quarta-feira, 6 de julho de 2011

RECORDAÇÕES DE TEMPOS SEM SAUDADES

BAMUTIM TANGO

espalhados nas camas de lona, duras,
os soldados dormem ou pensam.
lembram humanas caricaturas.
na tosca mesa, debruçados
sobre sebentas cartas,
jogam quatro com gestos cansados.
os que dormem - em poses abandonadas,
rostos macerados, olheiras profundas
por nocturnas vigílias prolongadas,
acordarão partidos, alquebrados.
a noite é mais doída, mais profunda,
e como é amarga a saudade
dos soldados de Bamutim ou Varacunda!
a sentinela vacila, errando passos ao luar,
olhar atento, pensamento longe, perdido!
para ele esta paisagem não é bela
e o que faz não tem sentido!
no escuro, isolados,
os outros dormem desassossegados,
ou voltam-se inquietos, mordidos
por percevejos, mosquitos e sentimentos.
de manhã, vão, de pé,
numa viatura,
aos solavancos,
beber um esquálido café!

Remexendo em velhos papéis encontro, 50 anos depois, este esquecido poema, feito em Damão, Estado Português da Índia, 1961,quando comandava o posto fronteiriço de Bamutim, pouco antes da "invasão" indiana.

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