terça-feira, 9 de agosto de 2011

A MATA AMEAÇADA DE EXTINÇÃO

A crise que estamos a atravessar e que resultou da irresponsabilidade dos governos que deixaram os mercados à solta, propositadamente, permitindo a especulação financeira e os lucros fabulosos à custa das dívidas dos Estados, das famílias e dos cidadãos, está agora a ser usada não para corrigir os crimes cometidos mas para pressionar os povos a aceitar a privatização da saúde, da água, da energia, por exemplo, ou salários menores, mais horas de trabalho, menos segurança social etc.
Nas câmaras municipais a ofensiva é a mesma, a outro nível, mas o objectivo é retirar à população parte do seu património para o passar para a especulação privada.
Podem negar mas factos são factos.
O argumento é o mesmo, a crise, a dívida das câmaras e a necessidade de fazer dinheiro para fazer obra. Não explicam qual a razão das dívidas, e como o dinheiro das câmaras veio beneficiar o compadrio político, familiar, dos amigalhaços etc., tudo se cala e consente na destruição do património e na hipoteca do futuro.
Esta introdução vem a propósito de várias propostas apresentadas pela Câmara de VRSA, as quais, quando são lidas com um pouco mais de atenção, não deixam dúvidas, no nosso entender, sobre o seu principal objectivo: acabar com a Mata Nacional das Dunas.
Estão sobre a mesa três propostas para se construírem estradas entre Monte Gordo e VRSA. Há assim tanto trânsito que justifique mais estradas? São frequentes diariamente os engarrafamentos para entrar ou sair de VRSA pelas várias vias existentes?
E tais estradas são propostas construir onde? Duas das propostas visam construir entre a rotunda de Monte Gordo e o Lidl, uma rente à Mata e a outra proposta entrando deliberadamente pela Mata até ao Lidl, ambas paralelas à 125 e à estrada municipal que vai do Guadiana até ao Parque de Campismo. Serão vários hectares de mata destruídos com todas as implicações negativas decorrentes.
Construída qualquer uma das propostas quem vai impedir que a construção de vivendas, ou hotéis proliferem pela mata como cogumelos? Quem aproveita do crime?
Empreiteiros, certamente, e quem fica prejudicado é o concelho e a sua população.
A terceira proposta é a de se construir uma estrada entre a rotunda de Monte Gordo, junto ao apeadeiro do comboio, ultrapassando a linha e correndo a norte da linha do comboio e paralela a esta até acabar na Barquinha. Mais uma vez em áreas apetitosas para a especulação imobiliária e junto a áreas de reserva natural.
A CCDR e a Reserva do Sapal manifestaram oposição e reservas, mas os interesses são grandes e as propostas continuam aí.
Outra proposta é um plano de pormenor que visa o actual parque de campismo, sobre o qual já fiz uma crítica publicada aqui há dias. Mas temos a acrescentar um elemento importante. Na retaguarda do actual parque, voltado para a Mata que fica entre este e a 125, está projectado a construção de prédios de sete andares, mantidos no projecto apesar da posição negativa da Reserva do Sapal. Isto quer dizer que caso sejam construídos a lei determina que sejam afastados dos prédios, até uma distância de 100 metros, os pinheiros e retamas da mata, por precaução contra fogos.
Os factos são evidentes, e não são agora aqui referidos outros projectos que, a concretizar-se, deitarão abaixo mais uns hectares da Mata. Só descansarão quando restarem as fotografias e alguns pinheiros para recordação.
Para além da sua vegetação que, designadamente a Retama, que é “um dos locais mais importantes a nível nacional para a preservação deste habitat”, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade, a Mata abriga 10 espécies de anfíbios, 14 de répteis, 87 de aves e 11 de mamíferos.
Como sabemos, estes répteis e mamíferos são menos perigosos para o ambiente que alguns bípedes que por aí andam.


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