terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS PLATIBANDAS

Há anos escrevi no Jornal do Algarve uma nota sobre as platibandas. Ao reler o texto resolvi recuperar a nota para o blogue sem alterar nada. Acho que o assunto não  perdeu interesse. Aqui vai!


NOTA CHARINGADA

A  PLATIBANDA

Neste Reino dos Algarves que nunca existiu verificamos o apetite cada vez maior pela compra de casas velhas e casas antigas ainda em bom estado de conservação que são de imediato abatidas para construção de novas casas .
O fenómeno em si não seria mau se a fúria de abater o velho fosse para ressuscitar,valorizando,o que a arquitectura popular algarvia nos legou de mais específico e diferenciado de outras regiões do país,como por exemplo as platibandas.
Esta questão daria um interessante debate sobre qual o conceito de Património que se tem,qual a consciência do valor desse património e da sua plasticidade,da sua beleza decorativa etc...Tal debate não é o propósito desta nota charingada,não somos especialistas na matéria mas simples curiosos e amantes das nossas coisas.
O que não deixa de nos chocar é a forma como este património está a ser delapidado no meio da maior indiferença e como o que é nosso e específico e que poderia constituir,ainda por cima numa região que se quer turística,um valor acrescentado na paisagem urbana algarvia,um motivo de forte interesse cultural e turístico.
As casas abatidas dão lugar a construções iguais ou semelhantes às que vemos por outras bandas,tornando cada vez mais parecidas as cidades e vilas por esse Portugal fora.Não existe a preocupação de integrar elementos locais na decoração das novas construções,cuidado que verificamos em várias regiões da Europa nas quais existem características da arquitectura popular e local.
A recuperação de casas ronda os 40 % na maioria dos países da União Europeia e em Portugal por cada 100 novas casas  a recuperação de casas velhas ou antigas não chega aos 7 %.Estes dados só por si mereciam ser meditados.A fraca cultura leva ao desprezo pelo passado e a endeusar o “moderno”.As consequências estão à vista.
A platibanda da casa algarvia surgiu nos fins do séc. XIX e primeiras décadas do séc. XX,corresponde a um período de maior desafogo económico e é um fenómeno mais acentuado no Sotavento que no Barlavento.É o remate da casa,o elemento decorativo que a personaliza,escondendo o telhado e a açoteia,que anima o branco da cal e, em geral,de harmonia com a cor da barra de rodapé (azul cobalto,ocre e,menos frequente ,os amarelos e verdes,tornando-se excepção outras cores).
Uma questão curiosa são os motivos que decoram as platibandas,de onde vieram?,qual a razão de serem estes e não outros?Não conhecemos nenhum estudo sobre o assunto e ignoramos se algo já se publicou relativo a tal respeito.
O que nos espanta e interroga é não vermos este elemento decorativo tão nosso integrado nas novas construções da devastação urbanística em curso.
Quando queremos comprar um postal do Algarve lá encontramos as nossas casas típicas, ou quando folheamos estudos ou livros sobre a região.É de temer que um dia só nos restem os postais.
O que é fácil de constatar se observarmos os turistas,quer nacionais quer estrangeiros,é que estes jamais filmam ou tiram fotografias aos tais edifícios modernaços que medram que nem papoilas em seara.Disso também eles têm lá por onde vivem.


Martins Coelho

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