domingo, 9 de outubro de 2011

LIMPAR A PORCARIA RELANÇANDO A ECONOMIA

O Jornal do Algarve desta semana traz uma reportagem intitulada “Olhão cidade dos grafíti”.
Há gostos para tudo, mas a partir das macacadas que vemos nas paredes filosofar sobre elas para considerar que Miguel Ângelo (e o seu trabalho na Capela Sistina), é um precursor dos “graffiteiros” é uma tese mais que ousada.
Estender tais filosofias aos frescos de Pompeia e, pasme-se, às gravuras das grutas de Altamira dado que “este impulso de alguns seres humanos tentarem perpetuar expressões artísticas em rocha ou em murais, vem de longa data”.
Isto é uma ofensa aos trogloditas, pois considera-se que as coisas horrorosas que borram as paredes são “expressões artísticas” que os vândalos que as fazem pretendem “perpetuar”.
Considera-se na tal reportagem que estas “obras”  “valoriza a paisagem urbana”.
Tenta-se estabelecer uma diferença entre “grafitteiros” e “pichadores”, estes sim “sujadores” de paredes, e nega-se que os estranhos arabescos omnipresentes por todo o lado sejam “um convite à violência e à arruaça”. Mais, até “conquistaram o estatuto de Pop Arte”.
O que tem a ver o que se vê por este país fora com, por exemplo, esta pintura da foto acima numa parede de Bruxelas?
Filosofia por filosofia aqui vai a minha politicamente incorrecta.
Nós os portugueses temos de reconhecer que o nosso civismo no espaço público é fraco ou inexistente, não é agradável dizer isto, mas é a verdade.
Hoje sejam “grafitteiros” ou “pichadores” nada deixam sem a sua assinatura. Ainda se fossem coisas com alguma beleza e sentido, mas o que se vê é vandalismo do mais puro e demonstrativo que dentro daquelas cabeças há um perigoso vazio cultural. O país vem sendo desfigurado de forma organizada e persistente há décadas, sem que ninguém levante a voz, seja o PR, os governos, os partidos por cobardia de perderem votos, as escolas, a imprensa etc.
As mais horríveis “pichagens” invadem paredes de casas novas e velhas, muros e muretes, vedações, tabiques, placas de toda a espécie, sinais de trânsito, pontes, viadutos, caixas de electricidade, bocas-de-incêndio, escolas e universidades, bancos de jardim, escadarias, comboios, estações ferroviárias e viárias, salas de espera, lojas e mercados, edifícios do estado e municipais, estádios, palácios e pardieiros e, mais grave ainda, não se respeita monumentos nacionais por mais significativos que sejam para a nossa memória e vida colectiva.
Não se consegue olhar para qualquer lado sem que uma dessas demonstrações de pobreza cívica nos entre pelos olhos, elas estão tanto na periferia como no centro das urbes.
Num país que ética e moralmente bateu no fundo aumenta a sensação de desconforto ver que fisicamente também está abandalhado. É triste viver em Portugal.
Quantos milhares de horas gastaram estes “artistas” a destruir a imagem do país? Quantos milhões de euros foram gastos em tintas, pincéis, “sprays”, rolos etc. ?
É agora usual dizer que uma crise também é uma oportunidade para se melhorar. Então tem o governo a possibilidade de lançar um programa nacional para a recuperação da imagem do país, limpar a cara, alindar as vilas e cidades, plantar árvores, florir ruas e praças, remover o lixo acumulado, promover a cidadania, e a par disso relançar a economia.
Utópico? Talvez! Caso ousassem seria uma iniciativa inédita, barata, criadora de trabalho, um choque cultural e social benéfico, um tónico moral para a nossa auto-estima.

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