terça-feira, 10 de maio de 2011

A chamada troika (UE/BCE/FMI), apresentou um documento que é um programa de governo para os próximos três anos, detalhado, abarcando todos os sectores da governação, estipulando as medidas a tomar, o prazo, e a fiscalização trimestral da aplicação das mesmas pela troika. O seu incumprimento pode levar ao interrompimento da "ajuda" financeira à economia com as consequências nefastas que se imaginam.
Os partidos que assinaram o documento e com ele se comprometeram, PS/PSD/CDS, podem discutir o que quiserem e apresentarem programas eleitorais, mas quando chegarem ao poder só lhes resta aplicar o programa da troika, com juizinho, espinha curvada e chapéu na mão.
Os que se negaram a falar com a troika, PCP/BE, podem igualmente barafustar, denunciar com razão a gravidade de tal programa, a ingerência externa na nossa economia, mas ficaram excluídos por opção própria do voto dos portugueses como as sondagens demonstram. Quando se vota num partido por haver consonância de ideias ou das propostas, esperamos que tenha a frontalidade de as defenderem em todas as circunstâncias. E neste caso não houve a coragem de ir à troika e dizer bem alto, olhos nos olhos, que tal programa não servia e que havia propostas diferentes e melhores para Portugal e os portugueses.
O que vai mudar, pergunta-se, com preocupação. Sem pretendermos ser exaustivos listamos:
- aumentos no tabaco, nos automóveis, na energia, no gás, nos impostos (IVA,IMI etc.), nos transportes;
- cortes nos salários e vencimentos da Função Pública (e por arrasto no sector privado), horas extraordinárias mais baratas e bancos de horas negociados directamente com os trabalhadores passando sobre os sindicatos, despedimentos individuais por justa causa com alteração para pior da "justa causa", despedimento de 8.000 funcionários públicos ano e redução do pessoal das autarquias, diminuem os descontos patronais para a segurança social, subsídio de desemprego passa a 18 meses e passa a contar no IRS;
- cortes com a despesa na saúde de 550 milhões de euros, aumento das taxas moderadoras, pensões superiores a 1.500 euros sofrem reduções assim como os apoios na saúde e segurança social e na ADSE, aumento do custo dos medicamentos;
- obrigação de privatizar empresas estatais como a TAP, EDP, REN, dando-as a preços de saldo ao capital privado dado o momento pouco favorável à sua venda, fim das "Golden shares" do Estado até Julho, cortes na Transtejo e no Metro de Lisboa, venda do BPN até Julho, venda da actividade seguradora da CGD, dos seus interesses internacionais assim como das participações da CGD em empresas nacionais;
- diminuição do número de câmaras e freguesias e das empresas municipais;
- aumento da concorrência em sectores importantes como as telecomunicações e outros;
- reforma do mercado de arrendamento, sua liberalização, aumento do IMI, maior dificuldade em obter crédito para compra de casa e a juros mais altos;
- travão no investimento público e nas parcerias, as PPP´s etc. etc. etc. etc. etc.
Ao contrário aumenta o já forte apoio à Banca que vai absorver 12 mil milhões de euros dos 78 mil milhões do empréstimo a juros superiores a 5,5%, pagos elos contribuintes. A Portugal humilhado e pedinte a UE e o BCE emprestam a 5,5% ou mais, à Banca o BCE emprestou a 1% que depois a agiotagem emprestava ao estado a juros muito superiores. Significativo que só hoje, 10 de Maio, após os três partidos terem assinado a submissão é que nos revelaram os juros do empréstimo. Ou o governo não sabia ou se "esqueceram" de perguntar, o que demonstra a irresponsabilidade e incompetência dos personagens.
Este pacote é recessivo, aperta a garganta e não deixa a economia crescer, elimina todos os obstáculos ao privado e enfraquece o Estado, deixando os portugueses mais desprotegidos na saúde, no trabalho, no ensino e na pobreza, é um recuo civilizacional e desumano, as pessoas não contam, só o mercado e a economia ao serviço do lucro a qualquer preço. O homem transformou-se em mercadoria e zelosamente os partidos do "arco do poder" vão aplicar este castigo aos portugueses, e sabem o que estão a fazer. Não têm perdão.

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