do Algarve) 

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