quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O PARAÍSO SUIÇO

Na verdade é um belo país. Tudo limpo e bem tratado, florido, respeita-se o ambiente, não se vê os graffitis como em VRSA, abandalhando prédios, escolas, estátuas, papeleiras, recipientes do lixo etc., não se cospe no chão nem se leva o cão a fazer necessidades à porta da casa do vizinho.
Mas a Suíça é uma flor sobre uma estrumeira, tal como o Luxemburgo ou o Liechtenstein, ou a Madeira, paraísos fiscais dentro da Europa, onde o dinheiro mais sujo do mundo proveniente da fuga aos impostos, do tráfego da droga, das armas, de seres humanos ou de órgãos humanos pode ser colocado pacatamente sem perguntas embaraçadoras.
Qualquer ditador pode lá colocar o dinheiro roubado ao seu povo sem problemas.
A Suíça (e os outros referidos), países cultos e civilizados, dormem de consciência tranquila sobre colchões de violência e miséria. A sua opulência e prosperidade alimenta-se da fome e do atraso de outros.
Tudo isto é sabido e conhecido, mais, é consentido e protegido. Este meu magoado e indignado desabafo foi provocado por uma posição pública do novo Secretário do PS, o Seguro.
Disse, e bem, que o Passos, nesta sua viagem pela UE deveria defender o fim dos off-shores e que a UE "de uma vez por todas possa taxar os movimentos financeiros como foi proposto recentemente".
É pena que só se digam estas coisas publicamente quando se está na oposição, e quando se chega ao poder ficam sepultadas sob uma forte amnésia. Como dizia o samba antigo, "não há sinceridade nisto".
No final de 2007 o cálculo de euros de cidadãos europeus depositados na Suíça era de 700 mil milhões.
Agora serão muito mais. Dinheiro fugido ao fisco e retirado da circulação dos países da UE, coisa que o cidadão que recebe o seu salário ou a sua pensão não pode fazer, e paga impostos desse pouco que recebe.
Claro que um trabalhador não pode dizer ao fisco que mora na Holanda e por isso não deve pagar nada cá, tal como a banca e algumas das grandes empresas privadas portuguesas fazem. O rendimento sobre o trabalho paga 46,5% de taxa, o rendimento do capital paga no máximo só 21,5% quando paga.
O último estudo conhecido sobre a política fiscal vem, de novo, com o argumento hipócrita de que "a tributação sobre as grandes fortunas teria um efeito imediato de fuga em capitais e bens imóveis". É de pasmar, então qual a razão, dado que não existe tributação sobre as grandes fortunas em Portugal, da fuga para os off-shores, anualmente, de milhares de milhões de euros?
A verdade é que não taxam o capital porque não querem, é de propósito, arranjam sempre falsos argumentos para continuarem a esmifrar a arraia miúda e beneficiar a "nobreza" do capital, e o resto são cantigas como diz o povo.
O próprio "estudo" reconhece que os paraísos fiscais são formas de fazer desaparecer riqueza dos estados e "põem em risco a segurança do sistema financeiro e a própria segurança dos Estados e da Humanidade".
Afinal sabem, como se vê, então qual a razão da sua continuidade?
Mas que raio de coisa esta de chamar "paraíso" à merda mais mal cheirosa produzida pela humanidade.
É esclarecedor.

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