terça-feira, 19 de abril de 2011

MATAR A FOME COM DIETAS


As receitas aplicadas à Grécia e à Irlanda estão a matar os doentes, quer o diagnóstico quer a terapia estão errados. Estão piores nas suas saúdes económicas e financeiras, e não se vislumbra quando poderão sair dos cuidados intensivos e entrar em convalescença. Pior, querem aplicar mais PEC, mais reestruturações, mais cortes nos direitos sociais, mais privatizações etc., na tentativa de matar a fome à base de dietas.
A doença que nos atinge a todos tem várias causas, claro que a crise internacional tem alguma coisita de responsabilidade, as políticas da UE igualmente, mas o grosso das causas e dos efeitos são “nossos”, fruto da incompetência, irresponsabilidade, corrupção, desleixo e injustiça social.
Esta é a terceira vez que o tão temido FMI vem em “socorro” de Portugal, já cá esteve em 77 e em 83, agora regressa acompanhado da UE e, pasme-se, até com propostas mais sensatas que a UE.
Durante a última década Portugal foi um dos três países que menos cresceu no mundo, e durante décadas desbaratamos os dinheiros vindos da UE, foram muitos milhares de milhões de euros que se evaporaram sem resultados visíveis a nível produtivo, no desenvolvimento regional e na criação de riqueza.
A nossa indústria, agricultura e pescas foram asfixiadas.
Valeram, para tapar os buracos sempre crescentes do nosso défice comercial as remessas dos ignorados e desprezados emigrantes, contributo em divisas para aliviar o défice alimentar e energético.
Vivemos do aparato e da fachada, estão falidos o Estado, as autarquias, os bancos, as empresas e as famílias, tudo somado, o que se conhece, ultrapassa mais de duas vezes o nosso PIB.
Agora, passamos por mais esta vergonha de virem os de fora tentar pôr ordem na casa e ditar o que temos de fazer se queremos ser “ajudados”.
O inacreditável da questão é a pressão que se está a fazer para que sejam os mesmos incompetentes de sempre a juntarem-se a três num governo, espécie de “salvação nacional”, para aplicar a receita mortal.
Vai ser um lindo enterro. E não haverá apuramento de responsabilidades, e os que delapidaram o erário público irão descansados para casa com boas reformas sem serem criminalmente processados.
As eleições vão ser um referendo de submissão, podem gritar e acusarem-se mutuamente, mas tudo está já decidido. O mercado manda e a política transformou-se em mercadoria.
A partir do empréstimo toda a medida que tenha impacto orçamental terá de ser vista e obter o sim de Bruxelas. É uma evidência que Bruxelas e o FMI não acreditam nestes governantes e, por isso, semanalmente temos de os informar da liquidez, mensalmente de como vão as contas e trimestralmente do abate do défice, das contas das empresas públicas etc.
A massa só irá entrando trimestre a trimestre após se ter examinado se o governo cumpriu o estipulado para o trimestre anterior.
Durante três anos vai ser assim, e teremos de pagar os 80 mil milhões de euros até 2021 (53 da UE e 27 do FMI), caso consigamos pagar, e é de esperar que apareçam pelo caminho novos planos para reestruturar a dívida, isto é, mais aperto do cinto, mais recessão e mais desemprego.
Nota final para aqueles que defendem a saída de Portugal da Zona Euro.
O Tratado de Lisboa explica muito bem quais as condições para um país poder entrar e sair da UE, o mesmo para entrar na Zona Euro, mas é omisso em relação à forma de se poder sair da Zona Euro.
Dado que não existe base jurídica para ser invocada em relação à saída da Zona Euro, e a não ser alterado o Tratado visando a resolução dessa omissão, sair do Euro vai colocar a questão de se sair também da UE.
Estamos totalmente entalados, há saídas, mas essas são totalmente escondidas pois ajudariam o povo e o país, mas estragariam os negócios e os partidos do “arco do poder” não podem desobedecer aos mercados.


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